Pe. Lucas – Alusão à ação do Espírito na vida das comunidades depois da Páscoa – Jo 15,26-16,4

07. Segunda-feira da 6ª Semana da Páscoa

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA (LECTIO DIVINA).

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

1) Oração

Concedei-nos, ó Deus, que vejamos frutificar em toda a nossa vida as graças do mistério pascal, que instituístes na vossa misericórdia. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

2) Leitura do Evangelho segundo João (Jo 15,26-16,4)

Naquele tempo, disse Jesus aos seusdiscípulos: 15,26“Quandovier o Defensor que eu vos mandarei da parte do Pai, o Espírito da Verdade, queprocede do Pai, ele dará testemunho de mim. 27Evós também dareis testemunho, porque estais comigo desde o começo. 16,1Eu vos disse estascoisas para que a vossa fé não seja abalada. 2Expulsar-vos-ãodas sinagogas, e virá a hora em que aquele que vos matar julgará estarprestando culto a Deus. 3Agirãoassim, porque não conheceram o Pai, nem a mim. 4aEu vos digo isto, paraque vos lembreis de que eu o disse, quando chegar a hora”.

3) Reflexão – Jo 15,26-16,4

* Nos capítulos 15 a 17 do Evangelho de João, o horizonte se amplia para além do momento histórico da Ceia. Jesus rezam Pai “não só por estes mas também por aqueles que vão acreditar em mim por causa da palavra deles” (Jo 17,20). Nestes capítulos, é constante a alusão à ação do Espírito na vida das comunidades depois da Páscoa.

João15,26-27A ação doEspírito Santo na vida das comunidades

A primeira coisa que o Espírito faz édar testemunho de Jesus: “Eledará testemunho de mim”. O Espírito não é um ser espiritual sem definição.Não! Ele é o Espírito da verdade que vem do Pai, será enviado pelo próprioJesus e nos introduzirá na verdade plena (Jo 16,13). A verdade plena é opróprio Jesus: “Eu sou o caminho, a Verdade e a Vida!” (Jo 14,6). No fim do primeiroséculo, havia alguns cristãos de tal modo fascinados pela ação do Espírito quejá não olhavam para Jesus. Afirmavam que agora, depois da ressurreição, já nãoera preciso fixar-se em Jesus de Nazaré, aquele “que veio na carne”.Dispensavam Jesus e ficavam só com o Espírito. Diziam: “Anátema seja Jesus!”(1Cor 12,3). O Evangelho de João toma posição e não permite separar a ação doEspírito da memória de Jesus de Nazaré. O Espírito Santo não pode ser isoladocomo uma grandeza independente, separada do mistério da encarnação. O EspíritoSanto está inseparavelmente unido ao Pai e a Jesus. É o Espírito de Jesus que oPai nos envia, aquele mesmo Espírito que Jesus nos conquistou pela sua morte eressurreição. E nós, recebendo este Espírito no batismo, devemos ser oprolongamento de Jesus: “E vóstambém dareis testemunho!” Nãopodemos esquecer nunca que foi precisamente na véspera da sua morte que Jesusnos prometeu o Espírito. Foi no momento em que ele se entregava pelos irmãos.Hoje em dia, o movimento carismático insiste na ação do Espírito, e faz muitobem. Deve insistir cada vez mais. Mas deveria ter a mesma insistência paraafirmar que se trata do Espírito de Jesus de Nazaré que, por amor aos pobres emarginalizados, foi perseguido, preso e condenado à morte e que, por issomesmo, nos prometeu o seu Espírito, para que nós, depois da sua morte,continuássemos a sua ação e fôssemos para a humanidade a mesma revelação doamor preferencial do Pai pelos pobres e oprimidos.

João16,1-2Não ter medo

O evangelho adverte que ser fiel a este Jesus vai trazer dificuldades. Os discípulos vão ser expulsos da sinagoga. Vão ser condenados à morte. Com eles vai acontecer o mesmo que aconteceu com Jesus.

Por isso mesmo, no fim do primeiro século, havia pessoas que, para evitar aperseguição, diluíam a mensagem de Jesus transformando-a numa mensagemgnóstica, vaga, sem definição, que não contrastava com a ideologia do império.A estes se aplica o que Paulo dizia: “Eles têm medo da cruz de Cristo” (Gl6,12). E o próprio João, na sua carta, dirá a respeito deles: “Há muitosimpostores espalhados pelo mundo, que não querem reconhecer que Jesus Cristo veio na carne (se fezhomem). Quem assim procede é impostor e Anticristo” (2Jo 1,7). A mesma preocupaçãotransparece na exigência de Tomé: “Se eu não vir a marca dos pregos nasmãos de Jesus, se eu não colocar o meu dedo na marca dos pregos, e se eu nãocolocar a minha mão no lado dele, eu não acreditarei.” (Jo 20,25) O Cristoressuscitado que nos prometeu o dom do Espírito é Jesus de Nazaré que continuaaté hoje com os sinais da tortura e da cruz no seu corpo ressuscitado.

João16,3-4Não sabem o quefazem

* Tudo isso acontece “porque não reconhecem o Pai nem amim”. Estas pessoas não têm a imagem correta de Deus. Têm uma imagem vaga de Deus na cabeça e no coração. O Deus deles já não é o Pai de Jesus Cristo que congrega todos na unidade e na fraternidade. No fundo, é o mesmo motivo que levou Jesus a dizer: “Pai, perdoa, eles não sabem o que estão fazendo’ (Lc23,34). Jesus foi condenado pelas autoridades religiosas porque, de acordo como pensamento deles, ele teria uma falsa imagem de Deus. Nas palavras de Jesus não transparece ódio nem vingança, mas compaixão: são irmãos ignorantes que não sabem nada do nosso Pai.

4) Para confronto pessoal

1) O mistério da Trindade está presentenas afirmações de Jesus, não como uma verdade teórica, mas como expressão docompromisso do cristão com a missão de Jesus. Como vivo em minha vida este mistériocentral da nossa fé?

2) Como vivo a ação do Espírito na minha vida?

5) Oração final

Cantai ao Senhor um cântico novo, ressoeo seu louvor na assembléia dos fiéis. Alegre-se Israel em seu criador, exultemem seu rei os filhos de Sião (Sl149, 1-2).