EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

O AMANHECER DO EVANGELHO

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

DOMINGO DE PENTECOSTES -ANO C

“E RENOVAREIS A FACE DA TERRA”

No poema da Criação, que se lê na primeira página do Gênesis, o autor sagrado diz que, por sobre o abismo confuso em que se encontrava o Mundo em seu momento inicial, “o sopro de Deus pairava sobre as águas” (Gn 1,2).

Seria uma referência a um vendaval cósmico que se desencadeava sobre o caos, completando a sua confusão? Ou será talvez melhor a afirmação de que o espírito vivificador de Deus de certo modo pairava como um pássaro sobre a matéria, como que em função de “incubação”, preparando-a para ter forma e vida?

Corresponderia ao que está no salmo 32: “O céu foi feito com a palavra do Senhor, e seu exército (astros e constelações) com o sopro de sua boca” (v. 6).

0 fato é que, ao longo de toda a Bíblia, aparece sempre o sopro de Deus como fonte de vida. Assim é que Deus soprou no rosto de Adão, depois que o plasmara do barro da terra, e ele se transformou em pessoa viva (Gn2, 7).

E todos os seres vivos têm vida pelo sopro de Deus. Se ele retira esse sopro, tudo morre: “Se escondes teu rosto, eles se apavoram; se Ihes retiras a respiração, morrem e voltam ao pó da terra. Mas, se envias teu sopro, são recreados, e assim renovas a face da terra” (S11 03, 29-30).

No Novo Testamento também, vamos encontrar Jesus ressuscitado soprando sobre os apóstolos, para que recebam o Espírito Santo e tenham o poder de perdoar os pecados. Porém o mais grandioso é quando, na manhã de Pentecostes, um grande vendaval soprou em Jerusalém – eco do vendaval cósmico do princípio do mundo? – e desceu sobre a comunidade inicial da Igreja o Espírito Santo, em forma de línguas de fogo, e eles ficaram repletos de uma nova vida e de uma nova luz. Começava um novo mundo. Começava o tempo da Igreja.

E essa Igreja viverá animada pelo sopro de Deus: não um simples influxo de Deus sobre as coisas, mas a pessoa divina do Espírito Santo, “Senhor que dá a vida, e procede do Pai e do Filho, e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado” (Símbolo Niceno-Constantinopolitano).

A Igreja é um corpo vivo. Não é apenas uma estrutura de perfeita exatidão canônica e de leis e rubricas muito bem formuladas. É vida! Vida que o Espírito Santo infunde em cada batizado, e que se manifesta sobretudo no amor a Deus e ao próximo que constitui a essência do cristianismo: “O amor de Deus se difundiu em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5).

Tem-se a impressão de que essa é como que uma síntese de tudo o que o Concílio Vaticano II quis ensinar à Igreja. Que os cristãos vivam seu cristianismo com novo viço, nova convicção, novo entusiasmo. Esse é o verdadeiro “aggiornamento” -o pôr-se em dia -da Igreja. Isso é que se irá manifestar nas estruturas oportunamente atualizadas, na fidelidade a todos os compromissos religiosos, na oração e nas atividades de toda a Igreja. E daí é que se derramará para o mundo a influência formadora da Igreja, depositária das verdades permanentes.

0 Papa João XXIII costumava dizer que o Concílio seria como um novo Pentecostes e como uma primavera da Igreja. Aí está bem nítida a idéia de vida que o Vaticano quis trazer. Não apenas renovação de estruturas e organismos, mas sobretudo um novo sopro de vida e de esperança. Que beleza que pode ser para um mundo desesperançado uma Igreja portadora de esperança!

Num jardim bem organizado é importante a geometria dos canteiros bem planejados e bem construídos. Mas o importante mesmo são as flores que neles se vão plantar. 0 importante é que elas sejam bonitas e viçosas. Os canteiros podem ser até modificados, se não estiverem favorecendo a vida das flores. Elas é que não se podem perder. É o que queremos para a Igreja. Leis e rubricas muito sábias. Mas, antes de tudo, vida e santidade: fé, amor, fraternidade, verdade, justiça, concórdia, paz. “Para que vejam nossas boas obras e glorifiquem o Pai que está nos céus” (Mt 5, 16).

LEITURAS da Solenidade de Pentecostes – Ano C:

1a) At 2,1-11

2a) 1Cor 12, 3b-7.12-13

3a) Jo 20, 19-23