Jo 2, 13-17- DEDICAÇÃO DA BASÍLICA DO LATRÃO                                                                        – A Bíblia explicada em Capítulos e Versículos –                                                                             – O Amanhecer do Evangelho –                                                                            Reflexões e Ilustrações de Pe. Lucas de Paula Almeida, CMDEDICAÇÃO DA BASÍLICA DO LATRÃO

Era particularmente notável entre os antigos israelitas o sentimento de profundo temor diante da majestade de Deus. Ao passo que nós, da geração do Novo Testamento, preferimos aproximar-nos de Deus em atitude de confiança e de amor.Os santos Padres notam, por exemplo, a evidente diferença entre a promulgação da Lei de Moisés no monte Sinai, onde Deus se manifesta num quadro de relâmpagos e trovões e toques de trombeta, e no meio dos novelos da fumaça de uma densa nuvem, e a proclamação da lei de Jesus, na tranquila paz do Monte das Bem-aventuranças, no meio de discípulos cheios de uma atenção toda feita de amor.Estamos lendo neste domingo como primeira leitura – preparando o evangelho da expulsão dos vendilhões do Templo – a cena da promulgação do Decálogo no Sinai: bom ler a narração completa no livro do Êxodo, para ver como é empolgante a descrição feita pelo escritor sagrado. Dá bem uma noção do imenso temor de Que se sentia possuído o povo, diante da manifestação de Deus no alto da montanha.E aí se elencam os dez mandamentos, com ênfase especialíssima em tudo o que se refere à adoração de Javé, ao repúdio da idolatria e à reverência devida ao nome do Senhor. Não seria fora de propósito notar que o modo de dividir os mandamentos em dez é diferente nos diversos autores antigos, como Fílon, Flávio Josefo ou Orígenes. A sequencia adotada pela Igreja é a de Santo Agostinho.No conjunto formam essa lei fundamental que está na consciência de toda a humanidade e que, se faltasse, tornar-se-ia impossível uma convivência pacífica e honesta entre os homens. Mas no Sinai ela é transmitida pela autoridade pessoal de Deus, Senhor da História. Esse Deus que se apresenta como aquele que livrou o povo da escravidão do Egito e que, portanto, tem direito à sua obediência e vem fazer com ele um pacto.Esse pacto – a “aliança” – se consagrou com um soleníssimo sacrifício, oferecido sobre um altar rodeado de doze estrelas, representando as doze tribos de Israel. No fim da exposição da Lei, feita por Moisés, o povo se comprometeu a cumpri-Ia e foram todos aspergidos com o sangue dos novilhos imolados. Era a promulgação da carta nacional e religiosa de um novo povo. E foi gravada em duas tábuas de pedra, que se conservaram na Arca, chamada, por isso mesmo, a “Arca da Aliança”. Ela permanecerá para sempre, elevada e santificada pela Lei nova do Evangelho, onde, aliás, Jesus sintetiza tudo na lei do amor: “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. A Lei e os profetas, tudo está aí compendiado.A página do evangelho de São João, que se vai ler em seguida, focaliza um grave desrespeito ao segundo mandamento. E a cena da profanação do Templo, onde circulavam mercadores de bois, de ovelhas e de pombos, e onde os cambistas faziam as trocas de moedas. Jesus repudiou tudo aquilo energicamente, fazendo até um chicote de cordas para expulsar todos aqueles profanadores, dizendo-lhes: Tirem tudo isso daqui! Não façam da casa de meu Pai uma praça de comércio. Pois, na verdade, tinham transformado a casa de oração num antro de negócios, nem sempre honestos. E o Divino Mestre não poderia mesmo tolerá-Io.Mas no gesto de Jesus havia algo de mais profundo. Antes de tudo, é preciso notar que os judeus reclamaram contra Jesus. Só um profeta de grandes poderes teria autoridade para fazer gestos assim. E perguntaram que sinal Jesus poderia dar de que tinha tal poder. Jesus prometeu um sinal solene: “Destruí este templo e em três dias eu o reerguerei”. E eles reclamaram de novo: “Quarenta anos foram necessários para construir este Templo, e tu em três dias serias capaz de reerguê-Io?” Mas Jesus falava do templo de seu corpo. Os discípulos bem o reconheceram depois da Ressurreição e creram no que Ele havia dito (cf. Jo 2,13-22).Pois justamente aí está a grande lição que os comentaristas da Escritura nos ajudam a descobrir. Com a vinda de Jesus, o Templo de Jerusalém ia perder seu sentido. Vem a hora – irá dizer Jesus à Samaritana – e já chegou, em que os verdadeiros adoradores não mais adorarão no Templo de Jerusalém, nem no monte Garizim, na Samaria. Adorarão o Pai em espírito e verdade, isto é, em tudo aquilo que Jesus nos comunica (cfr Jo 4,21-24). O verdadeiro lugar da adoração de Deus é agora o próprio corpo glorificado de Jesus, “0 templo reconstruído em três dias”. Ele é o centro do culto em espírito e verdade. Ele é o lugar da presença divina (Jo. 1,14). Ele é o verdadeiro “sagrado”, que substituiu o antigo lugar sagrado do povo de Israel.O AMANHECER DO EVANGELHO
EVANGELHO DO DIA E HOMILIA
REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE

PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

Nessa passagem, contém um ensinamento claro e inequívoco de Jesus no templo. Anteriormente, João Batista havia dado testemunho de Jesus dizendo que ele era o Messias (1,29), os primeiros discípulos, após a indicação de João Batista, o reconheceram como o Cordeiro de Deus, que era uma nota messiânica: inaugurar uma nova Páscoa e uma nova aliança, realizando a libertação definitiva do homem (Jo 1,35-51). Em Canã, Jesus fez seu primeiro milagre para manifestar a sua glória (Jo 2,1-12): a glória se tornar visível, poder ser vista, podemos dizer, se manifesta. É a glória do Pai, na pessoa de Jesus, expressa no início da sua atividade na antecipação da “hora” (17,1). Como é que manifestou a sua glória? Deus estabeleceu gratuitamente com o homem uma nova relação; se une intimamente a ele dando-lhe a capacidade de amar como Ele por meio do Espírito que purifica o coração do homem e se faz filho de Deus.
É necessário, todavia, reconhecer o amor imutável de Deus manifestado em Jesus, respondendo com fé, ou com um compromisso pessoal.* Jesus no templo. Agora, Jesus está em Jerusalém, no templo e cumprindo a profecia de Malaquias (Malaquias 3,1-3), se proclama o Messias. A presença de Jesus e, especialmente, o seu ensinamento produz uma tensão. Agora o leitor pode compreender que os grandes conflitos com os judeus ocorriam continuamente no templo, onde Jesus proclama suas denúncias substanciais; sua missão é levar as pessoas para fora do templo (2.15,10.4). No final, Jesus é condenado, porque ele representa um perigo para o templo e para o povo.Jesus vai a Jerusalém para a Páscoa: é uma oportunidade flagrante para demonstrar em público e revelar a todos que ele é o messias. Nessa festa, Jerusalém, está cheia de peregrinos vindos de todas as partes e, portanto, suas ações teriam tido ressonância em toda a Palestina. Chegando em Jerusalém, eles se dirigem rapidamente para o templo onde fazem seus diferentes tipos de trabalho como vendedores e cambistas … A reunião no templo não se realiza por pessoas que buscam a Deus, mas os comerciantes do sagrado: as taxas de instalação de barracas era entregue ao sumo sacerdote. Jesus escolheu esta ocasião (Páscoa) e este lugar (o templo) para fornecer um sinal. Faz do chicote, um instrumento que simbolizava o Messias castigando o vicio e as maldades, e expulsa todos do templo, juntamente com as ovelhas e bois. É interessante notar sua polêmica contra os vendedores de pombas (12). A pomba era um animal que foi usado no propiciatório oferecida (Lv. 1,14-17), no sacrifício de expiação e purificação (Lv. 12,8; 15,14.29), especialmente se oferecidos eram pobres (Lv. 5,7, 14,22.30 e ss.) Aqui, os comerciantes vendiam pombas, eles vendem por dinheiro a reconciliação com Deus.* A casa do meu pai. A expressão indica que, em sua obra, Jesus age como Filho, que Ele representa o Pai no mundo. Eles transformaram o culto a Deus no comércio. O templo não é mais o lugar do encontro com Deus, mas um mercado onde a presença exige dinheiro. O culto tornou-se um pretexto para o lucro.Jesus ataca a instituição central de Israel, o templo, símbolo do povo e as eleições. Denuncia que foi usurpado do templo seu papel histórico: um símbolo da morada de Deus entre seu povo. A primeira reação ao gesto de Jesus parte dos discípulos, que eles associam com o Salmo 69,10: “. Zelo da tua casa me consome”A segunda reação é por parte dos sacerdotes, que reagem em nome dos vendedores: “Que sinal nos mostras para fazer estas coisas” (v. 18). Pedem um sinal, e ele lhes dá o de sua morte: “Destruí este templo e irei reconstruí-lo em três dias” (v. 19). Jesus é o templo que garante a presença de Deus no mundo, a presença do seu amor, a morte na cruz vai fazer-lhe o templo único e definitivo de Deus. O templo construído por mãos humanas caiu, Jesus irá substituí-lo, porque ele agora é a presença de Deus no mundo, onde o pai está presente.EVANGELHO: Jo 2, 13-17- DEDICAÇÃO DA BASÍLICA DO LATRÃO

                                                  Jesus é o novo templo                                                                                                        – A Bíblia explicada em Capítulos e Versículos –                                                                                         – O Amanhecer do Evangelho –                                                                      Reflexões e Ilustrações de Pe. Lucas de Paula Almeida, CM

Situando

No evangelho segundo João, o início da atividade de Jesus foi apresentado dentro do esquema de uma semana (João 1,1–2,1). Agora, ao iniciar a descrição dos sinais que acontecem no sábado prolongado (João 2–11), o Quarto Evangelho adota o esquema das festas. Sábado é festa! Todos os sinais relatados por João estão relacionados, de uma ou de outra maneira, com festas importantes da vida do povo: casamento (Jo 2,1), Páscoa (Jo 2,13; 6,4; 11,55; 12,12; 13,1); Tendas (Jo 7,2.37); Pentecostes (Jo 5,1), Dedicação do Templo (Jo 10,22).

Os Evangelhos segundo Marcos, Mateus e Lucas colocam a expulsão do templo no fim da atividade de Jesus, pouco antes da sua prisão, como um dos motivos que levaram as autoridades a prender e matar Jesus. O Evangelho segundo João coloca o mesmo episódio no começo da atividade de Jesus. É para que as comunidades entendam que a nova imagem de Deus, revelada por Jesus, não está mais no antigo templo de Jerusalém, mas sim no novo templo que é Jesus. Não se pode colocar remendo novo em pano velho (Marcos 2,21).

Comentando

João 2,13-14: Na festa da Páscoa, Jesus vai ao Templo para encontrar o Pai, e encontra o comércio

Os outros evangelhos relatam apenas uma única visita de Jesus a Jerusalém durante a sua vida pública, aquela em que ele foi preso e morto. O Evangelho segundo João traz informações mais exatas. Ele diz que Jesus ia a Jerusalém nas grandes festas. Ir a Jerusalém significa ir ao Templo para encontrar-se com Deus. No casamento em Caná apareceu o contraste entre o vazio da Antiga Aliança e a abundância da Nova. Aqui, vai aparecer o contraste entre o antigo templo, que virou casa de comércio, e o novo templo que é Jesus.

João 2,15-16: Jesus faz uma faxina no templo

No templo havia o comércio de animais para os sacrifícios e havia as mesas dos cambistas, onde o povo podia adquirir a moeda do imposto do templo. Vendo tudo isto, Jesus faz um chicote de cordas e expulsa do templo os vendedores com seus animais. Derruba as mesas dos cambistas, joga o dinheiro no chão e diz aos vendedores de pombas: “Tirem essas coisas daqui! Não façam da casa do meu Pai uma casa de comércio!” O gesto e as palavras de Jesus lembram várias profecias: a casa de Deus não pode ser transformada em covil de ladrões (Jeremias 7,11); no futuro não haverá mais vendedor na casa de Deus (Zacarias 14,21); a casa de Deus deve ser uma casa de oração para todos os povos (Isaías 56,7).

João 2,17: Os discípulos procuram entender o gesto de Jesus

Vendo o gesto de Jesus, os discípulos foram lembrando outras frases e fatos do Antigo Testamento: o salmo que diz: “O zelo de tua casa me devora” (Salmo 69,10), e o profeta Elias que dizia: “Eu me consumo de zelo pela causa de Deus” (1 Reis 19,9.14). Naquele tempo diziam: “A Bíblia se explica pela Bíblia”. Ou seja, só Deus consegue explicar o sentido da Palavra de Deus. Por isso, se os gestos de Jesus são Palavras de Deus, então devem ser iluminados e interpretados a partir da Palavra de Deus presente na Escritura. Isto ajuda a atualizar o significado das coisas que Jesus fez e falou, e a manter viva a sua presença no meio de nós. Aqui se percebe como é importante o mutirão de memória para lembrar outros textos da Bíblia.

João 2,18-20: Diálogo entre Jesus e os judeus

Tocando no templo, Jesus tocou no fundamento da religião do seu povo. Os judeus, isto é, os líderes, perceberam que ele tinha agido com muita autoridade. Por isso, pedem que apresente os documentos: “Que sinal você nos dá para agir desse jeito?” Jesus responde: “Podem destruir esse templo e em três dias eu o levantarei!” Jesus falava do templo do seu corpo, que seria destruído pelos romanos e autoridades judaicas e em três dias seria totalmente renovado através da ressurreição. Os judeus tomaram as palavras de Jesus ao pé da letra e zombaram dele: “Levaram 46 anos para fazer este templo e você o levantará em três dias!” É como se dissessem com desprezo: “Vá enganar outro!” Sinal de que nada entenderam do gesto de Jesus, ou não quiseram entendê-lo!

João 2,21-22: Comentário do evangelista

Os discípulos também não entenderam o significado desta palavra de Jesus. Foi só depois da ressurreição que compreenderam que ele estava falando do templo do seu corpo. A compreensão das coisas de Deus só acontece aos poucos, em etapas. A expulsão dos comerciantes tinha ajudado a entender as profecias do Antigo Testamento. Agora, é a luz da ressurreição que ajuda a entender as palavras do próprio Jesus. Jesus ressuscitado é o novo templo, onde Deus se faz presente no meio da comunidade.

João 2,23-25: Comentário do evangelista sobre a fé imperfeita de algumas pessoas

Naqueles dias da festa da Páscoa, estando Jesus em Jerusalém, muita gente começou a crer nele por causa dos sinais que ele fazia. O evangelista comenta que a fé da maioria destas pessoas era superficial, só da boca para fora. Este breve comentário sobre a imperfeição da fé das pessoas deixa uma pergunta importante na cabeça da gente: “Então, como é que eu devo fazer para crescer na fé?” A resposta vai ser dada na conversa de Jesus com Nicodemos.

Alargando

Jesus e o templo

Para os judeus no tempo de Jesus, o centro do mundo, o lugar onde o céu tocava na terra era o Santo dos Santos no templo de Jerusalém. Sendo o lugar central da religião, o culto no templo regulava a vida cotidiana de todos. O judeu piedoso, não importando o lugar em que morasse, deveria ir ao templo uma vez na vida. Mesmo no lugar mais distante, quando fazia suas orações a pessoa devia orientar seu corpo em direção a Jerusalém e ao templo. O templo era o lugar para onde convergiam as multidões de peregrinos três vezes ao ano, por ocasião das grandes festas nacionais.

Sendo de família judia, Jesus segue a prática religiosa de sua gente. Por ser o primogênito de José e de Maria, ele foi apresentado a Deus no templo quando nasceu. Aos 12 anos, fez o ritual de passagem para a vida adulta, lendo um trecho da Lei diante dos escribas do templo. Com seus familiares participava das peregrinações anuais por ocasião das festas. Durante sua vida pública, Jesus toma atitudes de verdadeiro profeta, denunciando os desvios do culto celebrado no templo. Seu gesto de expulsar do santuário os cambistas e os vendedores lembra as palavras de Miqueias (3,11-12), de Jeremias (26,1-18) e de Isaías (66,1-4). Retomando as palavras de Oseias (6,6), Jesus proclama a superioridade da misericórdia sobre os sacrifícios (Mateus 9,13; 12,7-8).

As primeiras comunidades dos seguidores e seguidoras de Jesus eram todas formadas por gente vinda do judaísmo da Palestina. No início, estas pessoas continuavam ligadas ao templo e frequentavam o santuário para rezar (Atos 2,46; 3,1). Mas, com o tempo, judeus helenistas e samaritanos entraram na comunidade. Estas pessoas não tinham uma ligação tão profunda com o templo de Jerusalém. Principalmente os samaritanos, que tinham seu próprio lugar de culto no alto do monte Garizim (João 4,20). A presença destas pessoas fez com que as comunidades começassem a perceber que a prática libertadora de Jesus tornava inúteis os sacrifícios apresentados pelos sacerdotes do templo.

Depois do ano 70, com a destruição do templo, as comunidades releram as palavras de Jesus e concluíram que o templo de Jerusalém estava ultrapassado. A Glória de Deus não habitava mais naquele espaço! As comunidades do Discípulo Amado foram as que mais avançaram nesta reflexão. Elas concluíram que em Jesus, Palavra de Deus feita carne, reside a Glória de Deus (João 1,14). Jesus é o novo templo! O corpo de Jesus, ou seja, a sua realidade humana, é o local em que habita a plenitude da Divindade (João 2,21-22). Deus não se prende a nenhum santuário, nem ao de Jerusalém nem ao do monte Garizim. O que o Pai quer são os verdadeiros adoradores, aquelas pessoas que manifestam Deus em suas vidas através do amor ao próximo. Estas são as que o adoram “em espírito e verdade” (João 4,23).