O AMANHECER DO EVANGELHO

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE

PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CMXXX DOMINGO DO TEMPO COMUM -ANO B

“SENHOR, QUE EU VEJA!” 

Um cego mendigando, sentado à beira do caminho, era nos tempos de Jesus uma cena comum. Se alguém era cego, não tinha outro meio de vida senão pedir esmola. E o mesmo se poderia dizer dos outros deficientes físicos.Não havia os recursos de recuperação que há hoje. Não havia, sobretudo, o espírito de ajuda fraterna – fruto, afinal, do cristianismo – que se foi implantando e ampliando no mundo.Os cegos, de modo particular, têm hoje tantos institutos que os assistem e Ihes ensinam a viver com segurança, apesar da falta de visão. E se inventou o alfabeto Braille, graças ao qual os cegos lêem e escrevem, freqüentam escolas e universidade, havendo, inclusive, imprensa própria, graças à qual eles podem acompanhar a vida do mundo.Sem falar nos prodígios da cirurgia dos olhos, sobretudo do transplante de córneas, que faz de certo modo acontecer para o cego o prodígio do primeiro dia da criação: “Faça-se a luz! E a luz apareceu”.Jesus veio trazer a vista aos cegos. Isso está escrito em Isaías e era um dos sinais da chegada do Messias (v. Lc 4, 16-21 ). O evangelho fala dessas curas. Sobretudo no caso desse Bartimeu que Jesus curou, no caminho que o levava de Jericó a Jerusalém, onde ia acontecer a Paixão. Aliás, a cura desse cego é o último milagre narrado por São Marcos. Ele aparece também nos outros sinópticos, sendo que eles falam de dois cegos, enquanto São Marcos transcreve a catequese onde se fixou a atenção apenas sobre a figura de Bartimeu.A descrição de São Marcos é muito viva e luminosa. Estava o cego sentado à beira da estrada pedindo esmola aos que passavam. De repente ouviu o barulho de uma multidão que se aproximava. Soube que era Jesus. E começou a gritar com toda a força: “Filho de Davi, tem piedade de mim! “(Mc 1 0,48).O título com que ele chama por Jesus é um título messiânico, o mesmo que irá logo ressoar nas aclamações da entrada de Jerusalém. Donde se vê que já se tinha espalhado a crença no messianismo de Jesus.Jesus mandou chamá-Io, e ele, sabendo que era o Mestre que o chamava, lançou fora seu manto e de um salto foi ao encontro do Senhor . “Que queres que eu te faça”? “perguntou-lhe Jesus (v 51 ).Não que não fosse evidente o que o pobrezinho estava querendo. É que Jesus quis provocar-lhe a fé. E ele respondeu: Senhor, que eu veja. E Jesus lhe disse: Vai, a tua fé te salvou. E na mesma hora ele recobrou a vista e o foi seguindo pelo caminho” (Ib., 51-52).Jesus fez muito mais do que restituir a vista a um cego, ou a vários cegos. Ele é a luz do mundo! Ele veio vencer “as trevas que envolviam o mundo e dominar a escuridão que cobria os povos”, como diz Isaías, o qual completa a profecia, dizendo: “Sobre ti (Jerusalém), o Senhor se levanta, e aparece sobre ti a sua glória. As nações caminharão para a tua luz, e os reis para o clarão de tua aurora” (Is 60, 2-3).Na festa da Epifania, esta profecia de Isaías prepara a leitura do Evangelho, no qual a luz da estrela que brilhou para os magos no Oriente é um prelúdio da claridade universal da luz de Cristo, que veio iluminar todas as nações do universo.A Igreja, pela sua presença de paz e de alegria, deve ser a portadora dessa luz no mundo. Deve ser como aquela multidão entusiasta e devota que acompanhava Jesus no caminho de Jericó. Foi sua presença fervorosa que despertou a atenção do pobre cego. Do fundo da escuridão de sua cegueira ele entreviu o fascínio celestial que Cristo derramava em derredor de si. E começou o caminho de sua cura e de seu seguimento de Jesus. A Igreja tem a missão permanente de evangelizar. E ela cumpre essa missão não apenas pelo que prega, mas pela sua própria vida. Mesquinha figura de evangelizadora faria uma Igreja cujos fiéis caminhassem em passos lentos e monótonos, como quem transportasse um peso insuportável. É preciso que brilhe neles a alegria da fidelidade. A alegria da esperança!LEITURAS do XXX Domingo do Tempo Comum – Ano B:

1ª – Jr 31,7-9.

2ª – Hb 5, 1-6.

3ª – Mc 10, 46-52.