Já tive ocasião de comentar mais de uma vez aquela passa¬gem das Lamentações – que a tradição costumava atribuir a Jeremias – em que o profeta e poeta bíblico chora a desolação em que ficou Jerusalém, destruída pelo exército de Nabucodonosor, no ano de 586 A.C.: “Os caminhos de Sião estão de luto, porque ninguém passa por eles para ir às solenidades” (Lm 1, 4). Não se vêem mais aqueles milhares de peregrinos que, nas grandes festas, se dirigiam a Jerusalém, enchendo os caminhos de cantos de alegria, dando graças pela fartura das colheitas realizadas e pedindo a bênção do céu para a semeadura do ano seguinte. Era como se a força da religião ritmasse os passos do povo. Sentia-se quanto estava viva nos corações a fé. Só mesmo a violência do inimigo pôde impedir tão belo canto de louvor a Deus.
Porém, ao ler essas palavras, eu sempre me volto com alegria para a realidade de nossa terra. Bem diversa dos caminhos solitá¬rios da Jerusalém arrasada. E fico contemplando com os olhos do espírito esse espetáculo tão consolador: ruas e caminhos repletos de gente que vai para a igreja. Antes de tudo, nos domingos. Sobre¬tudo nas comunidades do interior, cujas horas são marcadas pelo sino da torre da igreja – “sino, coração da aldeia…” E nas noites de maio. E na festa do “Corpo de Deus”. E de maneira especialíssima na Semana Santa: a procissão de Ramos, a procissão do Encontro, a procissão do Enterro, e a alegre procissão da Ressur¬reição na madrugada do domingo de Páscoa. É uma época em que a religiosidade popular, sabiamente aproveitada por zelosos pasto¬res, marca saudavelmente o ambiente cristão de nossa terra.
Mas – é claro! – essas manifestações de cunho popular não obscurecem o valor das cerimônias propriamente litúrgicas da Grande Semana. E o povo cristão vai aprendendo a viver cada vez mais densamente toda a riqueza dos ritos do Tríduo Pascal: desde a celebração da Ceia do Senhor, na noite da Quinta-feira Santa, depois a nobre majestade da liturgia das três horas da tarde da Sexta feira da Paixão, a grande Vigília Pascal da noite de Sábado Santo – a mãe do todas as vigílias, no dizer de Santo Agostinho _ e o desabrochar da plenitude da festa na liturgia do Domingo de Páscoa. É tudo tão denso de ensinamento! Uma riquíssima cate¬quese, que Impressionava os cristãos desde os primeiros séculos. Entre eles, a famosa monja francesa Etéria, do quarto século, que acompanhou toda a IIturgia da Semana Santa em Jerusalém, e descreve tudo com infinito encantamento na sua “Peregrinação aos Santos Lugares”, encontrada num manuscrito do século XI e publicada em 1887, com grande proveito para o conhecimento da geografia da Terra Santa e da praxe litúrgica daqueles tempos.
Porém o sentido de ensinamento e de catequese não é o principal da Liturgia. Ela é, antes de tudo, celebração e memoria!. O memorial da Redenção, como está sintetizado com felicidade nas “Normas do Ano Litúrgido e do Calendário”: “Cristo realizou a Redenção do gênero humano e a perfeita glorificação de Deus principalmente por meio de seu mistério pasca!. Nesse mistério, morrendo, destruiu nossa morte e, ressuscitando, restaurou a vida. Por isso, o sagrado Tríduo Pascal da Paixão e da Ressurreição do Senhor se nos apresenta como o ponto culminante de todo o ano litúrgico. A preeminência que tem em cada semana o dia do Senhor ou domingo, tem-na no ano litúrgico a solenidade da Pás¬coa” (nº 18).
Celebrar a Semana Santa é reviver aquilo que constitui o coração da História: o mundo salvo por Cristo. Pela sua obediência até à morte na cruz. Obediência que lhe valeu a glorificação: o patíbulo da condenação transformado num estandarte de vitória _ “Vexilla Regis” – e o nome de Jesus feito o nome mais glorioso de todos os nomes, diante do qual se dobram todos os joelhos, no céu, na terra e nos abismos da morte (Cfr FI 2, 10). Celebrar a Semana Santa é desvendar a imensidão do amor de Deus Pai, que deu seu Filho pela redenção do mundo. E é saber exclamar com São Paulo: “Longe de mim gloriar-me de qualquer outra coisa que não seja a cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, por quem o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo” (GI 6, 14). E é saborear toda a beleza deste canto de vitória: “0 Senhor ressus¬citou de verdade. Aleluia!”
LEITURAS do Domingo de Ramos – Ano B:
1ª – Is 50. 4-7.
2ª – Fl 2. 6-11.
3ª – Mc 14,1-15,47.
REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de PE Lucas de Paula Almeida,CM
DOMINGO DE RAMOS – ANO B
Meus irmãos. Com o Domingo de Ramos entramos na Semana Santa, também chamada de Semana Maior, já que nessa semana acontecem os maiores fatos da história da Salvação. Nestes dias vamos celebrar a paixão e morte e ressurreição de Jesus Cristo.
As leituras desta liturgia se misturam em dois fatos: A entrada triunfal de Jesus Cristo em Jerusalém, como rei pacífico e libertador do homem e sua paixão e morte, como geradoras de libertação e de paz. Então a história da paixão e morte não é apenas a história da paixão e morte de Jesus. È também a nossa história. É também assunto nosso, porque Jesus morre por nós e nesse seu comportamento de doação até o extremo, ele se torna modelo de doação e de combate a tudo o que se opõe à construção do Reino de Deus.
Por conseguinte, esta semana , não pode ser santa apenas de nome, nem somente uma repetição de fatos passados ou de coisas conhecidas. Não podemos, nem devemos nesses dias olhar apenas para os fatos históricos. È preciso neles enxergar o sentido salvador que trazem. Temos de viver a semana santa, comparar a nossa vida, com a vida de Jesus, pois o cristão deve ser um outro cristo.
Vamos nestes dias celebrar e reviver o que aconteceu com Jesus há dois mil anos. A paixão e morte de Jesus ainda não terminou. Cristo continua sofrendo as dores dos homens. O caminho do calvário ainda existe. O caminho do calvário passa por nossas cidades, corta as nossas ruas e atravessa as nossas casas. Portanto, nessa semana não iremos apenas recordar o que se passou com Cristo, mas reviver este acontecimento que se prolonga através dos séculos.
Nós iniciamos a Semana Santa com a benção dos ramos. O ramo é símbolo da paz . Com isso nós queremos dizer que queremos dizer que somos gente de Paz, queremos construir a paz, ser pessoas de paz nesse mundo tão conturbado e sem paz.
Os ramos também enfeitam a imagem dos mártires. Ao mesmo tempo que nos fala de sofrimento, também nos fala de vitória. Ao levarmos conosco estes ramos queremos expressar a nossa adesão, a nossa entrega à pessoa de Jesus Cristo. Queremos também abraçar a causa de Jesus, ser suas testemunhas pela aplicação de seus ensinamentos na nossa vida prática.
Este Domingo de Ramos é, por assim dizer o resumo de toda a semana santa, porque faz a gente passar da alegria do triunfo passageiro de Jesus Cristo para as dores e sofrimento de sua paixão e morte, e ao mesmo tempo nos dá a certeza da ressurreição. É por isso que penso que este Evangelho de hoje t em muito a ver com a nossa vida. E é por isso que não basta que ele seja lido, ou escutado, mas deve ser rezado e meditado, colocálos na nossa vida, vivenciá-los.
Este evangelho tem muito a ver conosco, com a nossa vida. Como Jesus teve aqueles momentos de alegria na entrada triunfal em Jerusalém, assim nós também temos nossas alegria nas verdadeiras amizades (especialmente com os nossos novos e antigos internautas que Deus está colocando em minha vida através desses cursos) nas nossas famílias, nas nossas comunidades, nas nossas festas, nas nossas atividades religiosas e nos nossos trabalhos.
Como Jesus teve seus momentos de sofrimentos e de tristezas, ao ser preso, julgado, caluniado e assassinado no alto da cruz, assim também temos nossos sofrimentos, nossas dores, nossas tristezas com as cruzes de cada dia que Deus nos proporciona.
É bom que a gente saiba que a nossa vida é assim mesmo, cheia de dicotomia: “ alegria e tristeza, noite e dia , de humilhação e glorificação; alegria e tristeza, saúde e doença, de vida e morte, de pecado e graça. É importante que cada um de nós viva e reflita sobre este mistério: Mistério de morte e vida e essas duas coisas se juntam para fazer o mistério da vida cristã. E cada um de nós sofre, contempla e vive esse mistério: Mistério de luz e de trevas, de morte e de vida, de graça e pecado.
Somos, por conseguinte, convidados a aprender com Jesus Cristo a aceitar e assumir a nossa vida como ele é, com suas dores e dificuldades, com suas vitórias e fracassos, descobrindo em tudo a mensagem de Deus que é Pai e que nos leva sempre para o bom caminho.
CONCLUSÃO
De tudo o que falamos deste Domingo de ramos que é o resumo da Semana Santa- tempo de Deus, podemos tirar uma conclusão importante:
Esta Semana só pode ser Santa, a partir das nossas atitudes. Porque para muita gente nem folcloricamente ela é santa, porque passam-na longe da Igreja, longe da oração, longe de Deus, ou numa fazenda, ou numa praia, aproveitando o descanso que a que nos concede.
Vamos , pois , fazer desta semana um tempo de reflexão e de oração, mas também um tempo de luta e de esforço para que a vida seja mais parecida com Jesus e para que lutemos contra o egoísmo que escraviza e trabalhemos com todas as nossas força para que o amor de Cristo reine aqui na nossa comunidade e na minha casa.
Amém!
REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de PE Lucas de Paula Almeida,
DOMINGO DE RAMOS – ANO B- A GRANDE SEMANA
Tenho certeza de estar proclamando aquilo que está no mais profundo da consciência da Igreja, ao afirmar que a Semana Santa é o tempo mais bendito do calendário dos cristãos. É tudo muito nobre e muito sagrado!
O triunfo de Ramos no domingo da abertura da Semana comemora a entrada jubilosa de Jesus em Jerusalém, quando já era tarde para continuar a guardar segredo a respeito de sua condição de Messias, e o Divino Mestre aceitou que o povo se expandisse nas suas manifestações de alegria, cantando: “Hosana ao Filho de Davi!”
Toda a Semana é marcada por um clima de penitência e de humildade, através do qual os fiéis abrem seu coração diante de Deus, para que o Divino Salvador cubra com sua misericórdia a multidão de nossos pecados. A Quinta-feira Santa celebra a instituição da Eucaristia e revive em nossas igrejas o Cenáculo onde Jesus celebrou a última Ceia.
A Sexta-feira da Paixão é assinalada por um momento de dolorosa intensidade, quando, às três horas da tarde, lembramos aquelas três horas da tarde do dia 14 de Nisan, em que a cruz se plantou no alto do Calvário em Jerusalém, e o Redentor deu sua vida pela salvação do mundo. Nessa hora a comunidade cristã se reúne na igreja e se celebra uma especial Ação Litúrgica solene, feita de leituras, orações e adoração da Cruz.
E a tarde e a noite dessa mesma Sexta- feira é ainda significativamente marcada pelas celebrações de cunho popular: o Descendimento da cruz, e a Procissão do enterro, quando as ruas das cidades se transformam em multiplicados cortejos de cantos e orações, como que santificando todo o ambiente em que o povo mora e trabalha. E, quando a noite já vai alta no seu curso, ressoam ainda os ecos do cântico da Verônica, convidando a chorar os infinitos sofrimentos de Jesus: “O vos omnes…” -Ó vós todos que passais pelo caminho, parai e vede se há dor igual à minha dor.
Vem depois o respeitoso silêncio do Sábado Santo, comemorando o sepulcro do Senhor, onde Ele “repousou”, como repousa o operário cansado, para despertar na madrugada do primeiro dia da semana, esse dia que por isso passou a se chamar “domingo”, isto é, “o dia do Senhor”. Por isso mesmo, a noite do Sábado é iluminada pela gloriosa Vigília Pascal, com toda a riqueza das cerimônias de que ela se compõe: a bênção do fogo e do círio pascal; a riquíssima liturgia da Palavra, do Antigo Testamento e do Novo, terminando com a proclamação do evangelho da Ressurreição de Jesus; a bênção da água do batismo e a eventual celebração de alguns batizados; e a solene Eucaristia da Ressurreição. E essa alegria pascal se prolonga porto do o Domingo de Páscoa, até a recitação das Vésperas no fim do dia.
Os fiéis, hoje mais informados sobre as riquezas da Liturgia, sabem que o núcleo principal da Semana Santa é o Tríduo pascal- o sacratíssimo Tríduo do Crucificado, do Sepultado e do Ressuscitado, como nos ensina Santo Agostinho. Esse Tríduo se inicia com a missa vespertina da Ceia do Senhor na Quinta-feira e se estende até a Oração da Tarde do Domingo da Páscoa, quando se conclui.
E esses mesmos fiéis mais informados sabem que cada missa comemora e revive o Mistério Pascal do Senhor, – isto é, sua Morte e Ressurreição – pelo qual, morrendo, Ele destruiu nossa Morte, e, ressuscitando, restaurou a vida. Por isso mesmo, a Eucaristia é o centro e o ápice da Liturgia e de toda a vida da Igreja.
Já foi observado muito oportunamente que a posição de Jesus de braços abertos no alto da Cruz, não era apenas porque suas mãos estavam pregadas no madeiro. Queria significar também o gesto do orante, de braços abertos, rezando por toda a humanidade. A mais séria e a mais solene de todas as orações do mundo: o próprio sacrifício de adoração, de ação de graças e de propiciação que Jesus, Homem verdadeiro, representando todos os homens de todos os tempos, oferecia ao Pai celeste.
Como que comemorando o momento dessa solene oração, a Liturgia coloca na Ação Liturgica das três horas da tarde da Sexta-feira da Paixão, aquela que se chama “Oração Universal”. Nela a comunidade orante reza por todas as intenções do mundo: pela Igreja, pelo Papa, pelo Clero e pelos Leigos, pelos catecúmenos, pela unidade dos cristãos, pelos judeus -OS primeiros a quem Deus falou -, pelos que não crêem no Cristo, pelos que não crêem em Deus, pelos poderes públicos, e por todos os – que sofrem provações. É como que a misericórdia da Igreja, sombra da misericórdia de Jesus sobre o mundo, rezando por toda a humanidade. Nunca se poderá louvar bastante a sabedoria que inspirou essa oração.
LEITURAS DO DOMINGO DE RAMOS -ANO A:
1a) 1S 50,4-7
2a) Flp 2,6-11
3a) Mt 26, 14-27, 1-66