EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

O AMANHECER DO EVANGELHO

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

Evangelho do dia e Homilia – O amanhecer do Evangelho – Padre Lucas

V DOMINGO DA PÁSCOA -ANO C

O NOVO MANDAMENTO

O capítulo XIII de São João, a partir do versículo 31 – e continuando ainda nos quatro capítulos seguintes – constitui uma espécie de coração do evangelho. É onde Cristo faz suas despedidas dos apóstolos, e derrama no coração deles as mais sublimes confidências de seu coração.

Pode-se dizer que suas palavras têm um típico sabor testamentário, falando de sua partida, da vinda do Espírito Santo e da união que deve caracterizar a vida da Igreja, a videira na qual Ele é a cepa, nós somos os ramos. Imediatamente antes, Judas se havia retirado da sala onde estavam celebrando a Última Ceia. E o evangelista sublinhara o fato com uma pincelada simbólica: “Judas saiu imediatamente. Era noite” (Jo 13, 30). Estava escuro lá fora, e estava escuro na alma de Judas. Começava a hora do “poder das trevas”.

Dentro das mil lições preciosas que se lêem nesses capítulos, a Liturgia salienta para nós hoje o mandamento do amor: “Mandatum novum do vobis – Eu vos dou um novo mandamento” (v 34). É esse “mandato” que tem sido tema dos mais belos sermões dos pregadores da Igreja na Quinta-feira Santa.

Entre eles, o nosso grande Vieira, do qual podemos ler seis esplêndidos exemplares de sermões do Mandato nas coleções de sua obra oratória. A noite da Quinta-feira Santa, segundo um comentário de São João Crisóstomo, constitui uma espécie de “academia do amor”.

Nela Jesus realizou um grande gesto de amor- o lava-pés, instituiu o sacramento do amor -a Eucaristia, proclamou o mandamento do amor. E Jesus o proclamou tomado de uma particular sensação de ternura, uma vez que se dirige aos apóstolos, chamando-os de “filhinhos”, o que não acontece em qualquer outro lugar do Evangelho.

Já alguém disse que, se o Evangelho fosse uma fruta que se pudesse espremer como se espreme uma laranja, o suco que daí correria seria o amor. E isso está aí bem patente nessa palavra de Jesus: “Eu vos dou um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros, como eu vos amei”. A “novidade” deste mandamento é que não se trata do antigo e conhecido mandamento que mandava “amar ao próximo como a nós mesmos”. A medida aqui é outra. Trata-se de amar-nos uns aos outros “como Jesus nos amou”. O estilo divino desse amor de Cristo tem que ser o modelo do nosso amor. De tal sorte que nossa presença junto aos irmãos que amamos seja uma sombra da presença do próprio Cristo.

Um amor que pára junto a cada irmão que precisa, como parou o Bom Samaritano junto ao homem ferido na estrada de Jericó. Um amor que presta em favor dos irmãos os mais humildes serviços, como fez Jesus lavando os pés a seus apóstolos.

Um amor que perdoa e dá a sensação de uma vida nova, como fez Jesus com Madalena, com a mulher adúltera, com tantos outros a quem Ele disse: “Vai e não peques mais”.

Um amor, sobretudo, que dá a vida pelos amigos, como fez Jesus no sacrifício da cruz. Somos todos chamados a dar a vida por nossos irmãos, senão na forma trágica de uma crucifixão, no desvelo constante de cada dia, que vai gastando pouco a pouco nossas energias do corpo e do espírito. Que beleza que é esse martírio silencioso de tantas pessoas, que não se fecham no seu egoísmo, mas se sacrificam pelo bem dos outros!

Além de proclamar o mandamento do amor, Jesus o deixou como sinal distintivo dos cristãos: “Nisso conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros” (v 35). É a marca do cristão.

Quem disser que é cristão, e não amar seu irmão, está usando fraudulentamente esse nome. No meio do paganismo, o que atraiu seguidores para o evangelho de Jesus foi o exemplo do amor dos cristãos.

Tertuliano conta que os pagãos ficavam impressionados com o procedimento dos cristãos, e diziam: Vejam como eles se amam, e estão dispostos a morrer uns pelos outros!

Temos que trazer em nós essa marca. E manifestá-la em todas as atitudes de nossa vida. Sem ela, não seríamos dignos de Cristo.

 

LEITURAS do V Domingo da Páscoa – Ano C:

1 a) At 14, 20b-26

2a) Ap 21, 1-5a

3a) Jo 13, 31-333.34-35