Lucas 7, 19-23 – És tu o que há de vir ou devemos esperar por outro?

A Bíblia explicada em capítulos e versículos       

O Amanhecer do Evangelho

 Reflexões e ilustrações de  Pe. Lucas de Paula Almeida

QUARTA-FEIRA DA 3ª SEMANA DO ADVENTO 

 1) Oração 

O Evangelho convida-nos a reconhecer o estilo de Jesus, paciente, acolhedor, esclarecedor. A escuta da Palavra exige uma visão abrangente do que foi revelado, e não o absolutismo: em cada caso a Escritura vem totalmente iluminada em Jesus. Além disso nos convida a ver a ação de Deus no mundo, que pode ser estendida aos “sinais dos tempos”. Amen.

2) Leitura Evangelho: Lucas 7, 19-23

E João chamou dois dos seus discípulos e enviou-os a Jesus, perguntando: És tu o que há de vir ou devemos esperar por outro? 20Chegando estes homens a ele, disseram: João Batista enviou-nos a ti, perguntando: És tu o que há de vir ou devemos esperar por outro? 21Ora, naquele momento Jesus havia curado muitas pessoas de enfermidades, de doenças e de espíritos malignos, e dado a vista a muitos cegos. 22Respondeu-lhes ele: Ide anunciar a João o que tendes visto e ouvido: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos ficam limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, aos pobres é anunciado o Evangelho; 23e bem-aventurado é aquele para quem eu não for ocasião de queda!

3) Meditação

Este texto é encontrado em Mateus e Lucas e inserido no segundo, entre o relato do milagre da restauração para a vida do filho da viúva de Naim (que é próprio de Lucas) e o discurso de Jesus sobre João Batista. É neste contexto que sugere uma espécie de passagem entre a imagem de Jesus que cura, até mesmo a morte, e o convite à conversão, feita pelo próprio Jesus nas três passagens sucessivas: um enfoque sobre João Batista, o juízo sobre sua geração e para a aceitação do gesto da mulher pecadora na casa do fariseu.

Este texto pode ser entendido em um contexto maior: dentro de todo o evento de Batista e na experiência profética de Israel, que espera, e que tem a expectativa de que Deus vem até eles.

Os discípulos de João Batista tem aqui um papel de primeiro plano, são eles que abrem e fecham a passagem, são eles que criam o elo de comunicação entre o seu mestre, detido na prisão de Herodes (Lc 3,19-20) e Jesus. Dois deles são enviados em seu nome, para retornar com a pergunta direta para o mestre de Nazaré: duas vezes Lucas coloca a questão, que é de grande importância. E a pergunta é sobre a espera. João sabe que alguém deve vir. O problema é saber se é Jesus ou devem esperar por outro. O fato de João enviar a questão expressamente a Jesus significa que ele já confia nele. Talvez ele tenha confundido por causa da falta de compreensão do cumprimento na imagem bíblica do “Dia do Senhor”, que é fundamental para toda a sua pregação (cf. Lc 3,7 ss).

Aqui a passagem dá um grande salto : a questão é deixada em suspenso e instantaneamente são listadas todas as obras de cura realizados por Jesus em favor de “muitos”. Como parte final, menciona o dom da vista aos cegos. E, após as obras, vem a resposta. “Ide”, Jesus diz aos discípulos de João: é uma missão, à luz do que já transpareceu – por qualquer meio – o que já foi anunciado. (Ver Lc 3,18). Agora a boa notícia é completa e está acontecendo, já que as obras que ele faz são aquelas anunciadas pelos profetas (como um “lectio”, em várias passagens de Isaías, mas desta vez é a vista aos cegos que é mencionado em primeiro lugar). Esta é uma mensagem inequívoca para um homem como João, a quem a Palavra de Deus já chegou (cf. Lc 3,2). Finalmente, há uma mensagem que pode parecer estranha, pois é expressa negativamente: bem-aventurados são aqueles que não encontram em Jesus uma pedra de tropeço, um obstáculo no caminho da fé. Como podemos entender isso? Certamente é uma mensagem maior do que a mensagem de João Batista, e é dirigida ao ouvinte da Palavra.
O contexto sugere a circularidade entre graça e compromisso, entre a iniciativa de Deus em Cristo e na necessária correspondência do homem.  Deus chama e ama em primeiro lugar, mas quer um consentimento livre e responsável: uma tal reação é possível porque Deus nos amou primeiro.

O fato de que os discípulos entram em jogo neste momento mostra que João não está interessado apenas no momento presente, mas também  do interesse para os “filhos espirituais” de movimentos cujo expoente é João. Já no início do ministério público de Jesus dois discípulos de João Batista se tornam seus discípulos (cf. Jo 1,37), e até mesmo alguns anos depois, Paulo encontra pessoas que receberam o batismo de João (cf. At 19,1-7).

No centro da passagem, o tema é o da espera, mas segundo o desígnio de Deus, anunciado pelos profetas de Israel que não são fáceis de serem compreendidos. Até mesmo a Palavra de Deus não diminui a dificuldade de se entender um Deus que ama e oferece em sua misericórdia o próprio Filho e a possibilidade de receber com fé, assim como a cura do cego sugere. E é a fé que conduz à bem-aventurança. O que é proclamado por Jesus no final da passagem é entendida apenas quando se considera o peso da responsabilidade por parte do observador, com o risco de dar escândalo. É necessário, então, refletir, deixando de lado as pretensões humanas e preconceitos, a fim de abrir-se livremente com simplicidade o que Deus em Jesus está fazendo. É a lógica do Reino de Deus, que excede o heroísmo de João (Lc 2,28)

4) Para um confronto pessoal 

  • Vivemos a ouvir a Palavra como forma de conversão?
    • Sabemos conhecer os sinais da presença ativa de Jesus, mesmo no nosso tempo?
    • Sabemos confiar no Evangelho de maneira ativa, como verdadeiros discípulos?5) Oração final 

Dá-nos, Senhor, os olhos para ver e ouvidos para ouvir. Dá-nos, Senhor, a coragem de sempre procurar sua verdade e pedir sua revelação em oração.

Lucas 7, 19-23 – És tu o que há de vir ou devemos esperar por outro?

A Bíblia explicada em capítulos e versículos       

O Amanhecer do Evangelho

 Reflexões e ilustrações de  Pe. Lucas de Paula Almeida

QUARTA-FEIRA DA 3ª SEMANA DO ADVENTO 

Lucas 7, 19-23 – És tu o que há de vir ou devemos esperar por outro?

1) Oração

O Evangelho convida-nos a reconhecer o estilo de Jesus, paciente, acolhedor, esclarecedor. A escuta da Palavra exige uma visão abrangente do que foi revelado, e não o absolutismo: em cada caso a Escritura vem totalmente iluminada em Jesus. Além disso nos convida a ver a ação de Deus no mundo, que pode ser estendida aos “sinais dos tempos”. Amen.

2) Leitura Evangelho: Lucas 7, 19-23

E João chamou dois dos seus discípulos e enviou-os a Jesus, perguntando: És tu o que há de vir ou devemos esperar por outro? 20Chegando estes homens a ele, disseram: João Batista enviou-nos a ti, perguntando: És tu o que há de vir ou devemos esperar por outro? 21Ora, naquele momento Jesus havia curado muitas pessoas de enfermidades, de doenças e de espíritos malignos, e dado a vista a muitos cegos. 22Respondeu-lhes ele: Ide anunciar a João o que tendes visto e ouvido: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos ficam limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, aos pobres é anunciado o Evangelho; 23e bem-aventurado é aquele para quem eu não for ocasião de queda!

3) Meditação

Este texto é encontrado em Mateus e Lucas e inserido no segundo, entre o relato do milagre da restauração para a vida do filho da viúva de Naim (que é próprio de Lucas) e o discurso de Jesus sobre João Batista. É neste contexto que sugere uma espécie de passagem entre a imagem de Jesus que cura, até mesmo a morte, e o convite à conversão, feita pelo próprio Jesus nas três passagens sucessivas: um enfoque sobre João Batista, o juízo sobre sua geração e para a aceitação do gesto da mulher pecadora na casa do fariseu. Este texto pode ser entendido em um contexto maior: dentro de todo o evento de Batista e na experiência profética de Israel, que espera, e que tem a expectativa de que Deus vem até eles. Os discípulos de João Batista tem aqui um papel de primeiro plano, são eles que abrem e fecham a passagem, são eles que criam o elo de comunicação entre o seu mestre, detido na prisão de Herodes (Lc 3,19-20) e Jesus. Dois deles são enviados em seu nome, para retornar com a pergunta direta para o mestre de Nazaré: duas vezes Lucas coloca a questão, que é de grande importância. E a pergunta é sobre a espera. João sabe que alguém deve vir. O problema é saber se é Jesus ou devem esperar por outro. O fato de João enviar a questão expressamente a Jesus significa que ele já confia nele. Talvez ele tenha confundido por causa da falta de compreensão do cumprimento na imagem bíblica do “Dia do Senhor”, que é fundamental para toda a sua pregação (cf. Lc 3,7 ss). Aqui a passagem dá um grande salto : a questão é deixada em suspenso e instantaneamente são listadas todas as obras de cura realizados por Jesus em favor de “muitos”. Como parte final, menciona o dom da vista aos cegos. E, após as obras, vem a resposta. “Ide”, Jesus diz aos discípulos de João: é uma missão, à luz do que já transpareceu – por qualquer meio – o que já foi anunciado. (Ver Lc 3,18). Agora a boa notícia é completa e está acontecendo, já que as obras que ele faz são aquelas anunciadas pelos profetas (como um “lectio”, em várias passagens de Isaías, mas desta vez é a vista aos cegos que é mencionado em primeiro lugar). Esta é uma mensagem inequívoca para um homem como João, a quem a Palavra de Deus já chegou (cf. Lc 3,2). Finalmente, há uma mensagem que pode parecer estranha, pois é expressa negativamente: bem-aventurados são aqueles que não encontram em Jesus uma pedra de tropeço, um obstáculo no caminho da fé. Como podemos entender isso? Certamente é uma mensagem maior do que a mensagem de João Batista, e é dirigida ao ouvinte da Palavra. O contexto sugere a circularidade entre graça e compromisso, entre a iniciativa de Deus em Cristo e na necessária correspondência do homem. Deus chama e ama em primeiro lugar, mas quer um consentimento livre e responsável: uma tal reação é possível porque Deus nos amou primeiro. O fato de que os discípulos entram em jogo neste momento mostra que João não está interessado apenas no momento presente, mas também do interesse para os “filhos espirituais” de movimentos cujo expoente é João. Já no início do ministério público de Jesus dois discípulos de João Batista se tornam seus discípulos (cf. Jo 1,37), e até mesmo alguns anos depois, Paulo encontra pessoas que receberam o batismo de João (cf. At 19,1-7). No centro da passagem, o tema é o da espera, mas segundo o desígnio de Deus, anunciado pelos profetas de Israel que não são fáceis de serem compreendidos. Até mesmo a Palavra de Deus não diminui a dificuldade de se entender um Deus que ama e oferece em sua misericórdia o próprio Filho e a possibilidade de receber com fé, assim como a cura do cego sugere. E é a fé que conduz à bem-aventurança. O que é proclamado por Jesus no final da passagem é entendida apenas quando se considera o peso da responsabilidade por parte do observador, com o risco de dar escândalo.