Jesus apareceu de novo aos discípulos, à beira do mar de Tiberíades – Jo 21,1-19
A Bíblia explicada em capítulos e versículos
Reflexões e ilustrações de Pe. Lucas de Paula Almeida, CM

* O Capítulo 21 do evangelho de São João parece um apêndice que foi acrescentado mais tarde depois que o evangelho já estava terminado. A conclusão do capítulo anterior (Jo 20,30-31) ainda deixa perceber que se trata de um acréscimo. De qualquer maneira, acréscimo ou não, é Palavra de Deus que traz uma bonita mensagem de ressurreição para esta sexta-feira da semana de Páscoa.

* João 21,1-3: O pescador de homens volta a ser pescador de peixes.  Jesus morreu e ressuscitou. No fim daqueles três anos de convivência com Jesus, os discípulos voltaram para a Galileia. Um grupo deles está de novo diante do lago. Pedro retoma o passado e diz: “Eu vou pescar!” Os outros disseram: “Nós vamos com você!” Assim, Tomé, Natanael, João e Tiago junto com Pedro saíram de barco e foram pescar. Retomaram a vida do passado como se nada tivesse acontecido. Mas algo aconteceu. Algo estava acontecendo! O passado não voltou! “Não pegaram nada!” Voltaram à praia cansados. Foi uma noite frustrante.

* João 21,4-5: O contexto da nova aparição de Jesus.  Jesus estava na praia, mas eles não o reconheceram. Jesus pergunta: “Moços, por acaso vocês alguma coisa para comer?” Responderam: “Não!” Na resposta negativa reconheceram que a noite tinha sido frustrante e que não pescaram nada. Eles tinham sido chamados para serem pescadores de homens (Mc 1,17; Lc 5,10), e voltaram a ser pescadores de peixes. Mas algo mudou em suas vidas! A experiência de três anos com Jesus provocou neles uma mudança irreversível. Já não era possível voltar para trás como se nada tivesse acontecido, como se nada tivesse mudado.

* João 21,6-8: Lancem a rede do lado direito do barco e vocês vão encontrar. Eles fizeram algo que, provavelmente, nunca tinham feito na vida. Cinco pescadores experimentados obedecem a um estranho que mandou fazer algo que contrastava com a experiência deles.  Jesus, aquela pessoa desconhecida que estava na praia, mandou que jogassem a rede do lado direito do barco. Eles obedeceram, jogaram a rede, e foi um resultado inesperado. A rede ficou cheia de peixes! Como era possível! Como explicar esta surpresa fora de qualquer previsão? O amor faz descobrir. O discípulo amado diz: “É o Senhor!” Esta intuição clareou tudo. Pedro se jogou na água para chegar mais depressa perto de Jesus. Os outros discípulos vieram mais devagar com o barco arrastando a rede cheia de peixes.

* João 21,9-14: A delicadeza de Jesus.  Chegando a terra, viram que Jesus tinha acendido umas brasas e que estava assando peixe e pão. Ele pediu que trouxessem mais uns peixes. Imediatamente, Pedro subiu no barco, arrastou a rede com cento e cinquenta e três peixes. Muito peixe, e a rede não se rompeu. Jesus chamou a turma: “Venham comer!” Ele teve a delicadeza de preparar algo para comer depois de uma noite frustrada sem pescar nada. Gesto bem simples que revela algo do amor com que o Pai nos ama. “Quem vê a mim vê o Pai” (Jo 14,9). Nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar quem era ele, pois sabiam que era o Senhor. E evocando a eucaristia, o evangelista João completou: “Jesus se aproximou, tomou o pão e distribuiu para eles”. Sugere assim que a eucaristia é o lugar privilegiado para o encontro com Jesus ressuscitado.

4. Para um confronto pessoal

1) Já aconteceu com você ter que te pediram jogar a rede do lado direito do barco da sua vida, contrariando toda a sua experiência? Você obedeceu? Jogou a rede?

2) A delicadeza de Jesus. Como é a sua delicadeza nas coisas pequenas da vida?

O amor em primeiro lugar Jo 21,1-19 – A Bíblia explicada em capítulos e versículos – Os outros evangelhos contêm episódios semelhantes a estes e foram conservados no apêndice do Evangelho de João. Mas eles os colocaram em outros momentos da vida de Jesus. Por exemplo, Lucas situa a pesca abundante bem no começo. Mateus coloca a missão de Pedro no fim da permanência na Galileia. COMENTANDO João 21,1-3: “Vamos pescar!” – retrato de um início difícil Duas coisas chamam a atenção. A primeira é que os discípulos passaram a noite toda pescando e não apanharam nada. Isto significa que o começo do anúncio da Boa Nova, logo depois da morte e ressurreição de Jesus, não foi fácil. Muito trabalho e pouco resultado! Pouco peixe na rede. Mas eles continuaram tentando. Não desanimam. Têm perseverança. A segunda é que eles ainda não se dispersaram e continuam unidos, apesar das dificuldades. Então quase todos aí. Pedro, na frente, que toma a iniciativa. Junto dele Tomé, Natanael, Tiago e João, mais dois outros, cujos nomes não são revelados, e o discípulo a quem Jesus amava. João 21,4-6: Nova ordem de lançar a rede De manhã cedo, quando vêm voltando da pescaria frustrada, Jesus está na praia, mas eles não o reconhecem. Depois de ter constatado que não tinham pescado nada, Jesus manda lançar novamente a rede. Lançaram, e ela ficou tão cheia de peixes, que não deram conta de puxá-la. É a palavra de Jesus que faz crescer a comunidade! É a mesma abundância que já notamos quando Jesus mudou água em vinho e quando multiplicou os pães no deserto. João 21,7-8: O amor é capaz de reconhecer Jesus Vendo o resultado da pesca, o Discípulo Amado disse a Pedro: “É o Senhor!” O amor é capaz de reconhecer a presença de Jesus nas coisas que acontecem na vida. Ouvindo isso, Pedro, que estava nu, colocou uma roupa no corpo e pulou na água. É o Discípulo Amado que abriu os olhos de Pedro. Quando Pedro descobre a presença de Jesus, descobre também que ele mesmo está nu. Como diz a Carta aos Hebreus: diante de Jesus, a Palavra de Deus, “não há criatura oculta à sua presença, mas tudo está nu e descoberto” (Hb 4,13). Descobrindo Jesus, Pedro se reencontra consigo mesmo. Ele se refaz (coloca a roupa) e se torna capaz de enfrentar o mar. Estavam perto da margem. Os outros vêm atrás do barco, arrastando a rede cheia de peixes. João 21,9-14: A celebração da ceia, presidida por Jesus que une a todos Chegando à praia, descobrem que Jesus já tinha preparado uma refeição com pão e peixe assado nas brasas. Jesus manda trazer mais uns peixes dos que foram apanhados na rede. Pedro sobe no barco e arrasta a rede para a terra. Fazendo as contas, eram 153 peixes grandes, e, “apesar de serem tantos, a rede não se rompeu”. Tudo isto tem um valor simbólico muito grande. A rede simboliza a Igreja. É Pedro que arrasta a rede, mas é o Discípulo Amado que reconhece Jesus. Alguns acham que tudo isto se refere a um fato que aconteceu no fim do século I. Diante das perseguições cada vez mais fortes contra os cristãos, as comunidades do Discípulo Amado com seus 153 membros uniram-se às outras comunidades coordenadas pelos outros apóstolos. E aí todos juntos fizeram uma grande celebração da unidade, em cujo centro estava o próprio Senhor Jesus, preparando a Ceia. João 21,15-19: O amor no centro da missão Terminada a refeição, Jesus chama Pedro e pergunta 3 vezes: “Você me ama?” Três vezes, porque foi três vezes que Pedro negou Jesus. Depois de três respostas afirmativas, Pedro recebe a ordem de tomar conta das ovelhas. Jesus não perguntou se Pedro tinha estudado exegese, teologia, moral ou direito canônico. Só perguntou: “Você me ama?” Foi nessa hora que Pedro se tornou também “Discípulo Amado”. O amor em primeiro lugar. Para as comunidades do Discípulo Amado, o que sustenta o primado e mantém as comunidades unidades não é a doutrina, mas sim o amor.