O AMANHECER DO EVANGELHO
EVANGELHO DO DIA E HOMILIA
REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE
PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CMDEDICAÇÃO DA BASÍLICA DO LATRÃO

Era particularmente notável entre os antigos israelitas o sentimento de profundo temor diante da majestade de Deus. Ao passo que nós, da geração do Novo Testamento, preferimos aproximar-nos de Deus em atitude de confiança e de amor.Os santos Padres notam, por exemplo, a evidente diferença entre a promulgação da Lei de Moisés no monte Sinai, onde Deus se manifesta num quadro de relâmpagos e trovões e toques de trombeta, e no meio dos novelos da fumaça de uma densa nuvem, e a proclamação da lei de Jesus, na tranquila paz do Monte das Bem-aventuranças, no meio de discípulos cheios de uma atenção toda feita de amor.Estamos lendo neste domingo como primeira leitura – preparando o evangelho da expulsão dos vendilhões do Templo – a cena da promulgação do Decálogo no Sinai: bom ler a narração completa no livro do Êxodo, para ver como é empolgante a descrição feita pelo escritor sagrado. Dá bem uma noção do imenso temor de Que se sentia possuído o povo, diante da manifestação de Deus no alto da montanha.E aí se elencam os dez mandamentos, com ênfase especialíssima em tudo o que se refere à adoração de Javé, ao repúdio da idolatria e à reverência devida ao nome do Senhor. Não seria fora de propósito notar que o modo de dividir os mandamentos em dez é diferente nos diversos autores antigos, como Fílon, Flávio Josefo ou Orígenes. A sequencia adotada pela Igreja é a de Santo Agostinho.No conjunto formam essa lei fundamental que está na consciência de toda a humanidade e que, se faltasse, tornar-se-ia impossível uma convivência pacífica e honesta entre os homens. Mas no Sinai ela é transmitida pela autoridade pessoal de Deus, Senhor da História. Esse Deus que se apresenta como aquele que livrou o povo da escravidão do Egito e que, portanto, tem direito à sua obediência e vem fazer com ele um pacto.Esse pacto – a “aliança” – se consagrou com um soleníssimo sacrifício, oferecido sobre um altar rodeado de doze estrelas, representando as doze tribos de Israel. No fim da exposição da Lei, feita por Moisés, o povo se comprometeu a cumpri-Ia e foram todos aspergidos com o sangue dos novilhos imolados. Era a promulgação da carta nacional e religiosa de um novo povo. E foi gravada em duas tábuas de pedra, que se conservaram na Arca, chamada, por isso mesmo, a “Arca da Aliança”. Ela permanecerá para sempre, elevada e santificada pela Lei nova do Evangelho, onde, aliás, Jesus sintetiza tudo na lei do amor: “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. A Lei e os profetas, tudo está aí compendiado.A página do evangelho de São João, que se vai ler em seguida, focaliza um grave desrespeito ao segundo mandamento. E a cena da profanação do Templo, onde circulavam mercadores de bois, de ovelhas e de pombos, e onde os cambistas faziam as trocas de moedas. Jesus repudiou tudo aquilo energicamente, fazendo até um chicote de cordas para expulsar todos aqueles profanadores, dizendo-lhes: Tirem tudo isso daqui! Não façam da casa de meu Pai uma praça de comércio. Pois, na verdade, tinham transformado a casa de oração num antro de negócios, nem sempre honestos. E o Divino Mestre não poderia mesmo tolerá-Io.Mas no gesto de Jesus havia algo de mais profundo. Antes de tudo, é preciso notar que os judeus reclamaram contra Jesus. Só um profeta de grandes poderes teria autoridade para fazer gestos assim. E perguntaram que sinal Jesus poderia dar de que tinha tal poder. Jesus prometeu um sinal solene: “Destruí este templo e em três dias eu o reerguerei”. E eles reclamaram de novo: “Quarenta anos foram necessários para construir este Templo, e tu em três dias serias capaz de reerguê-Io?” Mas Jesus falava do templo de seu corpo. Os discípulos bem o reconheceram depois da Ressurreição e creram no que Ele havia dito (cf. Jo 2,13-22).Pois justamente aí está a grande lição que os comentaristas da Escritura nos ajudam a descobrir. Com a vinda de Jesus, o Templo de Jerusalém ia perder seu sentido. Vem a hora – irá dizer Jesus à Samaritana – e já chegou, em que os verdadeiros adoradores não mais adorarão no Templo de Jerusalém, nem no monte Garizim, na Samaria. Adorarão o Pai em espírito e verdade, isto é, em tudo aquilo que Jesus nos comunica (cfr Jo 4,21-24). O verdadeiro lugar da adoração de Deus é agora o próprio corpo glorificado de Jesus, “0 templo reconstruído em três dias”. Ele é o centro do culto em espírito e verdade. Ele é o lugar da presença divina (Jo. 1,14). Ele é o verdadeiro “sagrado”, que substituiu o antigo lugar sagrado do povo de Israel.

O AMANHECER DO EVANGELHO
EVANGELHO DO DIA E HOMILIA
REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

Nessa passagem, contém um ensinamento claro e inequívoco de Jesus no templo. Anteriormente, João Batista havia dado testemunho de Jesus dizendo que ele era o Messias (1,29), os primeiros discípulos, após a indicação de João Batista, o reconheceram como o Cordeiro de Deus, que era uma nota messiânica: inaugurar uma nova Páscoa e uma nova aliança, realizando a libertação definitiva do homem (Jo 1,35-51). Em Canã, Jesus fez seu primeiro milagre para manifestar a sua glória (Jo 2,1-12): a glória se tornar visível, poder ser vista, podemos dizer, se manifesta. É a glória do Pai, na pessoa de Jesus, expressa no início da sua atividade na antecipação da “hora” (17,1). Como é que manifestou a sua glória? Deus estabeleceu gratuitamente com o homem uma nova relação; se une intimamente a ele dando-lhe a capacidade de amar como Ele por meio do Espírito que purifica o coração do homem e se faz filho de Deus.
É necessário, todavia, reconhecer o amor imutável de Deus manifestado em Jesus, respondendo com fé, ou com um compromisso pessoal.* Jesus no templo. Agora, Jesus está em Jerusalém, no templo e cumprindo a profecia de Malaquias (Malaquias 3,1-3), se proclama o Messias. A presença de Jesus e, especialmente, o seu ensinamento produz uma tensão. Agora o leitor pode compreender que os grandes conflitos com os judeus ocorriam continuamente no templo, onde Jesus proclama suas denúncias substanciais; sua missão é levar as pessoas para fora do templo (2.15,10.4). No final, Jesus é condenado, porque ele representa um perigo para o templo e para o povo.Jesus vai a Jerusalém para a Páscoa: é uma oportunidade flagrante para demonstrar em público e revelar a todos que ele é o messias. Nessa festa, Jerusalém, está cheia de peregrinos vindos de todas as partes e, portanto, suas ações teriam tido ressonância em toda a Palestina. Chegando em Jerusalém, eles se dirigem rapidamente para o templo onde fazem seus diferentes tipos de trabalho como vendedores e cambistas … A reunião no templo não se realiza por pessoas que buscam a Deus, mas os comerciantes do sagrado: as taxas de instalação de barracas era entregue ao sumo sacerdote. Jesus escolheu esta ocasião (Páscoa) e este lugar (o templo) para fornecer um sinal. Faz do chicote, um instrumento que simbolizava o Messias castigando o vicio e as maldades, e expulsa todos do templo, juntamente com as ovelhas e bois. É interessante notar sua polêmica contra os vendedores de pombas (12). A pomba era um animal que foi usado no propiciatório oferecida (Lv. 1,14-17), no sacrifício de expiação e purificação (Lv. 12,8; 15,14.29), especialmente se oferecidos eram pobres (Lv. 5,7, 14,22.30 e ss.) Aqui, os comerciantes vendiam pombas, eles vendem por dinheiro a reconciliação com Deus.* A casa do meu pai. A expressão indica que, em sua obra, Jesus age como Filho, que Ele representa o Pai no mundo. Eles transformaram o culto a Deus no comércio. O templo não é mais o lugar do encontro com Deus, mas um mercado onde a presença exige dinheiro. O culto tornou-se um pretexto para o lucro.Jesus ataca a instituição central de Israel, o templo, símbolo do povo e as eleições. Denuncia que foi usurpado do templo seu papel histórico: um símbolo da morada de Deus entre seu povo. A primeira reação ao gesto de Jesus parte dos discípulos, que eles associam com o Salmo 69,10: “. Zelo da tua casa me consome”A segunda reação é por parte dos sacerdotes, que reagem em nome dos vendedores: “Que sinal nos mostras para fazer estas coisas” (v. 18). Pedem um sinal, e ele lhes dá o de sua morte: “Destruí este templo e irei reconstruí-lo em três dias” (v. 19). Jesus é o templo que garante a presença de Deus no mundo, a presença do seu amor, a morte na cruz vai fazer-lhe o templo único e definitivo de Deus. O templo construído por mãos humanas caiu, Jesus irá substituí-lo, porque ele agora é a presença de Deus no mundo, onde o pai está presente.EVANGELHO: Jo 2, 13-17- DEDICAÇÃO DA BASÍLICA DO LATRÃO