EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

O AMANHECER DO EVANGELHO

REFLEXOES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

A MULTIDÃO DOS QUE SE SALVAM

Há uma pergunta que sempre aparece na curiosidade dos que refletem sobre a vida eterna: são muitos ou são poucos os que se salvam? Fizeram essa pergunta também a Jesus: “Senhor, são poucos os que se salvam? (Lc 13,23). No VI livro de Esdras -apócrifo -há uma fria resposta pessimista que diz que são mais numerosos os que se perdem. Jesus não deu uma resposta direta. Preferiu, mais sabiamente, dar uma norma de salvação: “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita” (Ibid., v 24).

Como dizia com simplicidade pastoral um santo sacerdote do clero de Turim, canonizado pela Igreja, São José Cafasso, “a porta é estreita, mas não é preciso entrar todos de uma vez”, Cada um pode e deve esforçar-se por entrar. E, por mil lugares da Escritura, e pela norma geral de Deus, que é a misericórdia, tudo faz pensar num número muito maior dos que se salvam. Na primeira carta a ” I Timóteo está escrito que “Deus, nosso Salvador, quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1 Tm 2,4).

E, no Apocalipse, o Vidente apresenta no triunfo dos eleitos no céu, além dos doze mil assinalados – número de plenitude – de cada uma das doze tribos de Israel, “uma grande multidão que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas” (Ap 7,9).

Aliás, é isso mesmo que irá dizer Jesus na sua resposta, quando, depois de alertar para o perigo de “chegar tarde para o banquete do céu” – os que pretendessem fiar-se de seus supostos privilégios de Povo de Deus – diz que “virão do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul, e tomarão lugar a mesa do Reino de Deus” (Lc 13, 29). Isso, evidentemente, quer significar a multidão universal dos que se salvam.

Mas vamos prestar atenção à palavra admoestadora de Jesus. A porta é estreita, e temos que nos esforçar para entrarmos por ela. Noutras palavras, a tarefa da salvação é árdua e supõe empenho e sacrifício da nossa parte. Em nenhum lugar se fala de facilidades. Ao contrário, se fala de uma permanente luta contra o mal. “A vida do homem na terra é uma batalha”, escreveu Jó (Jó 7, 1). Bastaria lembrar o lugar em que São Paulo nos diz que temos de deixar “as obras das trevas e revestir-nos da armadura da luz”. Viver na plena luz, do dia, como é próprio de quem faz o bem. “Não em orgias e bebedeiras, nem em devassidão e libertinagem, nem em rixas e ciúmes. Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não procureis satisfazer os desejos carnais” (Rm 13, 13-14).

E ele irá dizer coisas parecidas, na carta aos gálatas, que cita uma porção de vícios que grassam no mundo, e afirma solenemente: “Os que procedem assim não herdarão o Reino de Deus”.

Porque o Reino de Deus é para aqueles que dominam os instintos inferiores e vivem colhendo os frutos do Espírito, que são “amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio, castidade” (GI5, 21-22). Esse quadro dos frutos do Espírito Santo é tão confortador, que anima o cristão a lutar para conseguí-lo. E, embora a luta seja árdua, jamais nos faltará a graça de Deus para vencer as dificuldades.

Diante do espetáculo empolgante das Olimpíadas, onde milhares de atletas, primorosamente treinados, disputam as medalhas de ouro, de prata e de bronze, como se tornam atuais as palavras de São Paulo, inspiradas pelo entusiasmo dos coríntios para os famosos jogos ístmicos : “Os atletas que realizam competições no estádio, todos correm na verdade, mas só um consegue o prêmio. Vós, que sabeis disso, tratai também de correr no estádio da vida, com a disposição de conseguir ganhar o prêmio. Os que participam das lutas se submetem a rigoroso regime para conseguir uma coroa de louros que dura tão pouco! Não é justo, então, que vós renuncieis a certas coisas para conseguir a coroa da eternidade? Eu, de minha parte, estou na luta. Pratico uma espécie de pugilato espiritual, mas sei onde bato. Não fico dando socos no ar. Trato rudemente meus instintos e os submeto a severa disciplina. Pois não quero que, enquanto estou torcendo pela vitória dos outros, acabe eu mesmo sendo derrotado” (1 Cor 9,24-27).

É bom aprender a lição de São Paulo, e lutar pela nossa salvação pelo menos com o mesmo entusiasmo dos atletas das olimpíadas.

LEITURAS do XXI Domingo do Tempo Comum – Ano C:
1a) Is 66, 18-21
2a) Hb 12, 5-7.11-13
3a) Lc 13, 22-30