Mt 3,1-12 – EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

(LECTIO DIVINA)

                                            REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA,                                                                                                                            

II DOMINGO DO ADVENTO – ANO C

PREPARANDO O CAMINHO DO SENHOR

 

Na caminhada para o Natal e para o jubiloso encontro com Jesus, nós somos ajudados por grandes personagens. A começar pela Virgem Maria, a aurora que anunciou a chegada do Sol. E vem depois o profeta Isaías, que lá das distâncias dos tempos bíblicos entreviu com admirável clareza os tempos do Messias. E ainda São Paulo, que é o sublime teólogo que ” contempla a grandeza de Cristo. E, de modo muito particular, São João Batista, o último dos profetas e o primeiro dos evangelistas. Ele preparou o povo, lá nas margens do Jordão, para receber a Cristo no início de sua vida pública. E vem agora ajudar-nos na chegada do Natal.

 

João Batista é um profeta eminentemente austero. No seu modo de vestir – uma roupa de pêlos de camelo e um cinto de couro- e de se alimentar- gafanhotos e mel silvestre- na sua vida e na sua pregação. Dele falara Isaías, quando disse: “Voz do que clama no deserto: Preparai os caminhos do Senhor” (v Mt 3,13) .Essa voz ressoou rude e forte, conclamando os pecadores à conversão. E, apesar da dureza de suas palavras, os pecadores vinham até ele e ouviam suas terríveis ameaças, duras, sobretudo, . quando ele percebeu entre os seus ouvintes os fariseus e os saduceus. E recebiam o batismo que ele ministrava nas águas do Jordão, preludiando o futuro batismo do cristianismo: “Eu vos batizo com água, para vos mover à penitência, mas o que vem depois de mim é mais forte do que eu …Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo”(lb, 11 ). E eram inúmeras as conversões.

 

Nós também devemos ouvi-lo. Não nos assustemos com a veemência de sua pregação. Cada estilo tem sua época. E cada homem tem seu estilo. Hoje também temos pregadores que imitam de algum modo a rudeza da pregação do Batista. São missionários cheios de zelo, e causam grande impressão nos ouvintes, e dobram a dureza de muitos corações. Sobretudo pelo testemunho de vida que acompanha suas palavras. São instrumentos de Deus para fazer sentir a gravidade do pecado e o perigo da condenação. Sobretudo para aqueles que andam adormecidos numa vida pecaminosa, confiando – quem sabe? – nos seus privilégios de cristãos. João Batista dizia para os seus ouvintes: Não penseis que basta dizer dentro de vós mesmos: ‘Temos por pai Abraão’. Porque eu vos digo que Deus pode destas pedras suscitar filhos de Abraão” (Ibid. 9). E se referia, sem dúvida, não simplesmente às pedras, tão abundantes ali no deserto, mas às pedras dos corações endurecidos pelo erro e pelo pecado.

João preparou o caminho para Jesus. Ele é o Precursor. Seria maravilhoso que na devoção popular a São João Batista – tão folclórica! – não faltasse esse elemento. Saber que ele nos leva a Cristo. Ele não é um ponto de chegada! Ele é o caminho. E nos leva a Cristo pela palavra, pelo exemplo, pelo desejo sincero de levar todos a fugir do pecado e a conseguir a salvação.

 

Esse mesmo Isaías que nos definiu com palavras tão felizes a pessoa de João Batista – a voz que clama no deserto -, fala-nos de Cristo com palavras ainda mais maravilhosas, que podemos encontrar a cada passo na liturgia. Neste domingo, por exemplo, encontramos um verdadeiro perfil de Cristo, enquanto cheio da presença do Espírito Santo: Ele é “um rebento da raiz de Jessé – isto é, um descendente de Davi -, sobre quem repousa o Espírito do Senhor! Espírito de Sabedoria e de discernimento, Espírito de conselho e de fortaleza, Espírito de ciência e de piedade, e o encherá do Espírito do temor do Senhor! Notemos que essa enumeração, adotada pelo texto da Vulgata – que desdobra “temor de Deus” em temor de Deus” e piedade ,. corresponde à nossa lista dos “sete dons do Espírito Santo, como aparecem no ritual do sacramento da Crisma.

 

Esse Cristo cheio do Espírito do Senhor transformará a terra numa terra de paz: o lobo habitando com o cordeiro, o cabrito com o leopardo, a vaca com o urso …, a criancinha podendo pôr sem medo a mão na cova da serpente. Não haverá perigo, porque o conhecimento do Senhor encherá a terra como as águas enchem o mar ( cfr Is 11 , 1-10) .E o profeta conclui com esta proclamação de vitória: Naquele dia, a raiz de Jessé se erguerá como sinal dos povos”(v. 1 0). Como um grande estandarte levantado no coração da História. Como irá proclamar a carta aos hebreus: “Cristo ontem, hoje e para todos o séculos! (Hb/3.18).

Leituras do II Domingo do Advento – Ano A:

 1a) ls 11,1-10

 2a) Rom 15,4-9

 3a) Mt 3,1-12

Lc 3,1-6 – O AMANHECER DO EVANGELHO

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

II Domingo do Advento –

PREPARAI OS CAMINHOS DO SENHOR

A Palavra de Deus, como diz com evidente entusiasmo o salmista que escreveu o salmo alfabético 118, “é uma lâmpada para os meus pés e uma luz para os meus caminhos” (SI 118, 105). É tão bom para nós caminharmos iluminados por essa divina claridade! É por isso que a oração da Igreja é toda entretecida dos raios dessa luz celeste. Não é uma oração feita de pura sabedoria humana, como acontece com tantos discursos medíocres, que multiplicam palavras, mas se manifestam pobres de vigor e de convicção.A Liturgia não se perde nesses discursos vazios, mas se nutre toda ela com a riqueza dos textos do Livro Sagrado. A começar pelo Evangelho. É o que está acontecendo neste bem- aventurado tempo do Advento. Hoje é o segundo domingo. O evangelista Lucas, na sua lucidez e precisão de historiador honesto nos fala do início da pregação de João Batista.Não usa os termos de uma história fictícia, contada para crianças: “Era uma vez…”. Coloca em termos precisos a situação histórica em que se ncontra a Palestina. O Governador da Judéia é o romano Pôncio Pilatos. Herodes é o tetrarca da Galiléia, enquanto Felipe, seu irmão é o tetrarca da Ituréia e da região da Traconítide, e Lisânias é o tetrarca da Abilínia.Os sumos sacerdotes são Anás e Caifás. Dentro desse quadro, acontece algo de maravilhoso. Desce a palavra de Deus sobre João, filho de Zacarias. E ele se dirige a toda a região do Jordão, proclamando um batismo de penitência para remissão dos pecados. É a preparação para a chegada do Messias. O mundo vai mudar. A hora é muito importante. Está-se cumprindo o grande oráculo pronunciado pelo profeta Isaías: “Uma voz clama no deserto: preparai o caminho do Senhor; endireitai suas veredas. Todo o vale será preenchido (como não pensar na terraplanagem que se processa na construção de nossas modernas estradas?), toda montanha e colina será rebaixada, os caminhos tortuosos serão endireitados, os caminhos irregulares serão aplainados”.É Isaías que fala. Com seu estilo vivo. Com suas imagens fortes. Cheias do vigor que lhe vem não só de sua competência de altíssimo poeta -um verdadeiro clássico da Bíblia -mas pela força que vem da inspiração do Espírito de Deus.E, ao proclamar essas palavras na caminhada para o Natal, -o que representa sempre um caminhar ao encontro do Senhor -, o que deseja a Igreja é que guardemos tudo isso em nosso coração e que sejamos capazes de aplicá-las à nossa vida. Há muito vazio em nós que é preciso preencher.Há muita atitude soberba – montanhas de vaidade- que é preciso abaixar. Há muitas idéias desviadas que é preciso retificar. Há muita rispidez que é preciso amenizar pela mansidão e pela paciência, de modo que nossa presença ajude o mundo a caminharem paz. Como seria bom que essa palavra de Deus fosse mesmo uma luz em nosso caminho na preparação para o Natal ! Para que ele fosse, na verdade, um verdadeiro Natal cristão. Não vamos amaldiçoar as luzes que se acendem nas ruas da cidade para este tempo de alegria.Não vamos repudiar a riqueza de mensagens que se cruzam no mundo inteiro, desejando paz e felicidade. Nem vamos condenar os presentes que se trocam nesta época.Talvez pudéssemos lamentar que o comércio dos presentes tome conta da opinião pública, obscurecendo aquela que é e deve ser a idéia central do Natal: a vinda de Jesus ao coração do homem, renovada pela oração e pelos sacramentos da Igreja.O que queremos é fazer brilhar cada vez mais pura e mais forte a luz da grande notícia: Jesus nasceu em Belém para a salvação da humanidade. E essa humanidade só será feliz na medida em que for capaz de caminhar ao encontro dele.Os peritos na Sagrada Escritura nos ajudam a retificar a pontuação do texto citado de Isaías. Ele ficaria assim: “Uma voz clama no deserto preparai os caminhos do Senhor”. Somos convidados a preparar o cortejo processional da humanidade para caminharmos ao encontro do Senhor, através do deserto deste mundo.É o novo Êxodo anunciado pelo cristianismo. Temos que fugir da escravidão do Egito – símbolo de todas as escravidões que nos oprimem -e caminhar alegres ao encontro de Deus. Que beleza que é o Natal, contemplado nessa perspectiva! Um tempo de esperança e de libertação. Que ele fale bem alto para nós.Ouçamos a sonora proclamação da Liturgia: “Povo de Sião, o Senhor vem para salvar as nações. E, na alegria do vosso coração, soará majestosa a sua voz” (antífona de entrada da missa).

LEITURAS do II Domingo do Advento – Ano C:

1a) Br 5, 1-9

2a) Fl 1, 4-6.8-11

3a) Lc 3,1-6