EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

O AMANHECER DO EVANGELHO

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

III DOMINGO DA PÁSCOA -ANO C

“UMA PESCA SIMBÓLICA”

No final do capítulo XX do seu evangelho, São João escreveu: “Jesus fez, diante de seus discípulos, muitos outros sinais ainda, que não se acham escritos nesse livro. Estes, porém, foram escritos para crerdes que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida eterna em seu nome” (Jo 20, 30s).

Era o fecho do evangelho. Porém, mais tarde, João – ou talvez um de seus discípulos – resolveu acrescentar um capítulo. E esse vigésimo primeiro capítulo é preciosíssimo: contém a narração da pesca milagrosa e o episódio da entrega do Primado a Pedro.

O grupo de pescadores – eram sete, tendo Pedro à frente, na chefia de seu barco – tinha labutado a noite inteira, sem nada conseguir pescar. Ao amanhecer, apareceu Jesus na praia, sem que eles o reconhecessem, e lhes disse: “Lançai as redes à direita do barco, e achareis” (Jo 21, 6).

E eles obedeceram. Quantas vezes um desconhecido tem um “palpite” feliz! Poderia ser um pescador experimentado! E era muito mais do que isso: era o Senhor dos peixes e das águas! Lançaram a rede. E ela se encheu tanto, que mal tinham força para puxá-la para fora. Foi quando João reconheceu a Jesus: “É o Senhor! (v 7). Então todos recompuseram da melhor maneira possível suas roupas de trabalho, e rodearam o Mestre em feliz alvoroço.

Quando chegaram à praia, viram que Jesus Ihes estava já preparando uma refeição de peixe e pão. trouxeram logo mais alguns dos peixes pescados, para completar a refeição, e os puseram a assar sobre as brasas preparadas por Jesus. É preciso notar que essa pesca é um símbolo da plenitude dos fiéis que se iriam reunir na Igreja.

A mesma plenitude que apareceu na multiplicação dos pães, e no vinho precioso das bodas de Caná da Galiléia. E a rede é a rede da parábola do Reino. E a barca é a barca de Pedro, o centro da difusão do Evangelho, púlpito definitivo na Igreja missionária.

Poderíamos trazer ainda uma consideração feita por Santo Agostinho. O texto evangélico conta que o apóstolos contaram os peixes pescados, como fazem todos os pescadores numa espécie de ufania profissional.

Os peixes eram cento e cinquenta e três. Porque? pergunta Santo Agostinho, que achava que na Escritura todas as palavras tinham sua razão de ser. E descobriu que 153 é a soma dos números de 1 até 17: 1 + 2 + 3 + 17 = 153. Ora, 17 é a soma de 10+ 7.

Poderia, então, lembrar os 10 mandamentos e os 7 dons do Espírito Santo. Como que para significar que a vida dos cristãos tem que ser pautada pela observância dos dez mandamentos, porém vivificada pelos sete dons do Espírito Santo: uma vida que une a Lei e o Espírito. Curiosa aplicação!

Em seguida, o Evangelho narra o preciosismo diálogo de Jesus com São Pedro, momento solene em que lhe confere o primado de pastoreio sobre toda a Igreja. -“Simão, filho de João – perguntou Jesus a Pedro, usando o nome primitivo, que, segundo o Padre Vieira, cheirava ao breu da barca – tu me amas mais do que estes?”

Pedro respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo”. E Jesus: “Apascenta os meus cordeiros”. Jesus fez de novo a mesma pergunta e Pedro deu a mesma resposta. Ao que Jesus acrescentou: “Apascenta as minhas ovelhas”. E Jesus repetiu a pergunta pela terceira vez. Foi quando Pedro sentiu renascer-Ihe no profundo da alma o remorso de um antigo pecado: quando renegara por três vezes a Jesus, no palácio dos Pontífices de Jerusalém, na noite da grande Traição. E respondeu, então, como que cauteloso: “Senhor, Tu sabes tudo, Tu sabes que te amo”. E Jesus completou: Apascenta as minhas ovelhas” (crfJo21,15-17).

Desde esse dia, a Igreja, o rebanho infinito que vai crescer até ao fim dos tempos, está entregue a Pedro e a seus sucessores. E o modelo do Papa, dos Bispos e de todos os ministros da Igreja é o coração de Pedro. Cada um deve poder dizer: Senhor, Tu sabes tudo, Tu sabes que te amo.

LEITURAS do III Domingo de Páscoa -Ano C:

 

1 a) At 5, 27b-32. 40b-41

2a) Ap5,11-14

3a) Jo 21,1-19