EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

(LECTIO DIVINA)

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

XIV DOMINGO DO TEMPO COMUM -ANO B

“OS SEUS NÃO O RECEBERAM”

Não há quem não conheça esta proclamação da sabedoria popular: “Ninguém é profeta na sua terra”.

Pois isso aconteceu com o próprio Jesus em relação à sua pequena cidade de Nazaré na Galiléia. Quando a marcha do Evangelho já estava a caminho e o nome de Jesus já se espalhava como o de um grande mestre e de um taumaturgo que curava os enfermos e expulsava os demônios, o Divino Mestre se dirigiu a Nazaré acompanhado por um grupo de seus discípulos, e entrou na sinagoga da cidade.

Aí ensinou, e numerosos ouvintes ficaram maravilhados.

Mas era uma admiração que tinha no fundo as sombras do despeito e do menosprezo.

E perguntavam em tom de escárneo: Onde é que ele foi aprender toda essa sabedoria? Pois ele não é um aqui da nossa terra? Não conhecemos Maria sua mãe e seus parentes? E fecharam o coração para Ele (cfr Mc 6, 1 -3). E Jesus não pôde fazer aí nenhum milagre, a não ser curar uns poucos enfermos, impondo-lhes as mãos. E comentou que nunca se encontra um profeta desonrado, a não ser na sua própria terra, em sua casa e no meio de seus parentes. E foi percorrer as aldeias dos arredores, ensinando a todos.

É assim mesmo que acontece freqüentemente, por um fenômeno de estreiteza de visão, comum em lugares pequenos.

Parece que não se conformam em ver um de seus conterrâneos se sobres- sair a eles e se situar num pedestal mais alto. E querem então diminuí-lo. Quando o certo seria se alegrarem por esse valor que brota de seu meio. No fundo, é a inveja. Não vêem de bons olhos o triunfo do outro. Falta o coração aberto, que bate palmas pelo bem que brilha nos outros. Quereriam ser eles a transportar o archote que ilumina o caminho. Não toleram que outro o transporte.

Essa atitude está bem longe da virtude da caridade, cujas qualidades São Paulo exalta na primeira carta aos coríntios. Lá ele diz que a caridade “não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade” (1 Cor 13, 6). Há uma verdadeira beleza musical nessa afirmação: “regozija-se com a verdade”.

Assim deve ser o coração do cristão. Bater palmas ao bem e à verdade, onde quer que se encontrem. Não ser mesquinho. Não ficar olhando apenas para o seu pequeno mundo, o mundo de seu egoísmo, que se fecha para os outros.

Isso nos ajudará até a ser otimistas. A descobrir quanta coisa boa existe na face da terra, apesar de todo o negativo que o noticiário cotidiano derrama sobre nós, segundo a triste norma de que o bem não faz notícia. Perto de mim, ali um pouco mais adiantei e mais além, e por toda parte, há muita gente fazendo o bem. É pre- ciso ver esse bem. E preciso alegrar-se com ele. Segundo a norma daquele mimoso poema que manda contar o jardim pelas flores e não pelas folhas caídas, e manda contar a noite pelas estrelas e não pelas sombras da escuridão.

Foi um pouco essa visão de otimismo que impregnou todos os textos do Concílio Vaticano II. E – sou tentado a dizer – de modo especial o documento sobre “a Igreja no mundo de hoje”, que se abre com duas sonoras palavras de otimismo: “Gaudium et Spes”, isto é, alegria e esperança.

É na alegria e na esperança que a Igreja quer caminhar no mundo. Não na tristeza e na ameaça. Ela quer vibrar de alegria por todo o bem que se faz por toda parte: dentro da própria Igreja ou fora de seus muros. E quer alimentar a esperança de corrigir o mal, onde quer que ele aconteça, quer em nossa casa, quer fora dela. Houve até quem achasse que o otimismo dos Padres Conciliares foi um pouco excessivo. E que não assimilaram o espírito do Concílio, que é feito de alegria, de confiança, de abertura, de diálogo, de vontade de cooperar com o bem, onde quer que ele seja promovido. A falta dessa visão é que impede neste ou naquele ambiente que o Concílio dê seus frutos.

O Concílio não foi um ponto de chegada. Em muitos sentidos o foi, sem dúvida. Mas ele foi principalmente um ponto de partida. Para a caminhada de uma Igreja viva, alegre, missionária, confiante. Temos que continuar a caminhar por esse caminho. Continuando a ler os monumentais textos do Concílio e aprendendo a viver cada vez melhor o espírito que ele ensinou à Igreja.

LEITURAS do XIV Domingo do Tempo Comum – Ano B:

1ª –  Ez 2.2-5. – 2ª –  Cor 12, 7-10. – 3ª  – Mc 6, 1-6= Jesus em sua terra…