Subiu aos Céus

13. Domingo – Ascensão do Senhor – Ano A

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA (LECTIO DIVINA).

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

SUBIU AOS CÉUS

                    A cena descrita por São Lucas nos Atos dos Apóstolos, para nos transmitir a maravilhosa Ascensão de Jesus ao céu, tem o sabor de uma solene celebração litúrgica, como quando o Sumo Sacerdote do povo hebreu, uma vez por ano, entrava no Templo e transpunha o véu que separava o Santo dos Santos, onde se conservava a Arca da Aliança.

A comunidade dos discípulos, Jesus em toda a sua serena majestade, ainda mais bela nessa hora de despedida, a nuvem branca, sinal da presença de Deus e ainda os anjos em vestes alvas, tudo traz essa mensagem de nobreza litúrgica. Seria bom ler a carta aos hebreus, onde em mais de um lugar se fala de Cristo como Sumo Sacerdote, que penetra no céu, no definitivo Santo dos Santos. Sobretudo nesta passagem: ” A esperança é para nós uma âncora da alma, segura e firme, penetrando para além do véu, onde Jesus entrou por nós, como precursor, feito Sumo Sacerdote para a eternidade, segundo a ordem de Melquisedeque” (Hb 6, 19-20).

Por isso mesmo a liturgia da festa da Ascensão está toda entremeada de expressões tiradas do salmo 46. Nesse salmo se canta a entrada da Arca no Templo, querendo significar também e própria entrada de Deus no céu, depois de ter estado no meio de seu povo, trazendo-lhe a vitória nas batalhas. Como também significa – em visão profética – o triunfo final do Messias. E assim se convidam “todos os povos a bater palmas”, Deus é proclamado “o Grande Rei”, que caminha triunfante “em meio de cânticos e aclamações” e do sonoro “toque das trombetas” (SI 46,2-3,6-7, 8-9). Pois é tão espontâneo exprimir as grandes verdades de nossa fé por meio de arroubos poéticos! Fé e poesia se entrelaçam muito bem. Pois uma e outra, embora de maneiras diferentes, pairam acima do prosaico do cotidiano.

Qualquer leitor da Bíblia, mesmo medianamente esclarecido, entende que essa bela descrição de São Lucas não quer significar que Jesus tenha empreendido uma viagem cósmica, em busca de um céu espacial, situado para além de nosso espaço sideral. É a pobreza de nossas idéias terrenas que nos leva a usar dessas imagens.

Mas o que está no fundo desse revestimento imaginoso é que Jesus – Homem-Deus – foi agora assumido na glória do Pai, que o associou à sua vida e a seu poder sobre os homens e sobre o universo: “Todo o poder me foi dado no céu e na terra” (Mt 28, 18). Corresponde, aliás, ao que professamos no Credo, logo depois das palavras “subiu aos céus”: “Está sentado à direita do Pai”. Jesus tem agora um novo modo de ser. Ele vive totalmente na esfera de Deus. Vive a vida celeste, não mais a vida terrestre.

Por isso mesmo, a Ascensão de Cristo deve significar também para nós um convite à nossa própria ascensão. Como diz o Papa Leão Magno, na sua sabedoria de Doutor da Igreja: ” A Ascensão de Jesus é a nossa ascensão. Já que o Corpo (os cristãos são o Corpo Místico de Cristo) é convidado a elevar-se até à glória em que o precedeu a Cabeça, vamos cantar nossa alegria, expandir em ação de graças todo o nosso júbilo. Hoje não apenas conquistamos o paraíso, mas, no Cristo, penetramos no mais alto dos céus” (São Leão Magno, Sermão sobre a Ascensão do Senhor).

Esta é uma festa de esperança. A famosa âncora de que fala a carta aos hebreus. Navegamos nos mares do mundo, mas já lançamos âncora no céu, pelo poder de Cristo que lá nos precedeu. À luz dessa esperança, a vida humana adquire um novo sentido. O sentido de segurança, de coragem de alegria, mesmo no meio dos sofrimentos. Ficaria muito triste a terra, se não houvesse esperança. Um poeta escreveu que nada deixa o ar mais pestilencial do que uma esperança morta.

Mas é preciso guardar a palavra dos anjos aos discípulos, que olhavam embevecidos para o alto no momento da Ascensão de Jesus: “Homens da Galiléia, por que estais aí parados contemplando o céu? Esse Jesus que vos foi arrebatado agora, virá do mesmo modo que o vistes subir ao céu” (At 1, 11 ). Como se tivessem dito: E tempo de trabalhar, não de entregar-se a uma contemplação ociosa. E, para não ficarmos ociosos, temos que cumprir as palavras que Jesus acabara de dizer, ao anunciar a vinda do Espírito Santo: “Sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra” (Ibid., v 8).

Nossa tarefa é a de dar testemunho de Cristo. De sua Vida, de sua Morte, de sua Ressurreição. E de sua doutrina. Para que se cumpra o que está mil vezes repetido no Evangelho: a conversão do mundo. Ela se realizará pela esperança dinâmica dos cristãos: olhos no céu e pés firmes na terra, que deve ser preparada para o céu.

LEITURAS para a Solenidade da Ascensão -Ano B:

1ª – At 1,1-11.

2ª – Ef1, 17-23.

3ª – Mc 16, 15-20.