EVANGELHO DO DIA E HOMILIA– O AMANHECER DO EVANGELHO –

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM –

SABADO DA XVI SEMANA DA PÁSCOA

Joio e trigo crescem juntos (Mateus 13,24-30)

O evangelho para a liturgia deste sábado nos leva a meditar sobre a parábola do joio e do trigo. Tanto na sociedade como na comunidade e na vida de todos nós, existe tudo misturado: qualidades boas e incoerências, limites e falhas. Nas nossas comunidades, reúnem-se pessoas que vêm dos vários cantos do Brasil, cada uma com a sua história, com a sua vivência, a sua opinião, os seus anseios, as suas diferenças. Existem pessoas que não sabem conviver com as diferenças. Querem ser juízes dos outros. Acham que só elas estão certas, e os outros errados. A parábola do joio e do trigo ajuda a não cair na tentação de querer excluir da comunidade os que não pensam como nós.

Os empregados que aparecem na parábola representam certos membros da comunidade. O dono da terra representa Deus. Prestemos atenção nas atitudes dos empregados e na reação do dono da terra.

A parábola no Sermão das Parábolas

O capítulo 13 traz o Sermão das Parábolas. Seguindo o texto de Marcos (Mc 4,1-34), Mateus omitiu a parábola da semente que germina sozinha (Mc 4,26-29), ampliou a discussão sobre o porquê das parábolas (Mt 13,10-17) e acrescentou as parábolas do joio e do trigo (Mt 13,24-30), do fermento (Mt 13,33), do tesouro (Mt 13,44), da pérola (Mt 13,45-46) e da rede (Mt 13,47-50). Com as do semeador (Mt 13,4-11) e do grão de mostarda (Mt 13,31-32), são ao todo sete parábolas. Estamos aqui no centro do Evangelho de Mateus. O coração deste centro é a parábola do joio e do trigo. É nela que aparece a recomendação mais importante para as comunidades da época.

Durante séculos, por causa da observância das leis de pureza, os judeus tinham vivido separados das outras nações. Este isolamento marcou a vida deles. Mesmo depois de convertidos, alguns continuavam nesta mesma observância que os separava dos outros. Eles queriam a pureza total. Qualquer sinal de impureza devia ser extirpado em nome de Deus. “Não pode haver tolerância com o pecado”, diziam eles. Mas outros, como Paulo, ensinavam que a Nova Lei de Deus, trazida por Jesus, pedia o contrário. Eles diziam: “Não pode haver tolerância com o pecado, mas deve haver tolerância com o pecador!” A comunidade deve vencer a tentação de querer excluir os que pensam de modo diferente. Este é o pano de fundo da parábola do joio e do trigo.

1. Mt 13,24-26: A situação: joio e trigo crescem juntos

A palavra de Deus que faz nascer a comunidade é semente boa, mas nas comunidades sempre aparecem coisas que são contrárias à palavra de Deus. De onde vêm? Essa era a discussão.

2. Mt 13,27-28a: A causa da mistura que existe na vida

Um inimigo fez isso. Quem é este inimigo? O inimigo, o adversário, Satanás ou diabo (Mt 13,39), é aquele que divide, que desvia. A tendência de divisão existe dentro de cada um de nós. O desejo de dominar, de se aproveitar da comunidade para subir e tantos outros desejos interesseiros são divisionistas, são do inimigo que dorme dentro de cada um de nós.

3. Mt 13,28b-30: A reação diferente diante da ambiguidade

Diante dessa mistura do bem e do mal, alguns queriam arrancar o joio. Pensavam: “Se deixarmos todo o mundo na comunidade, perdemos nossa razão de ser! Perdemos a identidade!” Queriam expulsar os que pensavam de modo diferente. Mas esta não é a decisão do Dono da terra. Ele diz: “Deixa-os crescerem juntos até a colheita!” O que vai decidir não é o que cada um fala e diz, e sim o que cada um vive e faz. É pelo fruto produzido que Deus nos julgará. A força e o dinamismo do Reino se manifestam na comunidade. Mesmo sendo pequena e cheia de contradições, ela é um sinal do Reino. Mas ela não é dona do Reino, nem pode considerar-se justa. A parábola do joio e do trigo explica a maneira como a força do Reino age na história. É preciso ter paciência e aprender a conviver com as contradições e as diferenças, mesmo tendo uma opção clara pela justiça do Reino.

Ensino em parábolas

A parábola é um instrumento pedagógico que usa o quotidiano para mostrar como a vida nos fala de Deus. Torna a realidade transparente e faz o olhar da gente ficar contemplativo. Uma parábola aponta para as coisas da vida e, por isso mesmo, é um ensinamento aberto, pois das coisas da vida todo o mundo tem alguma experiência. O ensinamento por parábolas faz a pessoa partir da experiência que tem: semente, sal, luz, ovelha, flor, passarinho, mulher, criança, pai, rede, peixe, etc. Assim, ele torna a vida quotidiana transparente, reveladora da presença e da ação de Deus. Jesus não costumava explicar as parábolas. Geralmente, terminava com esta frase: “Quem tem ouvidos, ouça!” (Mt 11,15; 13,9.43). Ou seja: “É isso! Vocês ouviram! Agora tratem de entender!” Jesus deixava o sentido da parábola em aberto e não o determinava. Sinal de que acreditava na capacidade do povo de descobrir o sentido da parábola, baseado na sua experiência de vida.

De vez em quando, a pedido dos discípulos, ele explicava o sentido (Mt 13,10.3). Por exemplo, os versículos 36-43 trazem a explicação da parábola do joio e do trigo. Ela mostra como se fazia catequese naquele tempo. As comunidades se reuniam e discutiam as parábolas de Jesus, procurando saber o que ele queria dizer. Assim, pouco a pouco, o ensinamento aberto de Jesus começava a ser afunilado na catequese da comunidade que aceitava apenas uma explicação da parábola. Ela não tinha a mesma confiança de Jesus na capacidade do povo de entender as coisas do Reino.

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA– O AMANHECER DO EVANGELHO –

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM –

SABADO DA XVI SEMANA DA PÁSCOA

PARÁBOLA DO JOIO E DO TRIGO

Certo dia, subiu Jesus a uma barca, enquanto a multidão que o cercava sentou-se ao longo da praia, junto ao mar da Galiléia. Então Jesus começou a falar em parábolas, dizendo-lhe : «o reino dos céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo. E enquanto os homens dormiam, veio o seu inimigo, semeou joio no meio do trigo, e foi-se embora. Quando o trigo cresceu e deu espigas, apareceu também o joio. Os empregados foram e disseram ao seu senhor: Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde, pois, lhe veio o joio? Respondeu-lhes ele: deve ser obra do inimigo. Disseram então os empregados: Queres que vamos e arranquemos o joio? Não, respondeu o senhor, para não acontecer que arrancando o joio, arranqueis juntamente com ele o trigo. Deixai que os dois cresçam juntos até a colheita. No tempo da colheita direis aos ceifadores: apanhai primeiro o joio e amarrai em feixes para ser queimado, e o trigo recolhei-o no meu celeiro» (Mt 13,24-30).

No outro dia, quando Jesus estava só, com seus discípulos, estes lhe disseram: Mestre, explica-nos a parábola do joio. Então falou Jesus :

«o que semeia a boa semente é o Filho do Homem. O campo é o mundo. A boa semente são os filhos do reino. O joio são os filhos do maligno. 0 inimigo que o semeou é o demônio. A ceifa é o fim do mundo, e os ceifeiros são os anjos. Assim, pois, como se colhe o joio e se queima no fogo, assim será no fim do mundo.

0 Filho do Homem enviará os seus anjos, que apanharão do seu reino todos os escandalosos e os que fazem o mal, e os lançarão na fornalha ardente. Aí haverá choro e ranger de dentes.

Então os justos brilharão como o sol, no reíno de seu Pai. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça» (Mt 13,36-43).

SIGNIFICADO DAS PALAVRAS

As parábolas de Jesus são simples. Não necessitam de comentários. Para nós, o trigo não é um exemplo bem vivo, porque não cultivamos o trigo. Mas na Palestina era a plantação mais comum. Quanto ao «joio», explicamos: «Joio» era uma erva ruim, que tinha efeito narcótico. Era uma planta parecidíssima com o trigo, mas não tinha nenhum valor, antes, era uma praga que matava o trigo. Jesus conta essa parábola, porque naquele tempo aconteceu mais de uma vez isso: alguém, para vingar, jogou semente de joio no campo de trigo de seu inimigo. «Filho do homem» é uma expressão que aparece muitas vezes na Bíblia. No Antigo Testamento ela significa um indivíduo qualquer, ou, num sentido profético, significava a figura do Messias. Cristo usou essa expressão para falar de si mesmo, como Juiz, como Rei, como Salvador. Portanto, «Filho do Homem» é o próprio Cristo. «Fornalha ardente» quer dizer o castigo do inferno. A existência do inferno é uma verdade. Jesus falou dele muitas vezes afirmando que é um castigo eterno para todos que não aceitam a sua palavra de salvação.

EXPLICAÇÃO DA PARÁBOLA DO TRIGO E DO JOIO

Muita gente nunca viu a planta do joio, nem tem a menor idéia do que seja. É uma gramínea que nasce no meio do trigo e parecem muito com ele.

O joio pode danificar terrivelmente a plantação. É uma praga simplesmente. Por causa da larga difusão da parábola de Jesus no Evangelho, mesmo para aquele que nunca viu o joio é conhecida a frase proverbial: “ Semear joio no meio do trigo”. E todos entendem o que isso significa. Isto é, o trabalho malvado dos que espalham o mal no mundo no meio do bem. Dos que ensinam o erro. Dos que criam desavença no seio da família, ou no ambiente de trabalho. Dos que querem que a comunidade fique desunida, separada e lutando cada um por seu grupinho, em vez de olhar para a união da comunidade.Quanta semente por aí que não saiu das mãos do divino semeador. Foi semeada pelo homem, inimigo de Deus e da humanidade. Diante desse fenômeno, há os afoitos que queriam eliminar tudo violentamente, correndo risco de destruir muita coisa boa na pressa de acabar com o mal. São os autoritários, os radicais, os que tem vocação para ditador. Deus não é assim. Ele é o senhor da história. Tem paciência. Ele sabe que existe a hora do mal e do poder das trevas…

Mas ele tem pela frente a eternidade e o julgamento final para o definitivo triunfo da luz.

E espera. Inclusive porque deseja a conversão do pecador como nos ensina em outros lugares do Livro Sagrado.

O que assusta em determinadas épocas da história é o crescimento demasiado de gente semeando o joio. O joio da pornografia, por exemplo…

Semeando no meio do trigo da dignidade, e do respeito; O joio do amor livre e do adultério, no meio do trigo da família e da fidelidade; o joio do egoísmo e da ganância, no campo onde deve crescer o trigo da justiça, da fraternidade; o joio da violência do trigal da paz e da concórdia que constrói o amor.

Assim, o mal vai tomando conta e pode afogar de uma vez a semente do bem que vai crescendo.

Poderá haver áreas totalmente dominadas pela depravação que se tomam irrespiráveis, como acontece com a poluição do que acaba tomando impossível a vida em determinadas regiões.

Isso porque se chegou ao grau de saturação: acima do que as forças da vida e da saúde podem suportar. Penso que isso deve levar muita gente a refletir em suas responsabilidades.

Principalmente aqueles que por causa do dinheiro fecham os ouvidos à voz da consciência e vão usando de todos os meios lícitos ou ilícitos pouco importam para terem cada vez mais ainda que isso seja a custa de dinheiro, da paz e da consciência dos outros.

PONTO DE REFLEXÃO

Essa parábola do joio leva a uma oportuna consideração.

Às vezes ouvimos reclamações assim: «Fulano faz tanto mal aos outros. Por que, pois, Deus não o castiga ? Eu procuro ser honesto com todos, e não consigo ter nada. Fulano é tapeador, mentiroso, ladrão, não teme a Deus… no entanto tudo lhe vai bem.

Parece que as coisas dão certo para ele, melhor que para mim».

Lembramos aqui da parábola do joio. Agora não é tempo de julgamento. Deus está deixando o joio crescer com o trigo, sem arrancá-lo agora. No fim de nossa vida cada um receberá a recompensa ou o castigo que merece.

Agora é o tempo de semear a boa semente, de fazer o bem, de cumprir cada um o seu dever. O julgamento e a separação definitiva do bem e do mal, isso compete a Deus, que conhece não só o nosso procedimento, mas até o nosso pensamento.

Outro pensamento que tiramos desta parábola, é este: O mal procura sempre infiltrar-se no meio do bem, com aparência de coisa boa. O mal, como mal, é comumente rejeitado. O homem sente-se envergonhado de fazer o mal, como mal. Então todo o mal que há sobre a terra procura ter uma aparência de coisa boa, para poder entrar no coração do homem. Não se esqueçam de que o joio era uma erva ruim, mas tinha a mesma aparência do trigo, que é bom.

OS FALSOS PROFETAS

Cristo já previa que no decorrer dos tempos haveria de surgir falsos profetas, que, com aparência de bons, tentariam enganar as pessoas mais simples. Por isso os ensinamentos de Jesus valem para o passado, para o presente e para o futuro.

Em outro lugar do Evangelho, Cristo disse claramente: «Cuidado  com os falsos profetas, que vêm a vós com pele de ovelha, mas por  dentro são lobos roubadores. Pelos seus frutos os conhecereis.

Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Portanto, toda árvore boa dá bons frutos e toda árvore má dá maus frutos. Não \pode uma árvore boa dar frutos maus, nem uma árvore má dar frutos bons. Toda árvore que não dá bons frutos será cortada e lançada ao fogo. Pelos seus frutos, portanto, os conhecereis.  «Nem todo que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas o que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome, em teu nome não expulsamos demônios e em teu nome não fizemos milagres? Então lhes declararei publicamente: Nunca vos conheci, apartai-vos de mim, obreiros de iniqüidade» (Mt 7,15-23).

EXPLICAÇÃO

 «Falsos profetas» – São os inventores de novas religiões. Cristo fundou uma só Igreja, uma só religião, e colocou à frente de seu rebanho um único chefe -o Papa. No entanto, com o correr dos séculos apareceram novas religiões e diferentes pregadores, dizendo falar em nome de Deus. Ora, a Igreja verdadeira deve ter sua origem nos tempos em que Cristo estava neste mundo.

Através de vinte séculos a Igreja Católica formou seus santos e provou a santidade autêntica de milhares de homens e de mulheres; sacerdotes e leigos.

Hoje, porém, vemos os nomes desses santos e o nome do próprio Deus explorados pela macumba, pelo espiritismo e por tantos curandeiros e feiticeiros. Os santos são os bons «frutos» da Igreja. Cada religião que quiser se apresentar como verdadeira, deve apresentar também suas boas obras e seus santos, pois, como disse Jesus, «toda árvore boa dá bons frutos».

Mesmo o católico – não basta só dizer: «Eu sou muito católico». Se sua vida não corresponder ao Evangelho, Cristo dirá no juízo final «Nunca te conheci; aparta-te de mim».

 PERGUNTAS PARA CONTINUAR A REFLEXÃO

  1. Que é uma parábola ?
  2. Por que Jesus usou de parábolas?
  3. Parábola é uma história verdadeira, ou inventada por Jesus ?
  4. Numa comparação existe igualdade ou uma semelhança entre duas coisas?
  5. Saberia contar a parábola do joio? Experimente.
  6. Nessa parábola do joio, quem é o semeador da boa semente? e semeador do joio?
  7. Que é campo?
  8. Que você entende por «tempo de colheita» ?
  9. Onde há, nessa parábola, uma alusão ao inferno ?
  10. Que é o joio ?
  11. Que significa «Filho do Homem» ?
  12. Que são «falsos profetas» ?
  13. Como você reconhece a religião verdadeira ?
  14. Para entrar no céu basta ser católico?