Mc 1, 40-45 – “SE QUISERES, PODES CURAR-ME” –

A Bíblia explicada em capítulos e versículos

– O Amanhecer do Evangelho

– Reflexões e ilustrações de Padre Lucas de Paula Almeida, CM

TEMA DO DIA: Senhor, se queres, podes limpar-me. Jesus estendeu a mão, tocou-o e disse: Eu quero; sê purificado!

1) Oração

Ó Deus todo-poderoso, que o Natal do Salvador do mundo, manifestado pela luz da estrela, sempre refulja e cresça em nossas vidas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.2) Leitura do Evangelho (Lucas 5, 12-16)
12Estando ele numa cidade, apareceu um homem cheio de lepra. Vendo Jesus, lançou-se com o rosto por terra e lhe suplicou: Senhor, se queres, podes limpar-me. 13Jesus estendeu a mão, tocou-o e disse: Eu quero; sê purificado! No mesmo instante desapareceu dele a lepra. 14Ordenou-lhe Jesus que o não contasse a ninguém, dizendo-lhe, porém: Vai e mostra-te ao sacerdote, e oferece pela tua purificação o que Moisés prescreveu, para lhes servir de testemunho. 15Entretanto, espalhava-se mais e mais a sua fama e concorriam grandes multidões para o ouvir e ser curadas das suas enfermidades. 16Mas ele costumava retirar-se a lugares solitários para orar.3) Reflexão – Lc 5, 12-16
* Um leproso chega perto de Jesus. Era um excluído. Devia viver afastado. Quem tocasse nele ficava impuro! Mas aquele leproso teve muita coragem. Transgrediu as normas da religião para poder chegar perto de Jesus. Ele diz: Se queres, podes curar-me! Ou seja: “Não precisa tocar-me! Basta o senhor querer para eu ficar curado!” A frase revela duas doenças: 1) a doença da lepra que o tornava impuro; 2) a doença da solidão a que era condenado pela sociedade e pela religião. Revela também a grande fé do homem no poder de Jesus. Profundamente compadecido, Jesus cura as duas doenças. Primeiro, para curar a solidão, toca no leproso. É como se dissesse: “Para mim, você não é um excluído. Eu te acolho como irmão!” Em seguida, cura a lepra dizendo: Quero! Seja curado!* O leproso, para poder entrar em contato com Jesus, tinha transgredido as normas da lei. Da mesma forma, Jesus, para poder ajudar aquele excluído e, assim, revelar um rosto novo de Deus, transgride as normas da sua religião e toca no leproso. Naquele tempo, quem tocava num leproso tornava-se um impuro perante as autoridades religiosas e perante a lei da época.* Jesus não só cura, mas também quer que a pessoa curada possa conviver. Ele reintegra a pessoa na convivência. Naquele tempo, para um leproso ser novamente acolhido na comunidade, ele precisava ter um atestado de cura assinado por um sacerdote. É como hoje. O doente só sai do hospital com o documento assinado pelo médico de plantão. Jesus obrigou o fulano a buscar o documento, para que ele pudesse conviver normalmente. Obrigou as autoridades a reconhecer que o homem tinha sido curado.* Jesus tinha proibido o leproso de falar sobre a cura. O Evangelho de Marcos informa que esta proibição não adiantou nada. O leproso, assim que partiu, começou a divulgar a notícia, de modo que Jesus já não podia entrar publicamente numa cidade. Permanecia fora, em lugares desertos (Mc 1,45). Por que?É que Jesus tinha tocado no leproso. Por isso, na opinião da religião daquele tempo, agora ele mesmo era um impuro e devia viver afastado de todos. Já não podia entrar nas cidades. E Marcos mostra ainda que o povo pouco se importava com estas normas oficiais, pois de toda a parte vinham a ele (Mc 1,45). Subversão total!* O duplo recado que Lucas e Marcos dão às comunidades do seu tempo e a todos nós é este: 1) anunciar a Boa Nova é dar testemunho da experiência concreta que se tem de Jesus. O leproso, o que ele anuncia? Ele conta aos outros o bem que Jesus lhe fez. Só isso! Tudo isso! E é este testemunho que leva os outros a aceitar a Boa Nova de Deus que Jesus nos trouxe. 2) Para levar a Boa Nova de Deus ao povo, não se deve ter medo de transgredir normas religiosas que são contrárias ao projeto de Deus e que dificultam a comunicação, o diálogo e a vivência do amor. Mesmo que isto traga dificuldades para a gente, como trouxe para Jesus.4) Para confronto pessoal

1) Para ajudar o próximo, Jesus transgrediu a lei da pureza. Existem hoje leis na igreja que dificultam ou impedem a prática do amor ao próximo?

2) O leproso para poder ser curdo teve coragem a opinião pública do seu tempo. E eu?

5) Oração final

Louva, ó Jerusalém, ao Senhor; louva o teu Deus, ó Sião, porque ele reforçou os ferrolhos de tuas portas, e abençoou teus filhos em teu seio. (Sal 147)

 

Mc 1, 40-45 – “SE QUISERES, PODES CURAR-ME”

Reflexões e ilustrações de Padre Lucas de Paula Almeida, CM

Nos tempos mais esclarecidos em que vivemos, temos que fazer um esforço muito grande de compreensão, para aceitar que tenha havido na Lei do Antigo Povo de Deus prescrições tão deprimentes e tão dolorosas a respeito das pessoas atingidas pela doença da lepra. Tais pessoas eram excluídas drasticamente da comunidade. Tinham que viver isoladas nas suas cabanas fora do povoado. Tinham que usar roupas rasgadas e gritar “impuro”, ao se aproximarem pessoas sadias. Se tivessem a ventura de ficar curadas, tinham que se mostrar aos sacerdotes, apresentar uma oferenda e obter um certificado de saúde. Só então podiam rein­gressar na comunidade. Tudo isso se encontra, apresentado com os mais minuciosos pormenores, no livro do Levítico em mais de um lugar.

Lamentavelmente, a catequese da Igreja em séculos passados ajudou a manter essa discriminação, inclusive por usar freqüente­mente a lepra como símbolo do pecado. Mas a Igreja, ao mesmo tempo, fez o melhor que pôde para socorrer esses irmãos discri­minados. Acolheu-os em casas de saúde especializadas, e deu todo o apoio aos esforços da medicina para a descoberta de remédios para a terrível enfermidade. E foi acolhendo as novas informações de que a doença é curável e não é tão perigosamente transmissível como se acreditava. O grande Papa Pio XII teve o grande mérito de dizer certa vez em público uma segura palavra a esse respeito, abrindo largo caminho para a nova mentalidade. E hoje os tempos são mais amenos para a consciência da Igreja e do mundo dentro do qual ela vive.Jesus curou muitos leprosos. O Evangelho o registra com freqüência. Numa dessas curas, narrada pelos três sinóticos e aco­lhida na Liturgia da Palavra deste sexto domingo do Tempo Comum, aparece maravilhosamente a confiança absoluta do doente no poder de Jesus e a prontidão com que o Senhor o curou. O leproso aproximou-se de Jesus, lançou-se de joelhos a seus pés e exclamou: “Senhor, se quiseres, podes curar-me”. E Jesus imediatamente estendeu a mão, tocou-o – Ele não partici­pava do tabu da antiga Lei – e disse: “Quero, fica curado” (Mc 1, 40-42). Em seguida mandou que ele se fosse apresentar ao sacer­dote para cumprir a prescrição da Lei e proibiu-lhe que divulgasse a notícia. Como se podia prever, o homem curado não foi capaz de atender à proibição de Jesus. Espalhou o mais que pôde a notícia, de tal sorte que Jesus nem podia mais entrar às claras em nenhuma cidade e tinha que se afastar para lugares desertos. O evangelista o registra, mas acrescentando que todos acorriam a Ele de toda parte.Aparece bem claro, no episódio, que Jesus atendeu ao pedido do leproso com uma prontidão que correspondia ao tama­nho da confiança e da fé que existia no coração daquele homem. E ficou a lição para nós. Para nos mostrar como a oração que diri­gimos a Deus para pedir-lhe alguma coisa deve ser alicerçada num fundo muito sincero de fé no poder de Deus e de confiança em sua bondade. “Se quiseres” é uma expressão que indica de maneira muito viva essa fé e essa confiança. Quantas vezes encontramos Jesus dizendo a quem lhe vem pedir uma cura: “Tem confiança, meu filho! “ A importância da fé em quem faz um pedido, ficou bem explícita no caso da mulher que tocou a orla do manto de Jesus para se ver livre de sua enfermidade:“Tem confiança, minha filha. Tua fé te salvou” (Mt 9, 22). Assim deve ser nossa oração. Sempre envolvida numa grande fé e numa firme confiança.Há comentadores que chamam a atenção para o fato de Jesus ter mandado que o leproso curado se apresentasse aos sacer­dotes. Estava apenas lembrando a ele o dever de cumprir a Lei? Ou tinha também a intenção de que o fato mostrasse aos sacer­dotes que o Messias tinha chegado e se estavam cumprindo as predições dos profetas a respeito de seu poder taumatúrgico? Tal finalidade não é improvável. E parece corresponder ao desejo de Jesus de se manifestar, fugindo sempre de interpretações de um falso messianismo. Afinal, a luz do Messias se devia revelar ao mundo.

LEITURAS para o VI domingo do Tempo Comum – Ano B:

1ª –  Lv 13,1-2,44-46.

2ª – 1Cor 10, 31-11, 1.

3ª – Mc 1, 40-45.

OS DOENTES PRECISAM DO NOSSO AMOR CONCRETO.

Reflexões e ilustrações de Padre Lucas de Paula Almeida, CM

Irmãos. Existem pessoas doentes em todas as comunidades. Quando a doença se junta, com a pobreza ou o desemprego. então a coisa piora.

As leituras bíblicas desta celebração vai falar sobre leprosos ou mor­féticos.

E vamos pensar um pouco na nos­sa obrigação, como comunidade cristã de olhar pelos doentes. É uma das atividades do Plano de Pastoral da Igreja, a Promoção Humana.

TEMA DO DIA

– Tenho o cuidado de visitar os doentes de nossa comunidade. ricos

ou pobres? Ou só visito os doentes ricos?

– Procuro ter em minha casa os cuidados para não pegar doença? Ensino aos outros como fazer uma higiene preventiva? Ou acho que isso é bobagem e não vale de nada?

– Ajudo em algum trabalho com os doentes? Ou deixo isso para os outros?

1ª ORAÇÃO

Ó Deus Pai, nós pedimos para o Senhor mandar para esta comunida­de o seu Espírito Santo. para que todos os que aqui se encontram pos­sam ouvir a sua Palavra e seguir as suas inspirações. Por Jesus Cristo, seu Filho que vive com o Senhor, na unidade do Espírito Santo.

1ª LEITURA: Lev. 13, 1-2. 44-46 (hebr. 45-46)

Reflexões sobre a 1ª Leitura

A gente acha que era uma judi­ação tratar assim os leprosos. Mas eram cuidados de higiene preventiva. Era para não pegar doenças nos ou­tros.

O sacerdote, no Antigo Testamen­to, era encarregada de examinar o doente e declarar se era lepra ou não. A lepra sempre foi figura do pecado.

REFLEXÕES SOBRE A 2ª LEITURA

São Paulo insiste para a gente fazer tudo para a glória de Deus. Nosso trabalho de promoção humana, de assistência aos doente, trabalho de Igreja. E’ uma forma de doação, um modo de mostrar o nos­so amor ao irmão. Isso ajuda também a salvação de muita gente.

EVANGELHO Mc 1, 40-45

Irmãos. As leituras de hoje chama­ram a atenção para o problema dos doentes em nossa comunidade.

  1. CUIDADOS DE HIGIENE PREVENTIVA.

A primeira leitura falou sobre isso. A gente acha esquisito aquele modo de tratar os morféticos, no An­tigo Testamento. Era para não pegar doenças nos outros.

A gente tem obrigação, diante de Deus, de tomar cuidado com as do­enças que pegam, para eIes não se alastrarem para os outros. E’ um dever de caridade. Temos de ter cer­tos hábitos de higiene.

  1. VISITAR OS DOENTES.

São Paulo desejar nós o imitemos, como ele imitou Cristo.

Vamos, então, refletir nos conselhos que ele nos dá hoje, na segunda leitura. Diz ele: Devemos fazer tudo para dar glória a Deus.

Assim as nossas visitas aos doentes, o cuidado com os que estão perren­gues não podem ser para a gente se mostrar que é bom. Devem ser, pe­lo contrário, para que Deus seja mais louvado e mais amado.

  1. CUIDAR DOS DOENTES COM AMOR

São Paulo nos falou:

Não podemos dar ou ser  es­cândalo, nem para os de fora, nem para os de dentro da Igreja.

Escândalo quer dizer: pedra onde os outros tropeçam e caem.

Se a nossa comunidade não cuida dos seus doentes com amor, esta­remos sendo pedra de escândalo para muita gente. Vão dizer: que comunidade crista é essa, que abandona os irmãos na hora em que eles mais precisam?

  1. DAR CONDIÇÕES DOS NOSSOS DOENTES FICAREM CURADOS

Eu faço força de agradar todo mundo, em tudo, disse São Paulo.

Estaremos ainda imitando Cristo, na medida em que procuramos também agradar a todos; em tudo.

Cristo se interessou pelo leproso, ouviu o seu pedido, teve dó dele e, o curou.

Nossa comunidade crista tem de se interessar pelos doentes, ricos ou pobres. Levar a eles uma palavra de conforto, ou uma ajuda, quando for preciso, para que fiquem curados.

  1. ZELAR PELOS DOENTES É DEVER NOSSO, COMO IGREJA.

Finalmente, disse São Paulo, te­mos de trabalhar pelo bem de todos, para que todos sejam salvos.

A salvação de Cristo não é só da alma mas do homem todo, e de to­dos os homens.

O leproso não agüentou ficar sem contar para todo mundo o que Cris­to fez nele.

Cuidando bem dos nossos doentes, seremos uma comunidade missionária. Mostraremos a todos que o Cristo continua presente aqui entre nós, pela nossa caridade.

PRECES DA COMUNIDADE

– Para que a nossa comunidade cristã cuide, com amor, dos nossos doentes, rezemos ao Senhor.

– Para que todos nós cumpra­mos nossa obrigação de visitar e levar conforto aos doentes, rezemos ao Senhor.

– Por todos os doentes, para que encontrem nos cristãos a caridade de Cristo, rezemos ao Senhor.

– Para que sejamos’ uma comu­nidade missionária, levando a todos, junto com a saúde, a salvação de Cristo, rezemos ao Senhor.

– Por todos os que se entregaram ao serviço dos doentes, a fim de Deus lhes conceder muita paciência e dedicação, rezemos ao Senhor.

ORAÇÃO SOBRE OS DONS

Deus Pai. apresentando ao Senhor os nossos dons, queremos colocar, na patena das ofertas, todos os do­entes de nossa comunidade e todos ós seus sofrimentos.

Conceda-nos, Senhor, sermos uma comunidade eclesial dedicada aos que sofrem de qualquer doença. Por Jesus Cristo, seu Filho, que vive com o Senhor, na unidade do Espírito Santo.

ULTIMA ORAÇÃO

 Pai celeste, ao mesmo tempo que agradecemos ao Senhor termos par­ticipado desta celebração de hoje, queremos pedir-lhe a graça e a for­ça de sermos uma verdadeira comunidade cristã, unida pelo amor e pela caridade, desempenhando com carinho o nosso dever de levar aos doentes o nosso conforto, a nossa amizade cristã e, se possível, também a cura de suas enfermidades. Por Jesus Cristo, seu Filho, que vive com o Senhor, na unidade do Espírito Santo.

PARA OS GRUPOS DE. REFLE­XÃO: PERGUNTAS

  1. Quais são os problemas que existem em nossa comunidade, com relação aos nossos doentes?
  2. Que vamos fazer juntos, se­guindo os conselhos de São Paulo e o exemplo de Jesus, para sermos uma comunidade que conforta, aju­da e salva todos os nossos doentes? Como?

PERGUNTA PARA O PLENÁRIO

Temos obrigação de cuidar também dos doente contagiosos? (Quer dizer: com doença que. pega?) Por quê?

LEITURAS para o VI domingo do Tempo Comum – Ano B:

1ª –  Lv 13,1-2,44-46.

2ª – 1Cor 10, 31-11, 1.

3ª – Mc 1, 40-45.

 

Reflexões e ilustrações de Padre Lucas de Paula Almeida, CM

Mc 1, 40-45

“E de toda parte, as pessoas iam procurá-lo”

O primeiro capítulo de Marcos termina com um trecho que pode esclarecer o quê significava para Jesus “ir adiante e pregar a Boa-Nova” (Mc 1, 38s). Marcos, diferente dos outros evangelistas, raramente nos conta o conteúdo da pregação de Jesus. Mas, ele ilustra esse ensinamento, relatando ações de Jesus que demonstravam o sentido da chegada do Reino e da sua Boa Notícia.

O texto de hoje conta a cura de um leproso. Os leprosos eram entre os mais marginalizados da época (mesmo que agora a medicina saiba que a doença de Hansen como tal não existia na Palestina do tempo de Jesus, e que essas pessoas sofreram de diversas doenças da pele e não da Hanseníase, propriamente dita!). Eram obrigados a viver fora da cidade ou aldeia, longe do convívio social, por motivos higiênicos e religiosos (Lv 13, 45-46). A única esperança do leproso de ser reintegrado na comunidade estava através de uma cura por parte de Jesus. Ele diz algo significativo “se queres, tu tens o poder de me curar”. Pois, em Marcos, Jesus nunca faz milagre para despertar a fé – pelo contrário só faz milagre onde a fé já existe. O milagre em Marcos nunca causa a fé, mas é a fé que causa o milagre. Isso se torna importante: recordar no nosso mundo tão entusiasto em correr atrás de supostos milagres e milagreiros, e pouco adepto a aprofundar a fé em Jesus no seguimento d’Ele até a cruz. O Evangelho de Marcos tem pouco lugar para a religião “light”, tão em voga hoje em diversos segmentos das Igrejas cristãs.

A reação de Jesus é interessante: “Jesus ficou cheio de ira” – certamente não com o leproso, mas com o sistema social e religioso que marginalizava uma pessoa humana em nome de Deus. As leis de pureza, inventadas pelos homens e atribuídas a Deus, tinham o efeito de excluir muitas pessoas da convivência humana e religiosa. O Evangelho nos desafia para que tenhamos a coragem de examinar as nossas leis e práticas para verificar se nós também não criamos classes de excluídos e cristãos da segunda categoria, em nome de Deus!

Depois da cura do leproso, encontramos um elemento característico do Evangelho de Marcos – o chamado “segredo messiânico”. Jesus proíbe que ele conte para os outros a história da cura! Que esperança! O homem sentiu necessidade de espalhar a boa-notícia da sua cura – naturalmente. Essa proibição vai aparecer muitas vezes em Marcos – e no relato da confissão de Pedro na estrada de Cesaréia de Filipe vamos ver o motivo atrás dele. Pois Jesus não quer que o povo siga-O, buscando prodígios e milagres, mas quer que todos se tornem os seus discípulos como o Servo de Javé, pegando a sua cruz na luta por um mundo melhor, a concretização do Reino de Deus. Por isso, é de desconfiar de pregações e celebrações religiosas que se limitam a experiências intimistas de Deus sem um engajamento na transformação do mundo e das suas estruturas.

Finalmente, o homem deve apresentar-se aos sacerdotes para que a sua cura seja autenticada, segundo as leis levíticas. Pois para Jesus, não basta a cura individual – Ele quer que todas as pessoas sejam integradas em uma vivência comunitária sem marginalização por causa de gênero, classe social, raça, cor ou saúde!

A fé em Jesus leva a um mundo totalmente diferente do mundo de exclusão que é a nossa atual sociedade neo-liberal e consumista! E diante dessa boa-nova de inclusão, o povo excluído corre atrás de Jesus, pois Ele manifesta a verdadeira face de Deus a eles, o Deus de bondade e perdão, cujo rosto tinha sido escondido pelas leis de puro e impuro do Templo e do sistema sacerdotal e farisaica da época – “e de toda parte as pessoas iam procurá-lo”.

LEITURAS para o VI domingo do Tempo Comum – Ano B:

1ª –  Lv 13,1-2,44-46.

2ª – 1Cor 10, 31-11, 1.

3ª – Mc 1, 40-45.

12 de Fevereiro de 2006  –   6º Domingo Comum

PRIMEIRA LEITURA (Lv 13,1-2.44-46) 

Livro do Levítico:

Senhor falou a Moisés e Aarão, dizendo: 2″Quando alguém tiver na pele do seu corpo alguma inflamação, erupção ou mancha branca, com aparência do mal da lepra, será levado ao sacerdote Aarão ou a um dos seus filhos sacerdotes. 44Se o homem estiver leproso é impuro, e como tal o sacerdote o deve declarar. 45O homem atingido por este mal andará com as vestes rasgadas, os cabelos em desordem e a barba coberta, gritando: ‘Impuro! Impuro!’ 46Durante todo o tempo em que estiver leproso será impuro; e, sendo impuro, deve ficar isolado e morar fora do acampamento”.

Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial (Sl 31)

R – Sois, Senhor, para mim, alegria e refúgio.

1 – Feliz o homem que foi perdoado/ e cuja falta já foi encoberta!/ Feliz o homem a quem o Senhor/ não olha mais como sendo culpado,/ e em cuja alma não há falsidade!

2 – Eu confessei, afinal, meu pecado,/ e minha falta vos fiz conhecer./ Disse: “Eu irei confessar meu pecado!”/ E perdoastes, Senhor, minha falta.

3 – Regozijai-vos, ó justos, em Deus,/ e no Senhor exultai de alegria!/ Corações retos, cantai jubilosos!

SEGUNDA LEITURA (1Cor 10,31—11,1) 

Primeira Carta de São Paulo apóstolo aos Coríntios:

Irmãos: Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus. 32Não escandalizeis ninguém, nem judeus, nem gregos, nem a Igreja de Deus. 33Fazei como eu, que procuro agradar a todos, em tudo, não buscando o que é vantajoso para mim mesmo, mas o que é vantajoso para todos, a fim de que sejam salvos. 11,1Sede meus imitadores, como também eu o sou de Cristo.

Palavra do Senhor.

EVANGELHO (Mc 1,40-45) 

PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo, † segundo Marcos.

Naquele tempo, 40um leproso chegou perto de Jesus e, de joelhos, pediu: “Se queres, tens o poder de curar-me”. 41Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele e disse: “Eu quero: fica curado!”. 42No mesmo instante a lepra desapareceu e ele ficou curado. 43Então Jesus o mandou logo embora, 44falando com firmeza: “Não contes nada disso a ninguém! Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o que Moisés ordenou, como prova para eles!” 45Ele foi e começou a contar e a divulgar muito o fato. Por isso Jesus não podia mais entrar publicamente numa cidade; ficava fora, em lugares desertos. E de toda parte vinham procurá-lo.

Palavra da Salvação.

O leproso curado

O leproso, implorando a cura (“purificação”), é apresentado como modelo dos cristãos que se dirigem ao Cristo Senhor. 0 conteúdo da oração é dado pelo verbo “purificar”, que relembra o contexto das prescrições levíticas destinadas a tutelar a santidade do povo de Deus  (Lv 13‑14). Nos textos bíblicos, com o nome de lepra, são designadas diversas doenças da pele que não coincidem com a moderna forma de lepra diagnosticada por Hansen em 1871. De qualquer forma, segundo a norma levítica, quem quer que fosse acometido por aquela enfermidade devia ficar segregado do convívio social até a completa cura, constatada pelo sacerdote.

Essa regulamentação religiosa da lepra dá a entender que a enfermidade atingia diretamente a pessoa em seu “status‑ social e religioso. Maria que murmurou contra o irmão Moisés, se tornou leprosa e, portanto, foi excluída da comunidade santa por sete dias (Nm 12,146). 0 rei Osias, que quis oferecer incenso no templo abusando de seu poder real, ficou leproso e, portanto, segregado pelo resto da vida (2Cr 26,16‑21). Essa relação entre a lepra e o “status‑ religioso do homem é ressaltada na tradição raffinica que vê na enfermidade um castigo de Deus por alguns pecados graves. Portanto, a libertação da lepra era reservada a Deus e aos homens de Deus, Moisés e os profetas (ef. Nm 12,9‑15; 2Rs 5,3‑14). Nesse contexto bíblico, entende‑se o sentido religioso do gesto de Jesus que cura o leproso. As palavras exprimem a força e a autoridade do seu gesto em favor do homem que é “purificado” de sua lepra. Tendo presente a ressonância religiosa dessa terminologia, isso poderia ser traduzido assim: a palavra eficaz de Jesus reintegra o leproso à condição humana em todas as dimensões, da física e pessoal à espiritual e social.

Nesse quadro altamente sugestivo, as últimas palavras de Jesus, que despede o homem curado, são uma confirmação de sua total reabilitação; ao mesmo tempo, revelam o valor cristológico e eclesial do evento. A ordem de calar‑se se contrapõe àquela de agir: “Não digas nada, mas vai  A ação salvadora de Jesus não tem necessidade de publicidade. Como servo humilde, ele não ama as badalações públicas.

A apresentação do homem curado ao sacerdote tem um duplo efeito: de um lado, prova que o tempo messiânico da salvação se inaugurou com a atividade libertadora de Jesus (Mc 6,13); de outro, é uma prova de sua fidelidade às prescrições legais relativas à lepra. Seu gesto não vai contra a lei, mas cumpre‑a, superando‑a. Onde age a força terapêutica de Deus não há necessidade daquelas instituições legais que segregam os leprosos sem eficácia salvífica. Portanto, os fiéis que oram e ouvem o Evangelho são exortados a dirigir‑se a Cristo, o Senhor Ressuscitado, com a confiança de que, também eles, sejam integralmente salvos.