O AMANHECER DO EVANGELHO

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

XXIX Domingo do Tempo Comum -ANO BNÃO DOMINAR, MAS SERVIR: OS FILHOS DE ZEBEDEU

Reaparece hoje um assunto com o qual já nos encontramos nas páginas do Evangelho. E a ambição dos apóstolos de ocuparem os melhores lugares no reino do Messias. Eram ainda tão imperfeitos! Não descera ainda sobre eles o Espírito Santo.E desta vez Tiago e João vem apresentar explicitamente a Jesus sua pretensão. Vêm acompanhados de sua mãe, Salomé, esposa de Zebedeu. E, na redação de Mateus, é ela própria quem faz o pedido:“Dize que estes meus dois filhos se sentem um à tua direita e outro à tua esquerda no teu reino” (Mt 20, 21 ). É quase comovedor ver essa humilde mulher do povo pedir para os seus filhos o que lhe parecia ser o melhor para eles. Não estava pensando em responsabilidades de governo.Estava deslumbrada com a idéia de ver seus filhos sentados nos lugares de mais alta distinção no esplendor da corte. Já os antigos padres sab1am desculpar a audácia dessa mulher, que seguia os impulsos de seu coração materno.A resposta de Jesus é da mais alta sabedoria: “Não sabeis o que estais pedindo!Podeis beber o cálice que eu vou beber? Podeis ser batizados no batismo em que eu vou ser mergulhado?” (Mc 10, 38).Eles, na ânsia de ver atendido o que haviam pedido a Jesus, respondem que sim, sem nem bem compreender o alcance das palavras do Mestre. O cálice que Ele ia beber era o cálice dos sofrimentos da Paixão.Embora a palavra “cálice” se encontre usada muitas vezes como imagem para indicar a alegria – aliás, nós mesmos falamos em “taça dos prazeres” – o uso dos profetas consagrou a palavra para dizer de preferência o sofrimento, como quando se referem à taça da ira de Deus (Is 51, 17).Na agonia do Getsêmani, Jesus vai pedir ao Pai que – se possível – afaste dele o amargo cálice da Paixão, colocando, porém, acima de tudo, a vontade do Pai. E Jesus vai beber esse cálice até o fim. Da mesma forma o “batismo” em que Ele vai ser batizado é a imagem do mar de sofrimentos em que vai ser mergulhado.Tiago e João eram corajosos. Jesus Ihes havia dado até o curioso apelido de “Boanerges” que quer dizer “filhos do trovão” (Mc 3, 17); mas certamente nessa hora não sabiam o que estavam aceitando. Jesus aceitou sua oferta.Tiago morreu decapitado no ano de 44, por ordem de Agripa I.E João, embora tenha vivido mais que todos os apóstolos e tenha morrido no exílio da ilha de Patmos em idade muito avançada, passou também pelos tormentos do martírio.Há em Roma uma igreja dedicada a São João “ante Portam Latinam” – porque fica justamente em frente à porta Latina – onde ele foi mergulhado numa caldeira de óleo fervendo, sobrevivendo só por milagre de Deus. Encontra-se testemunho disso em São Jerônimo e em Tertuliano.É fácil calcular quanto as pretensões de Tiago e João tenham sido mal recebidas pelos outros apóstolos. Eles se irritaram grandemente contra os dois filhos de Zebedeu.Foi preciso que Jesus os chamasse a todos e fizesse cair sobre eles as palavras de uma alta lição:”Sabeis como procedem os chefes das nações. Tratam-nas como senhores, e seus grandes exercem poder sobre elas. Convosco não há de ser assim. Aquele que quiser ser grande, seja o vosso servo, e quem quiser ser o primeiro, obedeça a todos os outros”. E coroou com esta sublime declaração: “Porque o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10, 42-45).

A Igreja guarda essa lição de Jesus com o maior carinho. E todo cristão sincero sabe que não está no mundo para dominar e subjugar os outros. Sabe, inclusive, que, quando ocupa um alto cargo na comunidade, não é para se prevalecer de seu poder, mas para estar a serviço de todos.Como que para comemorar a bela lição de Jesus, há uma praxe singular na Igreja: Em certos documentos da maior importância, o Papa se intitula “Servo dos servos de Deus”. A bula da convocação do Concílio Vaticano, por exemplo, do Papa João XXIII, começa assim: “João, Bispo, Servo dos Servos de Deus, para perpétua memória do acontecimento”. Somos todos servos de Deus. E o Papa quer estar a serviço de todos nós. Autoridade serviço. Isso é cristianismo!LEITURAS do XXIX Domingo do Tempo Comum- Ano B:

1ª – ls 53, 10–11.

2ª – Hb 4, 14-16.

3ª – Mc 10, 35-45 (ou: 10, 42-45).