EVANGELHO E HOMILIA DO DIA

O AMANHECER DO EVANGELHO

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

– XXXIII Domingo do Tempo Comum – ANO C

CAMINHANDO PARA O FIM –

O Ano Litúrgico vai chegando ao fim. Ainda mais um domingo, e se estará anunciando o Advento do novo ano. Por isso mesmo, o Evangelho fala do fim.

Não do fim do mundo, mas da destruição de Jerusalém, que os judeus ligavam sempre ao fim do mundo. E, na verdade, a destruição de Jerusalém e do Templo está teologicamente ligada ao fim do mundo, embora cronologicamente bem distante.

Ela é um prenúncio do fim dos tempos. Com a destruição de Jerusalém, termina a Antiga Aliança, e acontece a vinda de Jesus, que vem inaugurara Igreja, o novo Povo de Deus.

Jesus fala da destruição de Jerusalém, em seguida a uma observação dos discípulos – sobretudo os que vinham da Galiléia – que se mostravam encantados com a grandiosidade e os adornos do Templo, glória do povo e da cidade. “Estais contemplando estas coisas – comentou Jesus -, mas dia virá em que não ficará pedra sobre pedra, que não seja demolida” (Lc21 , 6).

E, a partir daí – com traços apocalípticos na sua descrição – Ele vai falando das confusões que vão acontecer, da perseguição e do ódio e, enfim, dos exércitos que virão cercar Jerusalém, prendendo e matando o povo e mandando cativos para outras nações.

E aqui Lucas traz uma palavra muito preciosa, que marca bem a distinção entre a destruição de Jerusalém e o fim do mundo: ” Jerusalém será calcada pelos gentios, até que se cumpram os tempos das nações” (v. 24). E até que se cumpra o tempo para a conversão de Israel, do que trata São Paulo na carta aos romanos (Rm 11 ).

De todo o contexto das palavras de Jesus, duas admoestações são particularmente preciosas. A primeira é que não se deixe ninguém iludir por falsos profetas, que anunciam a chegada de Cristo. Isto está acontecendo mesmo nestes nossos dias.

Não faltam grupos religiosos inautênticos, que anunciam a vinda de Jesus e o fim do mundo para já. Eu mesmo fui informado – quando de uma minha visita a missões do Amazonas – de um grupo de índios que tinha deixado de plantar suas roças esperando o fim do mundo, instigados por uma falsa pregadora vinda do Norte. Há muita gente adulterando o Evangelho e pregando falsidades. Temos que ser cautelosos. Temos – como ensinou Jesus – de ser simples como as pombas, e prudentes – isto é atilados – como as serpentes. Há muita gente “fundando” religiões novas, graças a simploriedade dos incautos.

A segunda palavra de Jesus, a que devemos prestar especial atenção, é a exortação à esperança. No meio de todos os desastres e perseguições, Deus está conosco. “Nem um só cabelo cairá de vossas cabeças.

Pela vossa perseverança é que haveis de salvar-vos” (Lc 21′ 18 s). Na alma verdadeiramente cristã jamais morre a esperança. Mesmo quando as coisas nos , parecem obscuras, temos certeza da presença sábia e misericordiosa de Deus. E – porque não lembrar – da presença de Maria, a quem São Bernardo chamou de “razão total de sua esperança”. Como aliás rezamos na “Salve, Rainha”, Ficaria muito triste nossa vida, se faltasse a esperança. Nada deixa a atmosfera tão empestada – disse um poeta – como o cheiro de uma esperança morta.

Estamos precisando de uma esperança bem viva, dentro de nós e no mundo em que vivemos. Tantos sinais de morte! Tantas ameaças! Tanta insegurança! Feliz daquele que não perder a esperança!

E que puder transmitir esperança aos outros! Daquele que souber ler nos sinais dos tempos promessas de tempos melhores! De uma consciência social que se vai esclarecendo. De um desejo de participação que vai amadurecendo nos jovens. De uma confiança no bem que existe, mesmo nas pessoas mais desvalidas. Da certeza de que o mal não pode crescer sem fim. E de que as misérias da sociedade chegam sempre a um termo de saturação, que levam a descobrir que o caminho estava errado. Quantos jovens, por exemplo, nas nações do Primeiro Mundo, que pareciam rebeldes a tudo, com a diabólica criatividade para as manifestações mais extravagantes, começam a reentender o valor dos pais, do lar, do casamento, da escola, da pátria, da religião! Cabe aos adultos não decepcioná-los. Eles representam a esperança. Que ela não morra no coração deles” por nossa causa,

LEITURAS do XXXllI Domingo do Tempo Comum – Ano C:

1a) Ml 3, 19-20a

2a) 2Ts 3, 7-12

3a) Lc 21, 5-19

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

O AMANHECER DO EVANGELHO

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

– XXXIII Domingo do Tempo Comum – ANO C

TEMA: * No evangelho de hoje começa o último discurso de Jesus, chamado Discurso apocalíptico.

* No evangelho de hoje começa o último discurso de Jesus, chamado Discurso apocalíptico. É um longo discurso, que será o assunto dos evangelhos dos próximos dias até o fim desta última semana do ano eclesiástico. Para nós do Século XXI, a linguagem apocalíptica é estranha e confusa. Mas para o povo pobre e perseguido das comunidades cristãs daquele tempo era a fala que todos entendiam e cujo objetivo principal era animar a fé e a esperança dos pobres e oprimidos. A linguagem apocalíptica é fruto da teimosia da fé destes pobres que, apesar das perseguições e contra todas as aparências em contrário, continuavam a crer que Deus estava com eles e que Ele continuava sendo o Senhor da história.

* Lucas 21,5-7: Introdução ao Discurso Apocalíptico. Nos dias anteriores ao Discurso Apocalíptico, Jesus tinha rompido com o Templo (Lc. 19,45-48), com os sacerdotes e os anciãos (Lc. 20,1-26), com os saduceus (Lc. 20,27-40), com os escribas que exploravam as viúvas (Lc. 20,41-47) e no fim, como vimos no evangelho de ontem, terminou elogiando a viúva que deu em esmola tudo que possuía (Lc. 21,1-4). Agora, no evangelho de hoje, ouvindo como “algumas pessoas comentavam sobre o Templo, enfeitado com pedras bonitas e com coisas dadas em promessa”, Jesus responde anunciando a destruição total do Templo: “Vocês estão admirando essas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído.” Ouvindo este comentário de Jesus, os discípulos perguntam: “Mestre, quando vai acontecer isso? Qual será o sinal de que essas coisas estarão para acontecer?” Eles querem mais informação. O Discurso Apocalíptico que segue é a resposta de Jesus a esta pergunta dos discípulos sobre o quando e o como da destruição do Templo. O evangelho de Marcos informa o seguinte sobre o contexto em que Jesus pronunciou este discurso. Ele diz que Jesus tinha saído da cidade e estava sentado no Monte das Oliveiras (Mc. 13,2-4). Lá do alto do Monte ele tinha uma visão majestosa sobre o Templo. Marcos informa ainda que havia só quatro discípulos para escutar o ultimo discurso. No início da sua pregação, três anos antes, lá na Galiléia, as multidões iam atrás de Jesus para escutar suas palavras. Agora, no último discurso, há apenas quatro ouvintes: Pedro, Tiago, João e André (Mc. 13,3). Eficiência e bom resultado nem sempre se medem pela quantidade!

* Lucas 21,8: Objetivo do discurso: “Não se deixem enganar!” Os discípulos tinham perguntado: “Mestre, quando vai acontecer isso? Qual será o sinal de que essas coisas estarão para acontecer?” Jesus começa a sua resposta com uma advertência: “Cuidado para que vocês não sejam enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu!’ E ainda: ‘O tempo já chegou’. Não sigam essa gente”. Em época de mudanças e de confusão sempre aparecem pessoas que querem tirar proveito da situação enganando os outros. Isto acontece hoje e estava acontecendo nos anos 80, época em que Lucas escreve o seu evangelho. Diante dos desastres e guerras daqueles anos, diante da destruição de Jerusalém do ano 70 e diante da perseguição dos cristãos pelo império romano, muitos pensavam que o fim dos tempos estivesse chegando. Havia até gente que dizia: “Deus já não controla mais os fatos! Estamos perdidos!” Por isso, a preocupação principal dos discursos apocalípticos é sempre a mesma: ajudar as comunidades a discernir melhor os sinais dos tempos para não serem enganadas pelas conversas do povo sobre o fim do mundo: “Cuidado para que vocês não sejam enganados!”. Em seguida, vem o discurso que oferece sinais para ajudá-los no discernimento e, assim, aumentar neles a esperança.

* Lucas 21,9-11: Sinais para ajudar a ler os fatos. Depois desta breve introdução, começa o discurso propriamente dito: “Quando vocês ouvirem falar de guerras e revoluções, não fiquem apavorados. Primeiro, essas coisas devem acontecer, mas não será logo o fim.” E Jesus continuou: “Uma nação lutará contra outra, um reino contra outro reino. Haverá grandes terremotos, fome e pestes em vários lugares. Vão acontecer coisas pavorosas e grandes sinais vindos do céu.”. Para entender bem estas palavras, é bom lembrar o seguinte. Jesus vivia e falava no ano 33. Os leitores de Lucas viviam e escutavam no ano 85. Ora, nos cinquenta anos entre o ano 33 e o ano 85, a maioria das coisas mencionadas por Jesus já tinham acontecido e eram do conhecimento de todos. Por exemplo, em várias partes do mundo havia guerras, apareciam falsos messias, surgiam doenças e pestes e, na Ásia Menor, os terremotos eram frequentes. Num estilo bem apocalíptico, o discurso enumera todos estes acontecimentos, um depois do outro, como sinais ou como etapas do projeto de Deus em andamento na história do Povo de Deus, desde a época de Jesus até o fim dos tempos:

1º sinal: os falsos messias (Lc. 21,8);

2º sinal: guerra e revoluções (Lc. 21,9);

3º sinal: nação lutará contra outra nação, um reino contra outro reino (Lc. 21,10);

4º sinal: terremotos em vários lugares (Lc. 21,11);

5º sinal: fome, peste e sinais no céu (Lc. 21,11);

* Até aqui vai o evangelho de hoje. O evangelho de amanhã, dia 26 de novembro, traz mais um sinal: a perseguição das comunidades cristãs (Lc. 21,12). O evangelho de depois de amanhã, 27 de novembro, traz mais dois sinais: a destruição de Jerusalém e o início da desintegração da criação. Assim, por meio destes sinais do Discurso Apocalíptico, as comunidades dos anos oitenta, época em que Lucas escreve o seu evangelho, podiam calcular a que altura se encontrava a execução do plano de Deus, e descobrir que a história não tinha escapado da mão de Deus. Tudo estava conforme tinha sido previsto e anunciado por Jesus no Discurso Apocalíptico.

6º sinal: a perseguição dos cristãos (Lc. 21,12-19)

* Lucas 21,12. O sexto sinal da perseguição. Várias vezes, durante os poucos anos que passou entre nós, Jesus tinha avisado aos discípulos que eles iam ser perseguidos. Aqui, no último discurso, ele repete o mesmo aviso e faz saber que a perseguição deve ser levado em conta no discernimento dos sinais dos tempos: “Antes que essas coisas aconteçam, vocês serão presos e perseguidos; entregarão vocês às sinagogas, e serão lançados na prisão; serão levados diante de reis e governadores, por causa do meu nome”. E destes acontecimentos, aparentemente tão negativos Jesus tinha dito: “Não fiquem apavorados. Primeiro essas coisas devem acontecer, mas não será logo o fim.” (Lc. 21,9). E o evangelho de Marcos acrescenta que todos estes sinais são “apenas o começo das dores de parto!” (Mc 13,8) Ora, dores de parto, mesmo sendo muito dolorosas para a mãe, não são sinal de morte, mas sim de vida! Não são motivo de medo, mas sim de esperança! Esta maneira de ler os fatos trazia tranqüilidade para as comunidades perseguidas. Assim, lendo ou ouvindo estes sinais, profetizados por Jesus no ano 33, os leitores de Lucas dos anos oitenta podiam concluir: “Todas estas coisas já estão acontecendo conforme o plano previsto e anunciado por Jesus! Por tanto, a história não escapou da mão de Deus! Deus está conosco!”

* Lucas 21,13-15: A missão dos cristãos em época de perseguição. A perseguição não é uma fatalidade, nem pode ser motivo de desânimo ou de desespero, mas deve ser vista como uma oportunidade, oferecida por Deus, para as comunidades realizarem a missão de testemunhar com coragem a Boa Nova de Deus. Jesus diz: “Isso acontecerá para que vocês dêem testemunho. Portanto, tirem da cabeça a idéia de que vocês devem planejar com antecedência a própria defesa; porque eu lhes darei palavras de sabedoria, de tal modo que nenhum dos inimigos poderá resistir ou rebater vocês”. Por meio desta afirmação Jesus anima os cristãos perseguidos que viviam angustiados. Ele faz saber que, mesmo perseguidos, eles tinham uma missão a cumprir, a saber: testemunhar a Boa Nova de Deus e, assim, ser um sinal do Reino (At. 1,8). O testemunho corajoso levaria o povo a repetir o que diziam os magos do Egito diante dos sinais e da coragem de Moisés e Aarão: “Aqui há o dedo de Deus!” (Ex. 8,15). Conclusão: se as comunidades não devem preocupar-se, se tudo está nas mãos de Deus, se tudo já era previsto por Deus, se tudo não passa de dor de parto, então não há motivo para ficarmos preocupados.

* Lucas 21,16-17: Perseguição até dentro da própria família. “E vocês serão entregues até mesmo pelos próprios pais, irmãos, parentes e amigos. E eles matarão alguns de vocês. Vocês serão odiados por todos, por causa do meu nome”. A perseguição não vinha só de fora, da parte do império, mas também de dentro, da parte da própria família. Numa mesma família, uns aceitavam a Boa Nova, outros não. O anúncio da Boa Nova provocava divisões no interior das famílias. Havia até pessoas que, baseando-se na Lei de Deus, chegavam a denunciar e matar seus próprios familiares que se declaravam seguidores de Jesus (Dt. 13,7-12).

* Lucas 21,18-19: A fonte da esperança e da resistência. “Mas não perderão um só fio de cabelo. É permanecendo firmes que vocês irão ganhar a vida!” Esta observação final de Jesus lembra a outra palavra que Jesus tinha dito: “nenhum cabelo vai cair da cabeça de vocês!” (Lc. 21,18). Esta comparação era um apelo forte a não perder a fé e a continuar firme na comunidade. E confirma o que Jesus já tinha dito em outra ocasião: “Quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perde a sua vida por causa de mim, esse a salvará” (Lc. 9,24).

LEITURAS do XXXllI Domingo do Tempo Comum – Ano C:

1a) Ml 3, 19-20a

2a) 2Ts 3, 7-12

3a) Lc 21, 5-19