A CARTA MAGNA DO CRISTIANISMO – VI DOMINGO DO TC – VÍDEO E MENSAGEM DO PE. LUCAS

VI DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C

A CARTA MAGNA DO CRISTIANISMO

O Sinai e o Monte das Bem-aventuranças são duas montanhas bem diferentes. Aliás, o Monte das Bem-aventuranças nem é bem uma montanha. É uma suave colina da Galiléia, não muito longe de Cafarnaum, na qual se ergue hoje um simpático santuário octogonal, em memória do Sermão da Montanha lá pronunciado. No Sinai Deus promulgou a Lei. No Sermão da Montanha Jesus – o Deus-conosco – promulga o Evangelho. No Sinai Deus se manifestou entre nuvens de fumaça, trovões e relâmpagos, e sons estridentes de trombetas. Era a manifestação da majestade de Deus e de seu poder absoluto sobre o universo, como convinha para a mentalidade daquele povo. No Sermão da Montanha estamos na porta do Evangelho, e o que se ouve é a palavra mansa de Jesus, descendo sobre a multidão reunida em respeitoso silêncio. No Sinai é mais a força de uma lei que se impõe. No Sermão da Montanha é sobretudo um espírito que se anuncia para o mundo novo. Ele foi definido como a carta magna do Cristianismo. Conhecê-Io e assumi-Io é entrar no pensamento de Jesus. E ele começa com as “bem-aventuranças”.

São Mateus, na sua lista, traz oito bem-aventuranças, completando-as com uma nona, que é a dos mártires, isto é, a daqueles que dão sua vida ou sofrem uma perseguição por causa da justiça. São Lucas traz quatro bem-aventuranças, que substancialmente correspondem às oito de Mateus. Mas acrescenta depois quatro imprecações, que se dirigem àqueles que vivem um espírito contrário ao espírito das bem-aventuranças . Além disso, São Lucas focaliza o aspecto material do sofrimento: ser pobre, ter fome, ter sede, chorar; ao passo que São Mateus apresenta mais o lado espiritual: ser pobre em espírito, Ter fome e sede de justiça, estar aflito. É um pouco a personalidade do evangelista da misericórdia que se percebe em São Lucas; enquanto em São Mateus se procurou matizar e precisar melhor aquela que poderíamos chamar a filosofia do Evangelho”.

A primeira bem-aventurança, em ambos os evangelistas, é a dos pobres, assim formulada em São Lucas: “Bem aventurados vós, que sois pobres, porque o reino de Deus é para vós” (Lc 6, 20). E aí está de algum modo a substância de todas as bem-aventuranças. A felicidade não consiste em ser rico, em gozar de todos os bens da terra, em estar livre de todos os sofrimentos, nem em ser aplaudido e triunfar sobre todos. Nosso valor não está no que temos nas mãos, no bolso ou na conta bancária. O valor está no coração, que não se amarra aos bens da terra e se abre para Deus e nele confia. Já os antigos profetas preludiavam esses ensinamentos de Jesus, como nos faz a Igreja ler em Jeremias, como primeira leitura da Liturgia da Palavra deste VI domingo: “Infeliz o homem que põe sua confiança no homem, e que se apóia a um ser de carne, enquanto seu coração se desvia de Deus. Ele será como o espinheiro no deserto e não conhecerá a felicidade” (Jr 17,5-6). Ao passo que: “Feliz é o homem que pôs sua confiança no Senhor; ele será como a árvore plantada à beira d’água, que lança raízes na direção da corrente” (Ibid., v 8).

O desejo da felicidade está no fundo do coração de cada homem. E Jesus, que veio anunciar a boa nova por excelência, não podia deixar de mostrar aos homens a resposta a esse anseio de felicidade: são exatamente as bem-aventuranças. Vivê – Ias é ser feliz. Mesmo que isso nos pareça bem contrário a nossas tendências humanas e à filosofia desta sociedade do consumo em que vivemos. AIiás, se quisermos ser sinceros, temos que reconhecer que já vimos muitas vezes em derredor de nós a felicidade brilhando no rosto de pessoas humildes, carentes de tudo, sem nenhuma projeção social, que têm, no entanto, o coração aberto para Deus, que nunca os desampara. Parece que no fundo desse coração ressoa um eco da palavra de Jesus: “Vosso é o Reino dos céus”.

LEITURAS do VI Domingo do Tempo Comum – Ano C:

1ª) Jr 17, 5-8

2ª) 1Cor 15, 12.16-20

3ª) Lc 6, 17.20-26

Lucas 6, 20-26 – Quatro bem-aventuranças e as quatro maldições do Evangelho de Lucas.

BÍBLIA EXPLICADA EM CAPÍTULOS E VERSÍCULOS- PE.LUCAS
O AMANHECER DO EVANGELHO
                                                            REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM1) Oração

Ó Deus, Pai de bondade, que nos redimistes e adotastes como filhos, concedei aos que creem no Cristo a verdadeira liberdade e a herança eterna. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.2) Leitura do Evangelho (Lucas 6, 20-26)

Naquele tempo, 20Jesus ergueu os olhos para os seus discípulos e disse: Bem-aventurados vós que sois pobres, porque vosso é o Reino de Deus! 21Bem-aventurados vós que agora tendes fome, porque sereis fartos! Bem-aventurados vós que agora chorais, porque vos alegrareis! 22Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem, vos expulsarem, vos ultrajarem, e quando repelirem o vosso nome como infame por causa do Filho do Homem! 23Alegrai-vos naquele dia e exultai, porque grande é o vosso galardão no céu. Era assim que os pais deles tratavam os profetas. 24Mas ai de vós, ricos, porque tendes a vossa consolação! 25Ai de vós, que estais fartos, porque vireis a ter fome! Ai de vós, que agora rides, porque gemereis e chorareis! 26Ai de vós, quando vos louvarem os homens, porque assim faziam os pais deles aos falsos profetas!3) Reflexão   Lucas 6, 20-26

O evangelho de hoje traz as quatro bem-aventuranças e as quatro maldições do Evangelho de Lucas. Há uma revelação progressiva na maneira de Lucas apresentar o ensinamento de Jesus. Até 6,16, ele disse muitas vezes que Jesus ensinava o povo, mas não chegou a relatar o conteúdo do ensinamento (Lc 4,15.31-32.44; 5,1.3.15.17; 6,6). Agora, depois de informar que Jesus viu a multidão desejosa de ouvir a palavra de Deus, Lucas traz o primeiro grande discurso que começa com as exclamações: “Felizes vocês pobres!” e “Ai de vocês, ricos!”, e ocupa todo o resto do capítulo (Lc 6,12-49). Alguns chamam este discurso de “Sermão da Planície”, pois, segundo Lucas, Jesus desceu da montanha e parou num lugar plano onde fez o discurso. No evangelho de Mateus, este mesmo discurso é feito na montanha (Mt 5,1) e é chamado “Sermão da Montanha”. Em Mateus, o sermão traz oito bem-aventuranças, que traçam um programa de vida para as comunidades cristãs de origem judaica. Em Lucas, o sermão é mais breve e mais radical. Ele traz quatro bem-aventuranças e quatro maldições, dirigidas para as comunidades helenistas, constituídas de ricos e pobres. Este discurso de Jesus vai ser meditado no evangelho diário dos próximos dias até 13 de setembro.Lucas 6,20Felizes vocês, pobres!

Olhando para os discípulos, Jesus declara: “Felizes vocês pobres, porque o Reino de Deus é de vocês!” Esta declaração identifica a categoria social dos discípulos. Eles são pobres!  E a eles Jesus promete: “O Reino é de vocês!” Não é uma promessa para o futuro. O verbo está no presente. O Reino já é deles. Eles são felizes desde já. No evangelho de Mateus, Jesus explicita o sentido e diz: “Felizes os pobres em Espírito!” (Mt 5,3). São os pobres que têm o Espírito de Jesus. Pois há pobres com cabeça ou espírito de rico. Os discípulos de Jesus são pobres com cabeça de pobre. Como Jesus, não querem acumular, mas assumem a sua pobreza e, com ele, lutam por uma convivência mais justa, onde haja fraternidade e partilha de bens, sem discriminação.Lucas 6,21-22Felizes vocês, que agora têm fome e choram!

Na 2ª e 3ª bem-aventurança Jesus diz: “Felizes vocês que agora estão com fome, porque serão saciados! Felizes vocês que agora choram, porque vão dar risada!” Uma parte das frases está no presente e outra no futuro. Aquilo que agora vivemos e sofremos não é o definitivo. O definitivo é o Reino que estamos construindo hoje na força do Espírito de Jesus. Construir o Reino traz sofrimento e perseguição, mas uma coisa é certa: o Reino vai chegar e “vocês serão saciados e vão dar risada!”.Lucas 6,23Felizes serão, quando os homens os odiarem….!

A 4ª bem-aventurança se refere ao futuro: “Felizes serão vocês, quando os homens os odiarem e rejeitarem por causa do Filho do Homem! Fiquem alegres naquele dia, porque grande será a sua recompensa, porque assim também foram tratados os profetas!” Com estas palavras de Jesus, Lucas anima as comunidades do seu tempo, que estavam sendo perseguidas. O sofrimento não é estertor de morte, mas sim dor de parto. Fonte de esperança! A perseguição era um sinal de que o futuro anunciado por Jesus estava chegando para elas. Elas estavam no caminho certo.Lucas 6,24-25:  Ai de vocês, ricos!  Ai de vocês que agora têm fartura e riem!

Após as quatro bem-aventuranças a favor dos pobres e excluídos, seguem quatro ameaças ou maldições contra os ricos e os que passam bem e são elogiados por todos. As quatro ameaças têm a mesma forma literária que as quatro bem-aventuranças. A 1ª está no presente. A 2ª e a 3ª têm uma parte no presente e outra no futuro. E a 4ª se refere inteiramente ao futuro. Estas ameaças só se encontram no evangelho de Lucas e não no de Mateus. Lucas é mais radical na denúncia da injustiça.Diante de Jesus, naquela planície não havia ricos. Só havia gente pobre e doente, vinda de todos os lados (Lc 6,17-19). Mesmo assim, Jesus diz: “Ai de vocês, ricos!” É que Lucas, ao transmitir estas palavras de Jesus, estava pensando mais nas comunidades do seu tempo. Nelas havia ricos e pobres, e havia discriminação dos pobres pelos ricos, a mesma que marcava a estrutura do Império Romano (cf. Tg 5,1-6; Apc 3,17-19). Jesus faz uma crítica dura e direta aos ricos: Vocês, ricos, já têm sua consolação! Vocês têm fartura, mas vão passar fome! Vocês estão rindo, mas vão ficar aflitos e vão chorar! Sinal de que para Jesus, a pobreza não é uma fatalidade, nem é fruto de preguiça, mas é fruto de enriquecimento injusto dos outros.Lucas 6,26:  Ai de vocês quando todos os elogiarem!

“Ai de vocês quando todos os elogiarem, porque assim seus pais tratavam os falsos profetas!” Esta quarta ameaça se refere aos filhos dos que no passado elogiavam os falsos profetas. É que algumas autoridades dos judeus usavam o seu prestígio e a sua autoridade para criticar Jesus.4) Para um confronto pessoal

1-Será que nós olhamos a vida e as pessoas com o mesmo olhar de Jesus? Dentro do seu coração, o que você acha: uma pessoa pobre e faminta é realmente feliz? As novelas da Televisão e a propaganda do comércio, qual o ideal de felicidade que elas nos apresentam

2-Dizendo “Felizes os pobres”, será que Jesus estava querendo dizer que os pobres devem continuar na pobreza?5) Oração final

O Senhor é clemente e justo, o nosso Deus é misericordioso. O Senhor protege os simples: eu era fraco e ele me salvou (Sl 114, 5-6)