O AMANHECER DO EVANGELHO

EVANGELHO DO DIA E HOMILIASegunda-feira da 24ª STC

 REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

  1. ORAÇÃO

Senhor, nosso Deus, que chamastes o Vosso servo, Santo Inácio de Santhià ao caminho da perfeição evangélica e o fizestes mestre e modelo das virtudes cristãs, concedei-nos a graça de vivermos na nossa vida a santidade do Vosso Filho Jesus Cristo, que vive convosco na unidade do Espírito Santo.A CURA DO SERVO DO CENTURIÃO – Lucas 7,1-6

Tendo terminado de dizer tudo isso ao povo, Jesus entrou em Cafarnaum.
Ali estava doente, quase à morte, o servo de um centurião, a quem seu senhor estimava muito. Ele ouviu falar de Jesus e enviou-lhe alguns líderes religiosos dos judeus, pedindo-lhe que fosse curar o seu servo. Chegando-se a Jesus, suplicaram-lhe com insistência: “Este homem merece que lhe faças isso,
porque ama a nossa nação e construiu a nossa sinagoga”. Jesus foi com eles. Já estava perto da casa quando o centurião mandou amigos dizerem a Jesus: “Senhor- Lucas 7:1-6  Reflexão

* O capítulo 7 do Evangelho de Lucas nos ajuda a acolher o chamado aos gentios para aderir à fé no Senhor Jesus. A figura do centurião abre o caminho para todos aqueles que querem aderir à fé de Israel e depois encontrar e conhecer o rosto do Pai em Jesus. Na meditação deste Evangelho, também é feita a proposta de nos abrirmos à fé ou fazer forte a nossa confiança na Palavra do Senhor. Tentemos, então, seguir, com o coração, os passos deste centurião romano, pois nele estamos presentes também nós.* Talvez um primeiro aspecto, que emerge da leitura do trecho, é a situação de sofrimento em que se encontra o centurião. Tento ouvir mais atentamente todas as palavras que iluminam esta realidade. Cafarnaum, cidade de fronteira, fora de mão, à margem, cidade onde a bênção de Deus parece difícil de chegar. A doença grave; a morte iminente de um ente querido.* Mas vejo imediatamente que o Senhor entra nesta situação, para compartilhá-la, para vivê-la com sua presença amorosa. Sublinho todos os verbos que confirmam esta verdade: “pedindo-lhe para ir”, “foi com eles”, “não era muito distante.” É maravilhoso ver este movimento de Jesus, que vai para aquele que o chama, que o busca e lhe pede salvação. Assim Ele faz com cada um de nós.* Mas, para mim, é muito útil entrar em contato com a figura do centurião, que aqui é um pouco como o meu mestre, meu guia no caminho da fé. “Tendo ouvido falar de Jesus.” Ele recebeu o anúncio, ouviu a boa notícia e a guardou em seu coração, se não a deixou fugir, não fechou os ouvidos e a vida. Lembrou-se de Jesus e agora o busca.“Mandou.” Por duas vezes ele executa essa ação, primeiro para enviar a Jesus os anciãos do povo, pessoas importantes, depois para enviar alguns de seus amigos. Lucas usa dois verbos diferentes e isso ajuda-me ainda mais para perceber que algo aconteceu neste homem, havia uma mudança: ele foi gradualmente se abrindo para o encontro com Jesus. Mandar os amigos é um pouco como enviar a si mesmo. “Para pedir-lhe para vir e salvar.” Dois belíssimos verbos que expressam a intensidade de seu pedido a Jesus. Quer que Jesus venha, que se aproxime, que entre em sua pobre vida, que venha visitar a sua dor. É uma declaração de amor, de grande fé, porque é como se lhe dissesse: “Eu sem você não posso mais viver. Venha!” Ele não pede uma salvação qualquer, a cura superficial, como nos faz entender o verbo que Lucas escolhe. Na verdade, aqui se fala de uma salvação transversal, capaz de atravessar toda a vida, toda a pessoa e capaz de levar a pessoa mais, mais além de qualquer obstáculo, dificuldade ou prova, além de até mesmo a morte.* “Não sou digno”. Duas vezes Lucas coloca nos lábios do centurião estas palavras, que ajudam a compreender a grande mudança acontecida dentro dele. Ele se sente indigno, incapaz, insuficiente, como eles expressam os dois termos gregos aqui utilizados. Talvez a primeira conquista na caminhada de fé com Jesus é esta: a descoberta de nossa grande necessidade dele, da sua presença e consciência cada vez mais certa que sozinhos não podemos fazer nada, porque somos pobres, somos pecadores. Mas justamente por isso somos amados de modo infinito!* “Dize uma palavra.” Aqui está o grande salto, o grande passo para a fé. O centurião agora acredita de uma maneira clara, serena, confiante. Enquanto Jesus caminhava em direção a ele, ele também estava fazendo seu caminho interior, estava mudando, estava se tornando um novo homem. Antes aceitou a pessoa de Jesus e depois a sua palavra. Para ele é o Senhor e, como tal, a sua palavra é eficaz, verdadeira, poderosa, capaz de operar o que ele diz. Todas as dúvidas desabam; só resta é a fé e a confiança certa na salvação em Jesus.Para um confronto pessoal

1) Faço minha a oração do centurião dirigida a Jesus para vir e salvá-lo? Eu estou pronto para expressar ao Senhor que tenho necessidade dele?

2) E se eu abro o meu coração à oração, à invocação, se convido o Senhor para vir, qual é a atitude profunda do meu coração? Há também em mim, como no centurião, a consciência de ser indigno/a?

O AMANHECER DO EVANGELHO

EVANGELHO DO DIA E HOMILIASegunda-feira da 24ª STC

 REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

“Nem em Israel encontrei tanta fé” (Lc 7, 1-10) –

Voltando às celebrações dos domingos do Tempo Comum, o nosso texto de hoje abre uma seção de Lucas que vai de 7,1 até 9,6. A mensagem dessa parte do Evangelho tinha muita relevância para as comunidades lucanas, constituídas em grande parte de pessoas provenientes do paganismo. As narrativas deste bloco demonstram que Jesus atravessava as fronteiras criadas pelos homens para separar os considerados “puros” dos taxados de “impuros”, e assim restaurar a vida ameaçada. Inicia-se com duas narrativas que relatam como Jesus curou um homem doente (o empregado do centurião) e ressuscitou um homem morto (filho único da viúva de Naim) em 7, 1-17, e termina com a cura de uma mulher doente (com fluxo de sangue) e a restauração da vida a uma moça morta, a filha de Jairo (8, 40-56).O relato de hoje prevê a futura missão da Igreja aos gentios. Gira ao redor de um centurião romano em Cafarnaum (talvez a serviço de Herodes Antipas) cujo empregado está à beira da morte. Tem certo paralelo com a história, também lucana, da conversão do primeiro gentio, no livro de Atos, de um centurião chamado Cornélio (At 10). Nesta Cornélio também é elogiado como homem que respeitava o povo judeu e dava esmolas (At 10, 1-2).O texto de hoje fala de uma comitiva de anciãos judeus que pedem que Jesus atenda o centurião porque ele tinha feito boas obras em favor da comunidade do povo judeu. Assim eles o consideram digno de ser atendido, como se fosse judeu e não gentio impuro. Em contraste, o próprio centurião manda dizer que ele não é digno nem merece que Jesus fira a Lei de pureza entrando na sua casa. Ele reconhece o poder da palavra de Jesus de vencer o poder da morte. Jesus afirma que ele é digno de ser atendido não porque tivesse feito boas obras em favor da comunidade judaica local, mas porque ele acredita que Deus vence a morte através de Jesus e da sua palavra. Ele, fora da comunidade religiosa de Israel, tem essa fé enquanto os que podiam e deviam ter não a tem.Como muitos textos de Lucas, especialmente os tocantes à questão da ação misericordiosa de Deus, este trecho no fundo desafia a mentalidade muitas vezes embutida em pessoas religiosas, sem que elas notem. Mesmo quando se dá a impressão de estarmos agindo movidos pela fé, na verdade subjaz a mentalidade de “troca” ou de “merecimento”. No texto de hoje, por exemplo, embora os anciãos judeus tomem atitude ousada em favor do centurião pagão, é só porque “ele merece”. A misericórdia de Deus, porém não funciona por “merecimento”, mas por gratuidade. É o que se demonstra também no Cap. 15 na parábola do Pai misericordioso e dos dois filhos. O “pródigo” não pede para ser aceito como filho, pois “não merece” – mas o pai nem lhe responde… Porque a lógica do perdão e da compaixão é outra. É um grande desafio para a Igreja e para todos nós nos libertar dessa mentalidade no fundo quase que “comercial” e entrar na lógica de misericórdia e compaixão, como o Pai e também Jesus, nas suas relações com a realidade de homens e mulheres em diversas situações de fraqueza. Esta é a grande intuição do Papa Francisco, pois é o fundamento da “Boa Nova” – O Evangelho – e por isso cria tantas dificuldades para muitos cristãos que não são conscientes de quanto faltamos com a gratuidade e a compaixão. Que o nosso modelo seja o verdadeiro Deus de Jesus “cujos caminhos não são os nossos, cujos pensamentos não são os nossos” (Is 55, 8-9).