EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

O AMANHECER DO EVANGELHO

REFLEXOES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

XXV- Domingo do Tempo Comum -ANO C

USAR BEM DO DINHEIRO

Jesus contou uma parábola que tem dado muito que fazer aos comentadores. Falou de um homem rico, que tinha um administrador sobre o qual choveram acusações de estar malbaratando a fortuna do patrão.

Este teve que despedi-lo. Mas, antes de deixar o emprego, o administrador teve de prestar contas de sua gestão.

Assustado com a vida que o esperaria lá fora, desprevenido como estava para outro tipo de trabalho, tratou de fazer amigos para o dia de amanhã. E se serviu de um caminho bem duvidoso. Chamou um a um os que tinham dívidas com seu patrão e lhes reduziu as contas. A quem devia cem barris de óleo mandou que escrevesse cinquenta.

A quem devia cem medidas de trigo mandou que mudasse para oitenta. O patrão soube disso e, com espírito compreensivo, comentou: Esperto este meu administrador! Soube conquistar amigos! ( cfr. Lc 16, 8).

E Jesus comentou que os filhos deste século, em relação aos seus semelhantes, são mais hábeis que os filhos da luz. E concluiu: “Fazei amigos com o dinheiro da iniquidade, para que, no dia em que ele faltar, vos recebam nas mansões eternas” (Ibid., v 9).

Evidentemente, Jesus não está convidando a imitar a desonestidade do administrador, mas a sua habilidade e previdência. Como ele foi hábil nos seus negócios, devemos ser ” hábeis sem usar o dinheiro para um bom uso, que amanhã nos traga proveito na vida eterna: a prática da justiça e da caridade.

Mas, assim mesmo, fica no fundo uma espécie de mal estar na aplicação da parábola. O que levou a procurar algum esclarecimento histórico que permitisse uma interpretação mais tranquilizadora.

E, assim, algum comentador descobriu que havia na Palestina daquele tempo um costume legitimado pelo uso, que autorizava os administradores a concederem empréstimos com os bens de seu senhor. E, como não eram remunerados, aumentavam no documento da dívida uma porcentagem em seu favor. Na hora do pagamento, ficavam com essa parte acrescentada, e passavam o saldo para a conta do patrão. O que o administrador da parábola teria feito seria isso. Não estaria prejudicando a seu patrão, mas estaria renunciando à parte de lucro que lhe cabia. Pelo menos nisso, ele não estava sendo desonesto (cfr BíBLIA DE JERUSALÉM, comentário a esta passagem).

Parece que a grande lição que nos deve ficar é a de fazer bom uso do dinheiro em vista da eternidade. Principalmente na prática da caridade em favor dos necessitados.

Como alguém já disse, os pobres precisam dos ricos, e os ricos precisam dos pobres. Não haveria prosperidade da empresa, se não fosse o trabalho humilde dos operários. E não haveria o pão para a mesa do operário, se não fosse o salário que o empresário lhe paga. Mas, principalmente num aspecto mais nobre, não haveria sustento para o pobre -e para todas as obras de beneficência – se não fossem os donativos dos ricos. E não haveria salvação para os ricos, se não tivessem em seu favor o “Deus lhe pague” dos pobres a quem tiverem ajudado.

São Lucas completa a perícope com duas luminosas lições de Jesus. A primeira diz que quem não for fiel nas coisas pequenas, não será tampouco fiel nas grandes.

Portanto, quem for fiel no uso das riquezas terrenas -o Evangelho as chama de “dinheiro da iniquidade”, porque sua origem quase sempre envolve alguma injustiça -não merecerá que lhe confiem a abundância dos bens espirituais. E é óbvio que o bom uso dessas riquezas terrenas; na visão do Evangelho, inclui não só a justiça e a caridade, mas também o desapego sempre inculcado por Jesus a começar pela primeira das bem-aventuranças.

A segunda lição é que “ninguém pode servira dois senhores” e que “não se pode servir a Deus e ao dinheiro” (Ibid. , v 13). E, na verdade, quantos servidores do dinheiro há por aí! Acabam voltando as costas para Deus, o único Senhor a quem devemos servir. E que não faz de nós escravos, mas filhos. Servir a Ele é reinar.

LEITURAS do xxv Domingo do Tempo Comum -Ano C:
1a) Am 8, 4-7
2a) 1Tm 2, 1-8
3a) Lc 16, 1-13