EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

O AMANHECER DO EVANGELHO

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

A TRANSFIGURAÇÃO NO MONTE TABOR –

https://www.youtube.com/watch?v=wPrDLS0QJ9E

ANTES E DEPOIS DA TRANSFIGURAÇÃO II DOMINGO DA QUARESMA –

https://www.youtube.com/watch?v=Xf8uTxWuamQ&t=52s

II DOMINGO DA QUARESMA – ANO C

“E TRANSFIGUROU-SE DIANTE DELES”

A mesa da Palavra deste domingo aproxima para a nossa reflexão dois altos montes: o monte Moriá, onde Abraão, por ordem de Deus, se dispunha a imolar Isaac, e o monte Tabor, que foi o cenário da Transfiguração de Jesus. E por detrás desses dois montes entrevê-se um terceiro, não tão alto como altura material, mas o mais alto do mundo pelo seu significado na História da Sal­vação: o monte Calvário.

No alto do Moriá – que, segundo a tradição, é o mesmo no qual Salomão edificou o Templo de Jerusalém, lugar definitivo dos sacrifícios do culto do Povo de Deus – Abraão ia cumprir a ordem de Deus, num supremo gesto de fidelidade, imolando seu filho úni­co, Isaac. Mas era apenas uma prova. Na hora da execução, o anjo de Deus deteve o braço de Abraão. O menino foi poupado. E o Patriarca imolou no lugar dele um carneirinho que ali apareceu com os chifres enredados entre os ramos. E, para premiar a fideli­dade de Abraão, Deus lhe prometeu uma descendência tão nume­rosa como as estrelas do céu e como as areias da praia do mar (cfr. Gn 22, 1-18). Isaac, subindo a montanha com o feixe de lenha às costas, ficou sendo símbolo de Cristo, subindo o Calvário com a cruz às costas. Mas é preciso notar logo a grande diferença. No Cal­vário não houve a substituição da vítima, como quando Isaac foi trocado por um carneirinho. Jesus é o próprio “Cordeiro de Deus”, e foi imolado pela salvação do mundo. Deus Pai “não poupou seu próprio Filho, mas o entregou à morte por todos nós” (Rm 8, 32).

No alto do Tabor, Jesus realizou a Transfiguração. Na pre­sença dos discípulos Pedro, Tiago e João – as testemunhas dos grandes momentos – seu rosto se tornou brilhante com o sol e suas vestes ficaram alvas como a neve.

São Marcos, num toque agrada­velmente familiar, comenta que nenhum tintureiro da terra seria capaz de conseguir uma alvura igual. E apareceram Moisés e Elias ao lado de Jesus, conversando com Ele.

Uma nuvem branquíssima os envolveu a todos, e do meio da nuvem se ouviu a voz do Pai do céu, dizendo: “Este é meu Filho amado. Escutai-o”.

O entusiasmo dos discípulos foi tão grande, que Pedro propôs que se erguessem ali três tendas – para Jesus, para Moisés e para Elias – e ali ficassem para sempre. Mas a visão desapareceu.

E desceram a montanha, recebendo de Jesus a determinação de que nada contassem a nin­guém, senão depois que Ele ressuscitasse dos mortos (cfr Mc 9,1-9).

E preciso sublinhar com São Lucas que Moisés e Elias ­representavam a Lei e os Profetas – conversaram com Jesus a respeito de sua morte, que estava para acontecer em Jerusalém” (Lc 9, 31).

Por onde se vê que a Transfiguração tem uma ligação íntima com a morte de Jesus no Calvário.

Ela vem mostrar um reflexo da glória final da Ressurreição, mas acentuando que essa glória deve passar pela cruz.

Jesus havia falado muitas vezes da glória futura. Porém, a realidade de sua vida, como o presenciavam os discípulos, era marcada pelo sofrimento, pelas perseguições, e pela ameaça da morte, que se tornava cada vez mais insistente.

Para que a fé não desfalecesse no coração dos discípulos, quis dar-Ihes, podemos dizer, uma “amostra” do que seria a felicidade futura.

E essa amostra foi tão persuasiva, que São Pedro guardou-lhe a lembrança bem viva até o fim da vida.

E, na sua segunda carta, “ainda na tenda terrestre, mas prestes a despedir-se dela”, escreve que, quan­do fala da vinda gloriosa de Cristo na parusia, não está inventando fábulas, mas está baseado na experiência, que teve- quando viu sua glória lá no monte santo (cfr 2Pe 1, 16-18).

A Transfiguração nos mostra como a vida cristã tem que ser iluminada pela luz da esperança. Uma como música do céu, res­soando em surdina no fundo do nosso coração, no meio das tribulações da vida terrena.

Um dia nós O veremos, como lembrou São Pedro aos destinatários da sua carta. O que não podemos é querer, como ele o pretendeu lá no Tabor, ficar no embevecimento de um êxtase permanente de felicidade, enquanto temos ainda o compro­misso de construir a cidade terrena.

E, como nos ensina o Vatica­no II, “a esperança de uma nova terra, longe de atenuar, deve, antes, impulsionar a solicitude pelo aperfeiçoamento desta terra.

Nela cresce o corpo de uma nova humanidade, que já pode apre­sentar algum esboço do mundo novo.

Por isso, ainda que o pro­gresso terreno deva ser cuidadosamente distinguido do crescimento do Reino de Cristo, contudo, na medida em que pode contribuir para melhor organizar a sociedade humana, esse progresso é de grande interesse para o Reino de Deus” (G S, 39/319). Poder-se-ia dizer: um mundo iluminado pela esperança é um mundo melhor. Nele haverá a verdade, a justiça, o amor e a paz.

Leituras do II Domingo da Quaresma – Ano C:

1a) Gên 15,5-12.17-18

2a) Fl 3,17-4,1

3a) Lc 9,28b-36