O AMANHECER DO EVANGELHO

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE

PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

XXXII DOMINGO DO TEMPO COMUM -ANO BO ÓBOLO DA VIÚVA

Duas simpáticas figuras de pessoas humildes iluminam as páginas da liturgia da palavra deste trigésimo segundo domingo do Tempo Comum.A primeira é a viúva de Sarepta (a Serafend do Líbano de hoje), a quem o profeta Elias pediu um pãozinho e um pouco d’água.Ela respondeu com comovente sinceridade que só tinha um punhado de farinha e um resto de óleo na ânfora, e que ia colher uns gravetos para fazer fogo e cozer aquilo para e1a e para seu filho, a fim de comerem e depois morrerem.Aí o profeta falou, em nome de Deus, que não tivesse medo: preparasse a comida para ele, e daí em diante nem faltaria farinha na sua vasilha, nem óleo na sua ânfora, até terminar o tempo da seca e voltar a cair a chuva sobre a terra. Como de fato aconteceu (cfr 1 Rs 17, 10-16).A outra figura é a da pobre viúva que Jesus viu no Templo colocando duas moedinhas no cofre das ofertas, enquanto os ricaços depositavam quantias vistosas. “Essa pobre viúva – disse Jesus – deitou no tesouro mais do que todos, pois todos deitaram do seu supérfluo, ao passo que esta, de sua penúria, deitou quanto tinha, todo o seu sustento” (Mc 12,43-44).Criaturas admiráveis como essas edificam também hoje a comunidade. Discretas, silenciosas, prolongando na saudade uma vida de trabalhos e sofrimentos, ricas de experiência e prontas a dar um bom conselho, freqüentadoras da Igreja e das cerimônias do culto, como a profetisa Ana, que aparece no quadro da Apresentação do Menino Jesus no Templo.Na primeira carta a Timóteo, São Paulo recomenda: “Honra as viúvas”. Ele se referia de modo particular àquelas “que põem sua confiança em Deus, e perseveram em súplicas e oração de dia e de noite” (1 Tm 5,3.5). Pelo testemunho dessa mesma carta, temos a confirmação de que havia nas igrejas daquele tempo associações de viúvas, às quais se confiavam algumas tarefas especiais no serviço da comunidade. Nem seria preciso dizer que só eram admitidas nesses grupos as viúvas que tivessem a seu favor o “testemunho de suas boas obras” (Ibid., v 10).As coisas mais pequeninas na sua realidade material, são às vezes imensamente grandes no seu valor moral.Tal é essa quantia tão ínfima oferecida pela pobre viúva. Ficou até proverbial como “o ábolo da viúva”, se bem que “ábolo” seja antes o nome de uma moedinha grega. O gesto dessa pobre mulher é, na verdade, algo de grande e de nobremente exemplar.Ele nos reporta à preciosa lição da Conferência do Episcopado latino-americano em Puebla, que nos ensinou que muitos pobres, pelos valores evangélicos que se encontram em suas vidas –solidariedade -, serviço, simplicidade, disponibilidade para acolher o dom de Deus – representam um forte potencial evangelizador, que nos interpela e nos chama à conversão (Doc. Puebla, 1147).Saibamos valorizar os pobres e a pobreza. Não, evidentemente, a situação de quase miséria em que muitos se encontram.Essa pobreza temos que lamentar, e combater, e superar pelo decidido empenho de implantar uma verdadeira justiça social em nosso País.Mas a pobreza como valor evangélico, vivido na simplicidade de vida, no repúdio da ganância e da ambição, na confiança em Deus, o Pai a quem pedimos o pão nosso de cada dia” e o perdão de nossos pecados, essa é digna de todo o louvor.Esses pobres, comemorados na primeira das bem-aventuranças do Sermão da Montanha, têm uma imensa capacidade de ajudar os que são pobres como eles. Sua casa é pequena, mas é capaz de acolher um punhado de vizinhos, cuja casa a chuva arrasou. É porque seu coração não é egoísta e se expande numa imensa dimensão de fraternidade. Deles é o Reino dos céus.LEITURAS do XXXII Domingo do Tempo Comum – Ano B:

1ª – 1 Rs 17,10-16.

2ª – Hb 9, 24-28.

3ª – Mc 12.38-44 (ou: 12, 41-44).