EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

O AMANHECER DO EVANGELHO

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM -ANO C

PARÁBOLA DO POBRE E DO RICO

É uma parábola pintada com cores muito vivas. O rico que se veste de púrpura e de linho, e que se banqueteava lautamente todos os dias ( o “epulão”). O pobre, postado à sua porta, coberto de feridas, esperando que alguém lhe desse alguma sobra da mesa do rico, e ninguém lhe dava. Até os cães vinham lamber -lhe as feridas. Depois o quadro muda.

Na outra vida, o pobre entra para a intimidade do seio de Abraão, enquanto o rico é entregue aos tormentos do inferno.

Naturalmente, porque tinha feito mau uso de suas riquezas, enquanto o pobre, na sua pobreza não tinha perdido a confiança em Deus. Seu próprio nome “Lázaro”, ou “Ele azar” significa “Deus ajuda”.

Até aqui a parábola é uma lição para que os ricos não façam mau uso de suas riquezas, e para que os pobres olhem sempre para as mãos de Deus, que não os desampara. Mas seria antievangélico imaginar que Jesus esteja ensinando aos pobres uma resignação fatalista. O pobre tem todo o direito de procurar melhorar sua sorte pelo trabalho honesto e confiante. E não permitir que sua pobreza atinja as raias da miséria, que jamais foi abençoada pelo Evangelho.

Mas a parábola tem uma segunda parte profundamente instrutiva. O rico avista o pobre no seio de Abraão, enquanto ele está sofrendo nas chamas. Então pede a Abraão que mande Lázaro molhar na água a ponta de seus dedos e vir refrescar-lhe a língua. Mas Abraão lhe responde que tal coisa é impossível, pois entre os dois mundos há um abismo intransponível.

Que mande então – pede-Ihe o rico – Lázaro avisar seus cinco irmãos, contando-lhes sua desgraça, para que fiquem prevenidos e não venham a cair no mesmo lugar. A resposta de Abraão é que eles têm Moisés e os profetas. Que os ouçam. E, quando o rico replicou que, se alguém dentre os mortos fosse até eles, certamente fariam penitência, Abraão respondeu que, se não ouviam Moisés e os profetas, mesmo que um morto ressuscitasse para avisá- los, não ficariam convencidos (cfr Lc 16, 19-31 ).

A grande lição está aí: ouvir a Palavra de Deus, que nos fala por seus profetas. Não só Moisés e os antigos profetas. Mas o Evangelho e o perene ensinamento da Igreja, que é uma ressonância do Evangelho ao longo dos séculos. “Quem vos ouve, a mim ouve; quem vos despreza, despreza aquele que me enviou”, como disse Jesus ao enviar seus discípulos para a pregação (Lc 10,16; cfr Mc 8,11 ). Não ficar esperando milagres, que não é o caminho de Deus.

Mas vale a pena deter-nos um momento a considerar a declaração de que há um “abismo intransponível” na outra vida entre a sorte do rico e a do pobre da parábola. No mundo de hoje está havendo também um profundo abismo entre o mundo dos pobres e o mundo dos ricos. É uma brecha que se alarga cada vez mais. Entre um pequeno grupo imensamente rico, e uma imensa multidão que vive em total pobreza. Um desequilíbrio doloroso que não está nos planos de Deus e que é a negação do Evangelho, onde se prega o amor e a fraternidade. E o pior é que a brecha continua a se alargar: o pequeno grupo rico se torna cada vez mais rico, e a multidão dos pobres se torna cada vez mais pobre. E o contraste se torna cada dia mais gritante. E não há leis nem sistemas econômicos que sejam capazes de corrigi-lo. Só mesmo o Evangelho, conhecido, amado, vivido integralmente, é que poderá trazer remédio a tão grande mal.

A riqueza em si não é um pecado. O pecado está muitas vezes no modo de adquiri-Ia e, freqüentemente, no modo de usá- Ia, como quando ela se torna instrumento de vaidade, de ostentação, de exploração dos outros. Alguém usou uma comparação muito apropriada.

O dinheiro é como um fertilizante: acumulado não traz nenhum proveito; pelo contrário, torna-se prejudicial e agressivo. Espalhado no solo, é extremamente benéfico. Fertiliza a terra e cobre-a de frutos. Que o homem nunca se torne servo do dinheiro; mas saiba fazer dele sempre um servo obediente e prestimoso, fonte de paz e harmonia.

LEITURAS do XXVI Domingo do Tempo Comum -Ano C:
1a) Am 6, 1a. 4-7
2a) 1Tm 6, 11-16
3a) Lc 16,19-31