EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

O AMANHECER DO EVANGELHO

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

SÁBADO DA 31 STC

“A VIDA NÃO NOS É TIRADA, MAS SIM TRANSFORMADA”

Na natureza tudo nasce, cresce, espalha sementes e morre, para depois recomeçar o ciclo da vida.
Folhas secas caem pelo chão, para dar lugar à nova folhagem que surge com a primavera. Velhas árvores secam-se e caem, depois de terem espalhado muitas sementes pelo vento. O rio chega ao mar, muitas vezes, todo contaminado pela nossa poluição, mas lá nos grotões das serras as águas cristalinas continuam a borbulhar nas nascentes alimentam.

Talvez alguns desejariam nunca morrer e nem ver morrer aqueles a quem amam tanto… como seria um mundo sem morte, onde todos vivessem para sempre? Nossa fé na ressurreição nos faz acolher este sentido da morte: uma etapa se fecha e uma nova se abre no grande processo da vida. Com a fé, nosso desejo de viver eternamente se torna certeza de que “a vida não nos é tirada, mas transformada”.

Contemplando a natureza podemos captar o sentido profundo – e por isso bonito – da morte, que marca nossas vidas. Como são Francisco de Assis, podemos, então, até louvar o Senhor pela “irmã morte”, que nos vem tomar pela mão no momento da “grande passagem”.

É claro que a morte tem, muitas vezes, uma face assustadora, aterrorizante e dolorosa. A morte de quem viveu longos anos, viu sua família crescer e se multiplicar e pôde experimentar muitas coisas que dão gosto à existência não nos causa tanto impacto.

Também é mais fácil aceitar a morte daqueles que estavam sofrendo demais por causa de uma doença. Mas o que dizer daquela morte prematura, repentina, de pessoas que ainda tinham todo o futuro pela frente? O que dizer das vítimas da violência da guerra, do trânsito, da miséria? São como árvores que antes de darem fruto já foram cortadas e suas raízes arrancadas…

Nossa fé no faz afirmar que, como na natureza tudo o que cai na terra acaba se transformando em húmus que fertiliza o chão e possibilita a continuidade do ciclo da vida, assim essas vidas que para nós foram “aceifadas antes da hora” são acolhidas no chão de Deus e Ele quem as transforma, dando continuidade ao grande processo da vida.
Assim, amados irmãos irmãs, quero renovar em seus corações esta esperança, para que a recordação da realidade da morte nesse dia não os entristeça a ponto de obscurecer esta outra realidade tão importante: “é morrendo que se vive para a vida eterna”.
Que o Senhor acolha a todos os falecidos no “chão” do seu Reino de vida em abundância.

 

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

O AMANHECER DO EVALHO

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

XXXI SÁBADO DO TEMPO COMUM

O VAZIO QUE DEIXAM SE PREENCHE COM A FÉ

Nesses dias, celebramos Todos os Santos e Todos os fiéis defuntos, que são duas notas de um mesmo acorde: uma chamada à eternidade. Para os primeiros, que já participam plenamente da Páscoa do Senhor, e, para os segundos, que ainda guardamos em nossa memória ou ninguém mais lembra deles, a Igreja reza e lhes oferece esse dia de meditação, de oração, eucaristia e reflexão.

Todos os mortos devem nos comover profundamente. Sua ausência continua sendo para nós um enigma. Umas vezes é lei de vida e outras algo inesperado. Mas, além de tudo isso, é bom pensar que, os que nos têm precedido, levaram todo o poder do amor de Deus, que um dia os ressuscitará do silêncio da morte, que agora os domina.

A vida é como uma partida de futebol. Tem dois tempos bem distintos. No primeiro deles, o homem se sente protagonista total. Parece que tudo é definitivo. Como se os nossos dias não tivessem fim. Como se o homem fosse dono absoluto de tudo e em tudo.

Amamos, odiamos, crescemos, trabalhamos, sofremos, formamos uma família, nos realizamos, viajamos. É o tempo de decolar. De aproveitar o máximo no campo de jogo.
No segundo tempo de nossa existência, descobrimos que a morte nos dá um passe errado.

Ilusões e projetos, altos e baixos, economias e ideais acabam e são de repente julgados injustamente por esse grande juiz vestido de preto que é a morte. Então, também, bebemos o cálice amargo de nossa fraqueza. Nem a ciência pode ser resposta definitiva para tudo, nem dominamos os destinos de nossos dias como pensávamos.
É, neste último tempo, que assistimos da arquibancada de nossa felicidade a despedida de nossos entes queridos. É, nesse momento, que aprendemos também por conta própria a julgar com a arte e a fé, a esperança e a caridade, os valores e a ética, que nossos entes queridos nos deixaram.

Entre eles, o mais importante, o próprio Deus.
Deus, mesmo quando tudo parece perdido, nos diz que a partida não acabou. Que há uma prorrogação na eternidade. Que a morte não decidiu contra nós o Jogo com a vida. Que existe um terceiro tempo ao qual todos nós podemos chegar, se não perdemos pelo caminho a confiança, a fé e o imenso amor de Deus que Jesus trouxe até nós.
Nesse terceiro tempo é onde, hoje, situamos os nossos mortos. Onde os deixamos e onde sonhamos revê-los. Onde viveremos um dia em companhia daqueles que tanto significaram para nós e que a morte, injusta ou justamente, os tem arrebatado de nós.

Não é consolador viver esse dia com essa perspectiva? Mais importante que o Juiz da morte, é o Dono do campo de jogo e da própria vida: nosso DEUS.
Enquanto isso, olharemos para cima e para baixo, à nossa esquerda e à nossa direita, e
continuaremos desfrutando de tantos bens materiais e espirituais que eles nos deixaram. Continuaremos jogando limpo com classe e honradez, como tantas vezes nos pediram. Avançaremos, como crentes, procurando vencer de goleada com o espírito que nos marcam as bem-aventuranças. Pensaremos que a nossa própria existência é uma brisa que passa e que, portanto, precisa saber respirá-la profundamente para nos oxigenar com a graça divina.

Hoje, na festa de todos os mortos, constatamos que muitos lugares vazios, um dia estiveram ocupados por aqueles entes queridos. Embora estando fisicamente ausentes, os sentimos hoje ainda bem vivos em nosso coração.
O eco de suas palavras continua pairando no ar de nossas casas. O trabalho e a vitalidade com que viveram, nos ajudam a manter vivo o seu espírito.
A fé, com que fecharam seus olhos, é luz para quando nos custa ver a Deus.
E o vazio, que a sua partida nos deixou, o encheremos com a fecundidade da Palavra de Deus, com a esperança que nos oferece Jesus Cristo que, por sermos filhos de Deus, não permitirá que permaneçamos para sempre no esquecimento.