O evangelho de hoje traz o episódio do barco no mar agitado. Jesus se encontra na montanha, os discípulos no mar e o povo em terra.

  – A Bíblia explicada em capítulos e versículos

– O amanhecer do Evangelho

– Reflexões e ilustrações de Padre Lucas                   

Sexta-feira da 2ª Semana da Páscoa

1) Oração

Ó Deus, por quem fomos remidos e adotados como filhos, velai sobre nós em vosso amor de Pai e concedei aos que creem no Cristo a liberdade verdadeira e a herança eterna. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

2) Leitura do Evangelho (João 6, 16-21)

16Ao anoitecer, os discípulos desceram para a beira-mar. 17Entraram no barco e foram na direção de Cafarnaum, do outro lado do mar. Já estava escuro, e Jesus ainda não tinha vindo a eles.18Soprava um vento forte, e o mar estava agitado. 19Os discípulos tinham remado uns cinco quilômetros, quando avistaram Jesus andando sobre as águas e aproximando- se do barco. E ficaram com medo. 20Jesus, porém, lhes disse: “Sou eu. Não tenhais medo!” 21Eles queriam receber Jesus no barco, mas logo o barco atingiu a terra para onde estavam indo.

3) Reflexão

O evangelho de hoje traz o episódio do barco no mar agitado. Jesus se encontra na montanha, os discípulos no mar e o povo em terra.  Na maneira de descrever os fatos, João procura ajudar as comunidades a descobrir o mistério que envolvia a pessoa de Jesus. Ele faz isso evocando textos do Antigo Testamento que aludem ao êxodo.

Na época em que João escreve, o barquinho das comunidades enfrentava o vento contrário tanto da parte de alguns judeus convertidos que queriam reduzir o mistério de Jesus ao tamanho das profecias e figuras do Antigo Testamento, como da parte de alguns pagãos convertidos que pensavam ser possível uma aliança entre Jesus e o império.

João 6,15:  Jesus na Montanha. Diante da multiplicação dos pães, o povo concluiu que Jesus devia ser o messias esperado. Pois, de acordo com a esperança do povo da época, o Messias iria repetir o gesto de Moisés de alimentar o povo no deserto. Por isso, de acordo com a ideologia oficial, o povo achava que Jesus fosse o messias e, por isso, quis fazer dele um rei (cf. Jo 6,14-15).  Este apelo do povo era uma tentação tanto para Jesus como para os discípulos. No evangelho de Marcos, Jesus obrigou os discípulos a embarcar imediatamente e a ir para o outro lado do lago (Mc 6,45). Queria evitar que eles se contaminassem com a ideologia dominante. Sinal de que o “fermento de Herodes e dos fariseus”, era muito forte (cf. Mc 8,15). Jesus, ele mesmo, enfrenta a tentação por meio da oração na Montanha.

João 6,16-18. A situação dos discípulos. Já era tarde. Os discípulos desceram ao mar, subiram no barco e se dirigem a Cafarnaum, do outro lado do mar. João diz que já estava escuro e que Jesus ainda não tinha chegado. Além disso, soprava um vento forte e o mar ia ficando muito agitado. De um lado ele evoca o êxodo: atravessar o mar no meio das dificuldades. De outro lado evoca a situação das comunidades no império romano: como os discípulos, viviam no meio da noite, com vento contrário e mar agitado e Jesus parecia ausente!

João 6,19-20. A mudança da situação.  Jesus chega andando sobre as águas do mar da vida. Os discípulos ficam com medo. Como na história dos discípulos de Emaús, eles não o reconhecem (Lc 24,28). Jesus se aproxima e diz: “Sou eu! Não tenham medo!” Aqui, de novo, quem conhece a história do Antigo Testamento, lembra alguns fatos muito importantes: (1) Lembra como o povo, protegido por Deus, atravessou sem medo o Mar Vermelho. (2) Lembra como Deus, ao chamar Moisés, declarou o seu nome dizendo: “Sou eu!” (cf. Ex 3,15). (3) Lembra ainda o livro de Isaías que apresenta o retorno do exílio como um novo êxodo, onde Deus aparece repetindo inúmeras vezes: “Sou eu!” (cf. Is 42,8; 43,5.11-13; 44,6.25; 45,5-7).

Para o povo da Bíblia, o mar era o símbolo do abismo, do caos, do mal (Ap 13,1). No Êxodo, o povo faz a travessia para a liberdade enfrentando e vencendo o mar. Deus divide o mar através de seu sopro e o povo atravessa com pé enxuto (Ex 14,22). Em outras passagens a Bíblia mostra Deus vencendo o mar (Gn 1,6-10; Sl 104,6-9; Pr 8,27). Vencer o mar significa impor-lhe os seus limites e impedir que ele engula toda a terra com suas ondas. Nesta passagem Jesus revela sua divindade dominando e vencendo o mar, impedindo que a barca de seus discípulos seja tragada pelas ondas. Esta maneira de evocar o Antigo Testamento, de usar a Bíblia, ajudava as comunidades a perceber melhor a presença de Deus em Jesus e nos fatos da vida. Não tenham medo! 

João 6,22. Chegaram no porto desejado. Eles querem recolher Jesus no barco, mas não precisou, pois chegaram na terra para onde iam. Chegaram no porto desejado. Diz o Salmo: “Ele transformou a tempestade em leve brisa e as ondas emudeceram. Ficaram alegres com a bonança, e ele os guiou ao porto desejado”. (Sl 107,29-30)

4) Para um confronto pessoal

1-Na montanha: Por que Jesus busca um jeito de ficar sozinho para rezar depois da multiplicação dos pães? Qual o resultado da sua reza?

2-É possível caminhar hoje sobre as águas do mar da vida? Como?

5) Oração final

Exultai, justos, no SENHOR, que merece o louvor dos que são bons. Louvai o SENHOR com a cítara, com a harpa de dez cordas cantai-lhe. Cantai-lhe um cântico novo, tocai a cítara com arte, bradai.  (Sl 32, 1-3)