01. Domingo da Ressurreição

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA (LECTIO DIVINA).

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

DOMINGO DA RESSURREIÇÃO

LUZ SEM SOMBRAS

Há muitos anos atrás, correu por todos os cinemas do mundo o filme americano intitulado “Trevas sem Luz”, que deu muito o que falar.Aí se abordava o seguinte tema: “Um sábio arqueólogo empreendeu escavações nos arredores de Jerusalém, onde hoje se encontra a basílica do Santíssimo Calvário”.
Certo dia comunica ele a todos os meios da Imprensa: ‘Eu encontrei a sepultura de Jesus de Nazaré, crucificado no ano 33.

A sepultura, porém não está vazia, mas dentro dela se encontra um cadáver mumificado; Cristo, pois, não pode ter ressuscitado; Cristo não ressuscitou.’
Esta novidade se espalha aos quatro ventos por rádios, televisão e Imprensa. O mundo entra numa densa treva. Tudo o que recordava Cristo foi feito desaparecer.
Igrejas foram destruídas, conventos fechados, padres abandonam suas paróquias, missionários do mundo inteiro retornaram às suas pátrias, irmãs abandonaram suas escolas e hospitais.

Enfim, o mundo entrou numa enorme confusão até que enfim é desmascarado o impostor, comentavam alguns.
Abaixo com a moral cristã e com a cruz, símbolo do sacrifício e da aceitação da morte, gritavam outros.

Outros tantos não deixaram de observar; É muita pena que tudo isso tenha sido uma falsidade, pois o ressuscitado ainda nos dava um sentido e esperança de enfrentar a vida e de superar os seus absurdos. Agora ,porém, com dor, temos que verificar nossa frustração. Assim, e com outros tantos pormenores, o filme Trevas sem luz vai mostrando o que significa o mundo sem o fato e a fé na ressurreição de Cristo: Verdadeiramente trevas, confusão, frustração e angústias nos corações humanos. Porém, no final, o filme mostra o sábio arqueólogo no leito de morte. Antes de entrar em agonia, ele quer ainda uma vez falar. E então revela ao médico, professor da universidade que sua descoberta fora uma falsidade, que ele interpretou mal o cadáver mumificado. Este não era do ano 33, mas do ano 333 dC.
A PALAVRA DE DEUS
No primeiro dia da semana, muito cedo ainda, eles foram à tumba, levando os aromas que tinham preparado. Encontraram a pedra do túmulo removida, mas, ao entrar, não encontraram o corpo do Senhor Jesus. E aconteceu que, estando perplexa com isso, dois homens se postaram diante delas, com veste fulgurantes. Cheias de medo inclinaram o rosto para o chão; eles, porém, disseram:

“Por que procurais entre os mortos aquele que está vivo? Ele não está aqui; ressurgiu.

Lembrai-vos de como vos falou, quando ainda estava na Galiléia: é preciso que o Filho do Homem seja entregue às mãos dos pecadores, seja crucificado, e ressuscite ao terceiro dia”. E elas se lembraram de suas palavras.(Lucas 24, 1-8).

E SE CRISTO NÃO TIVESSE RESSUSCITADO ?

Essa história de um filme moderno, mostra-nos o que seria o mundo sem a fé na ressurreição. São Paulo já nos dizia em sua epístola aos coríntios :
Se Cristo não ressuscitou, vã é nossa pregação, vã é nossa fé: Nós seríamos falsos testemunhos e os mais miseráveis de todos os homens ( Cor 15,15 s ). Quereríamos viver de fantasia em vez de enfrentar a vida e a morte, procuraríamos fugir da dureza com falsas projeções de nossos desejos. Porém com o fato da ressurreição de Cristo, entrou uma novidade total em nosso mundo fechado pelo círculo da morte. Alguém rompeu este círculo e deu esperança a todos nós. E dizia .S. Paulo, novamente na sua carta aos Coríntios: “Se Cristo ressuscitou haveremos nós de ressuscitar também. Ele é apenas o primeiro da enorme cadeia dos mortos que um dia hão de ressurgir para a vida que jamais conhecerá a morte.

COM A RESSURREIÇÃO NASCE NOVA VIDA
Mas, no terceiro dia, após a morte de Jesus, aqueles onze homens tiveram a experiência certa e inconfundível de que Jesus estava vivo (Lc 24,5-34).

Era Ele mesmo, o mesmo Jesus com o qual tinham convivido durante três anos (At 10,40-41). As aparições o confirmavam. Era ele mesmo. Jesus transpôs uma barreira que jamais homem algum tinha transposto. Agora, não havia motivo para sentir-se derrotado diante da realidade. Eles também ressuscitaram. O véu do futuro abriu-se de novo, para nunca mais fechar-se. Uma nova esperança nasceu. Uma nova força entrou na vida deles, a força de Deus, força tão grande que conseguia tirar a vida da morte (Ef 1,19-20).

Força ligada à pessoa viva de Jesus Cristo invisível em si mesmo, mas visível nos seus efeitos. Ressuscitando dos mortos Deus concretizou a sua boa vontade para com os homens; exprimiu o poder irresistível dessa vontade salvadora e libertadora; afirmou a fidelidade da mesma e nos fez saber, até que ponto, na nossa ação, podemos confiar nessa sua boa vontade para conosco: até o ponto de poder realizar o impossível, ou seja, até o ponto de esperar que possa nascer vida da morte. Deus vinha mostrando essa sua boa vontade, desde que começou a trabalhar com os homens, chamando Abraão e libertando o povo do Egito. Veio mostrando através da história que o homem, quando tiver a coragem de se comprometer com Ele, encontrará aquilo que procura, encontrará a felicidade. O conteúdo pleno desta palavra que começou a soar nos ouvidos de Abraão e a força total que ela possui, apareceram na ressurreição de Cristo. Em Cristo, um homem igual a nós, que viveu na total abertura e obediência ao Pai, atingiu a meta final na sua ressurreição. E Deus não só o ressuscitou, mas o introduziu junto de si, dando-lhe todo poder e entregou-lhe o destino da humanidade. (Fl 2,8-11) .Agora, eternamente, um irmão nosso está junto de Deus como prova cabal e definitiva de que Deus leva a sério a sua palavra, uma vez dada (Is 40,7-8) e de que a gente pode confiar mesmo naquilo que ele diz e promete. A Ressurreição de Cristo é a expressão permanente de compromisso irrevogável de Deus conosco. É a prova permanente e suprema da garantia que acompanha a promessa e a “Nova e Eterna aliança de Deus com os homens”. Com Cristo ressuscitado, ele nos faz saber que esta vida que vivemos é destinada a uma vida sem fim. Ele veio para que tenhamos a vida e a tenhamos em abundância. (Jo 10,10). Ele é realmente, o libertador.

Agora, “Apesar de tudo, a esperança já não se desfaz. Olhamos o mal que existe no mundo e cantamos: ‘Apesar de você amanhã há de ser outro dia! Ainda pago prá ver o jardim florescer qual você não queria.’(Chico Buarque). Já não desanimamos. Uma força nasceu. Mais forte do que a morte. Já é a ressurreição em atuação dentro daqueles que tem fé (Ef 1,19).

Antes, olhávamos a vida, e não sabíamos para onde ia nem qual o sentido tinha e cantávamos: “Olho pró céu e vejo uma nuvem branca que vai passando… Olho prá terra e vejo uma multidão que vai caminhando… Como esta nuvem branca, essa gente não sabe aonde vai. Quem poderá dizer o caminho certo é você meu Pai.” (Roberto Carlos)
E o Pai atendeu ao nosso canto e veio dizer-s o caminho certo em Jesus Cristo. O pai que criou e plantou a árvore da vida veio dizer, em Jesus Cristo, a última palavra sobre essa árvore: “Foi feita não para morrer e fracassar, mas para que tenha a vida” (Jo 10,10) “Foi plantada para dar fruto e frutos que permaneçam para sempre”(Jo 15,16)

A RESSURREIÇÃO É A FESTA DA LUZ
Nesta vigília pascal não celebramos trevas sem luz, não estamos na sexta-feira santa, mas na Páscoa, a festa da luz sem sombra. É pena que estejamos já por demais acostumados a ouvir estas verdades e já tenhamos perdido o senso pela novidade que elas trazem. O homem ,antes de Cristo não sabia nada disso. Ele sabia apenas sobre a incoercibilidade da morte.

O homem de hoje, sem Cristo, é como o pagão: Nada sabe da absoluta esperança. A crença na ressurreição futura dos mortos é mais uma bela hipótese que uma verdade possível de verificação.
Em Cristo ressuscitado os apóstolos e nós, experimentamos e vimos a realidade de um sonho, o fato de um desejo querido ao coração humano.
Então, compreendemos porque Paulo escarnece da morte e triunfante lhe pergunta: “Ó morte, onde está a tua vitória? Ó morte, onde está o espantalho com que amedrontavas os homens ? (l Cr 15,55).

A morte foi tragada pela vitória de Cristo. A festa da ressurreição desta noite, é festa de alegria; e de se cantar e de ouvir o Aleluia. A nossa vida está assegurada; essa vida que aqui vivemos não nos será tirada com a morte; a morte será apenas um fenômeno biológico, mas que não poderá destruir o nosso verdadeiro ser. O nosso amor jamais poderá ser destruído. Com a ressurreição de Cristo viemos saber que a vida é mais forte que a morte, que a morte é só uma passagem forçada mas que não nos poderá fazer mal algum.
Levemos um pouco de luz, dessa noite, para dentro de nossas vidas.
Seremos sementes de ressurreição no chão escuro dos nossos problemas e alegremo-nos: Cristo Ressuscitou! Nós ressuscitaremos com ele. Aleluia !

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA
(LECTIO DIVINA)
REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM
1 Domingo da Páscoa Ano B-

Jo 20, 1-9: Ele viu e acreditou”
Os quatro evangelhos relatam os acontecimentos do Dia da Ressurreição, cada um de acordo com as suas tradições e visão teológica. Mas, certos elementos são comuns a todos: o fato do túmulo vazio, que as primeiras testemunhas eram as mulheres (embora divirjam quanto ao seu número e identidade e o motivo da sua ida ao túmulo – para ungir o corpo, ou para vigiar e lamentar), e que uma delas era Maria Madalena.

Podemos tirar disso a conclusão que as mulheres tinham lugar muito importante entre o grupo dos discípulos de Jesus, e que elas eram mais fiéis do que os homens, seguindo Jesus até a Cruz e além dela! Infelizmente, outras gerações fizeram questão de diminuir a importância das discípulas na Tradição – e a Igreja sofre até hoje as consequências.

Fica claro que ninguém esperava a Ressurreição. Para os Doze, especialmente, a Cruz era o fim da esperança, a maior desilusão possível. Se somarmos a isso o fato de que todos eles traíram Jesus (por revolta, por dinheiro, ou por covardia), podemos imaginar o ambiente pesado entre eles na manhã do Domingo. Nesse meio, chegou Maria Madalena com a notícia de que o túmulo estava vazio – e ela, naturalmente, pensava que o corpo tivesse sido roubado. Ressurreição – nem pensar!

No nosso texto, Pedro (que tem um papel importante nos textos pós-ressurrecionais) e o Discípulo Amado (anônimo, mas quase certamente não um dos Doze, conforme os maiores exegetas) correm até o túmulo.

O texto deixa entrever a tensão histórica que existia entre a comunidade do Discípulo Amado e a comunidade apostólica (representada por Pedro). Pois, o Discípulo Amado espera por Pedro (reconhece a sua primazia), mas enquanto Pedro vê sem acreditar, o Discípulo Amado acredita. No Quarto Evangelho, Pedro só realmente vai conseguir amar Jesus no Capítulo 21, enquanto o Discípulo Amado é o tal desde Capítulo 13. Só quem olha com os olhos do coração, do amor, penetra além das aparências!

Como na história dos Discípulos de Emaús (Lc 24, 13-36), o texto demonstra que a nossa fé não pode estar baseada em um túmulo vazio! Não é o túmulo vazio que fundamenta a nossa fé na Ressurreição, mas o contrário – é a experiência da presença de Jesus Ressuscitado que explica porque o túmulo está vazio! Cuidemos de não procurar bases falsas para a nossa fé no Ressuscitado!Hoje em dia, quando olhamos para o mundo ao nosso redor, é fácil não acreditar na vitória da vida sobre a morte. Há tanto sofrimento e injustiça – guerra, violência, corrupção endêmica, pobreza exagerada, terremotos, desastres e tragédias como a de Santa Maria (RS) poucas semanas atrás, etc! Só uma experiência profunda da presença de Jesus libertador no meio da comunidade poderá nos sustentar na luta por um mundo melhor, com fé na vitória final do bem sobre o mal, da luz sobre as trevas, da graça sobre o pecado! Nós todos somos discípulos amados, pois nada nos separa do amor e Deus em Jesus Cristo” (Rm 8), mas será que somos discípulos amantes”? Será que amamos a Jesus e ao próximo? Lembramos que o amor proposto pelo Evangelho, não é um sentimento, mas uma atitude de vida, de solidariedade, de partilha, de justiça. “O amor consiste no seguinte: não fomos nós que amamos a Deus; mas, foi Ele que nos amou, e nos enviou o seu Filho como vítima expiatória por nossos pecados. Se Deus nos amou a tal ponto, também nós devemos amar-nos uns aos outros” (1Jo 4, 10-11).Que a mensagem da Ressurreição, da vitória da vida sobre a morte, nos anime e dê força, especialmente quando a Cruz pesar muito em nossas vidas! Aleluia!
LEITURAS do Domingo da Páscoa – Ano A:
1a) At 10, 34a. 37-43
2a) Cl 3,1-4
3a) Jo 20, 1-9