Pe. Lucas- O MANDAMENTO MAIOR – Mt 22,34-40

O AMANHECER DO EVANGELHO

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

O MANDAMENTO MAIOR

Ao se falar em “mandamentos” – e esse tema aparece no evangelho deste trigésimo domingo do Tempo Comum – o que de mais espontâneo nos ocorre ao espírito é o “Decálogo”, isto é, os dez mandamentos que Deus proclamou por meio de Moisés no alto do Sinai, gravando-os em duas tábuas de pedra.Esses dez mandamentos não podem ser entendidos como se fossem uma lista arbitrária de prescrições que Deus estabeleceu e que poderiam ser substituídas por outras igualmente arbitrárias.Elas são a expressão de valores que o próprio Deus Criador gravou na consciência da humanidade e que exprimem essencialmente qual deve ser o comportamento do homem em face do bem e do mal.No Sinai, Deus marcou para a reta formação do povo de Israel e, por meio dele, para o mundo inteiro, de modo altamente pedagógico, as linhas de orientação de nosso comportamento ético. São dez fórmulas lapidares – como não pensar nos dez dedos da mão? – que sintetizam todos os caminhos por onde deve caminhar o gênero humano, para cumprir a vontade sábia e santa de Deus, seu Senhor, que assim começa a sua proclamação: “Eu sou Javé, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da escravidão” (Ex20,2).Porém a lei de Deus se desdobra depois em centenas de outros mandamentos, que se foram acrescentando, para regular de maneira clara o modo de viver do povo. É só examinarmos, por exemplo, os livros do levítico e do Deuteronômio.No tempo de Cristo, embora a lista não se julgasse ainda encerrada, enumeravam-se seiscentos e treze mandamentos, divididos em dois grupos: duzentos e quarenta e oito mandamentos positivos, correspondentes ao número dos ossos do esqueleto humano; trezentos e sessenta e cinco mandamentos negativos, que igualavam o número dos dias do ano.E se faziam listas e classificações e muito se discutia a respeito deles, sobre sua maior ou menor obrigatoriedade. E as várias escolas rabínicas se dividiam entre si, indicando este ou aquele dos mandamentos como o mais importante: se a guarda do sábado, se a obediência aos pais, se o respeito ao nome de Deus.Quiseram saber também a opinião de Jesus. E lhe perguntaram: “Mestre, qual é o maior mandamento da Lei” (Mt 22;36)? Jesus deu a grande resposta: “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu espírito”.Jesus está citando as primeiras palavras do “Shemá” -“ouve, Israel” – que era a oração que todo israelita devia rezar duas vezes por dia. Estava colocando assim o amor de Deus em seu lugar primeiro e absoluto.E continuou: “Este é o maior e o primeiro mandamento”. Porém, acrescentou ainda, para perpétua orientação do povo de Deus: “O segundo, semelhante a esse, é: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. E arrematou: “Desses dois mandamentos decorre toda a Lei e os profetas” (Ibid. , v v 37 – 40).0 amor ao próximo é da essência do Evangelho. E vai cintilar na sua formulação mais completa no discurso da Última Ceia: “Eu vos dou um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros, como eu vos amei” ( Jo 13,34 ). Poder-se-ia dizer que amar a Deus é evidentemente o maior mandamento. Nenhum judeu nem nenhum cristão poderia duvidar disso. Porém a força do preceito do amor ao próximo é menos evidente.

São João irá esmerar-se em suas cartas em inculcar o dever desse amor. Veja-se, por exemplo, esta afirmação: “Se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós” (1 Jo 4,12). E esta outra: “Se alguém disser ‘amo a Deus’, mas odeia o seu irmão, é um mentiroso; pois quem não ama a seu irmão a quem vê, a Deus que não vê não poderá amar”. E, como que fazendo eco à palavra de Jesus, quando lhe perguntaram qual era o maior mandamento: “E este mandamento dele recebemos: aquele que ama a Deus, ame também o seu irmão” (Ibid., 20 e 21).

E, para a aplicação prática desse preceito do amor, nada melhor do que lembrar de São Paulo, falando aos coríntios:“A caridade é paciente, é prestativa, não é invejosa. ..não guarda rancor, não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1 Cor 13, 4-7).

Mt 22,34-40

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA – O AMANHECER DO EVANGELHO –

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

                                                                                                 Sexta-feira da 3ª Semana da Quaresma1) Oração

Infundi, ó Deus, vossa graça em nossos corações, para que, fugindo aos excessos humanos, possamos, com vosso auxílio, abraçar os vossos preceitos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.2) Leitura do Evangelho  (Marcos 12, 28b-34)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Marcos – Naquele tempo, 28Achegou-se dele um dos escribas que os ouvira discutir e, vendo que lhes respondera bem, indagou dele: Qual é o primeiro de todos os mandamentos? 29Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é este: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor; 30amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu espírito e de todas as tuas forças. 31Eis aqui o segundo: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Outro mandamento maior do que estes não existe. 32Disse-lhe o escriba: Perfeitamente, Mestre, disseste bem que Deus é um só e que não há outro além dele. 33E amá-lo de todo o coração, de todo o pensamento, de toda a alma e de todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, excede a todos os holocaustos e sacrifícios. 34Vendo Jesus que ele falara sabiamente, disse-lhe: Não estás longe do Reino de Deus. E já ninguém ousava fazer-lhe perguntas. – Palavra da salvação.3) Reflexão

 *  No Evangelho de hoje (Mc 12,28b-34), os escribas ou doutores da Lei querem saber de Jesus qual o maior mandamento. Hoje também muita gente quer saber o que é o mais importante na religião. Uns dizem que é ser batizado. Outros, que é rezar. Outros dizem: ir à Missa ou participar do culto no domingo. Outros ainda: amar o próximo e lutar por um mundo mais justo! Outros estão preocupados só com as aparências ou com os cargos na igreja.Marcos 12,28: A pergunta do doutor da Lei. Pouco antes da pergunta do escriba, a discussão tinha sido com os saduceus em torno da fé na ressurreição (Mc 12,23-27). O doutor, que tinha assistido ao debate, gostou da resposta de Jesus, percebeu a grande inteligência dele e quis aproveitar da ocasião para fazer uma pergunta de esclarecimento: “Qual é o maior de todos os mandamentos?” Naquele tempo, os judeus tinham uma grande quantidade de normas para regulamentar na prática a observância dos Dez Mandamentos da Lei de Deus. Alguns diziam: “Todas estas normas têm o mesmo valor, pois todas vêm de Deus. Não compete a nós introduzir distinções nas coisas de Deus”. Outros diziam: “Algumas leis são mais importantes que as outras e, por isso, obrigam mais!” O doutor quer saber qual a opinião de Jesus.Marcos 12,29-31: A resposta de Jesus.  Jesus responde citando um trecho da Bíblia para dizer que o mandamento maior é “amar a Deus com todo o coração, com toda a alma, com todo o entendimento e com toda a força!” (Dt 6,4-5). No tempo de Jesus, os judeus piedosos recitavam esta frase três vezes ao dia: de manhã, ao meio dia e à noite. Era tão conhecida entre eles como entre nós, hoje, o Pai-Nosso. E Jesus acrescenta, citando novamente a Bíblia: “O segundo é este: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’ (Lv 19,18). Não existe outro mandamento maior do que estes dois”. Resposta breve e muito profunda! É o resumo de tudo que Jesus ensinou sobre Deus e sobre a vida (Mt 7,12).Marcos 12,32-33: A resposta do doutor da lei. O doutor concordou com Jesus e concluiu: “Sim, amar a Deus e amar ao próximo é muito mais importante do que todos os holocaustos e todos os sacrifícios”. Ou seja, o mandamento do amor é mais importante que os mandamentos relacionados com o culto e os sacrifícios do Templo. Esta afirmação já vinha desde os profetas do Antigo Testamento (Os 6,6; Sl 40,6-8; Sl 51,16-17). Hoje diríamos que a prática do amor é mais importante que novenas, promessas, missas, rezas e procissões.Marcos 12,34: O resumo do Reino. Jesus confirma a conclusão do doutor e diz: “Você não está longe do Reino!” De fato, o Reino de Deus consiste em unir os dois amores: amor a Deus e amor ao próximo. Pois se Deus é Pai/Mãe, nós todos somos irmãos e irmãs, e temos que mostrar isto na prática, vivendo em comunidade.“Destes dois mandamento dependem toda a lei e os profetas!” (Mt 22,40) Os discípulos e as discípulas, que coloquem na memória, na inteligência, no coração, nas mãos e nos pés esta lei maior, pois não se chega a Deus a não ser através da doação total ao próximo!*  Jesus tinha dito ao doutor da Lei: “Você não está longe do Reino!” (Mc 12,34). O doutor já estava perto, mas para poder entrar no Reino teria que dar mais um passo. No AT o critério do amor ao próximo era “Amar o próximo como a sim mesmo”. No NT, Jesus alargou o sentido do amor: “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado! (Jo 15,12-13). Agora o critério será Amar o próximo como Jesus nos amou!”. É o caminho certo para se chegar a uma convivência mais justa e mais fraterna.4) Para um confronto pessoal

  1. Para você, o que é o mais importante na religião?
  2. Nós, hoje, estamos mais perto ou mais longe do Reino de Deus do que o doutor que foi elogiado por Jesus? O que você acha?

5) Oração final

Entre os deuses nenhum é como tu, Senhor, e nada há que se iguale a tuas obras. Pois tu és grande e fazes maravilhas; só tu és Deus. (Sl 85, 8.10)