Mc 12.38-44 (ou: 12, 41-44).O Óbolo da viúva
A Bíblia explicada em capítulos e versículos-
O Amanhecer do Evangelho-
Reflexões e ilustrações de Pe. Lucas de Paula AlmeidaO ÓBOLO DA VIÚVA

Duas simpáticas figuras de pessoas humildes iluminam as páginas da liturgia da palavra deste trigésimo segundo domingo do Tempo Comum.A primeira é a viúva de Sarepta (a Serafend do Líbano de hoje), a quem o profeta Elias pediu um pãozinho e um pouco d’água.Ela respondeu com comovente sinceridade que só tinha um punhado de farinha e um resto de óleo na ânfora, e que ia colher uns gravetos para fazer fogo e cozer aquilo para e1a e para seu filho, a fim de comerem e depois morrerem.Aí o profeta falou, em nome de Deus, que não tivesse medo: preparasse a comida para ele, e daí em diante nem faltaria farinha na sua vasilha, nem óleo na sua ânfora, até terminar o tempo da seca e voltar a cair a chuva sobre a terra. Como de fato aconteceu (cfr 1 Rs 17, 10-16).A outra figura é a da pobre viúva que Jesus viu no Templo colocando duas moedinhas no cofre das ofertas, enquanto os ricaços depositavam quantias vistosas. “Essa pobre viúva – disse Jesus – deitou no tesouro mais do que todos, pois todos deitaram do seu supérfluo, ao passo que esta, de sua penúria, deitou quanto tinha, todo o seu sustento” (Mc 12,43-44).Criaturas admiráveis como essas edificam também hoje a comunidade. Discretas, silenciosas, prolongando na saudade uma vida de trabalhos e sofrimentos, ricas de experiência e prontas a dar um bom conselho, freqüentadoras da Igreja e das cerimônias do culto, como a profetisa Ana, que aparece no quadro da Apresentação do Menino Jesus no Templo.Na primeira carta a Timóteo, São Paulo recomenda: “Honra as viúvas”. Ele se referia de modo particular àquelas “que põem sua confiança em Deus, e perseveram em súplicas e oração de dia e de noite” (1 Tm 5,3.5). Pelo testemunho dessa mesma carta, temos a confirmação de que havia nas igrejas daquele tempo associações de viúvas, às quais se confiavam algumas tarefas especiais no serviço da comunidade. Nem seria preciso dizer que só eram admitidas nesses grupos as viúvas que tivessem a seu favor o “testemunho de suas boas obras” (Ibid., v 10).As coisas mais pequeninas na sua realidade material, são às vezes imensamente grandes no seu valor moral.Tal é essa quantia tão ínfima oferecida pela pobre viúva. Ficou até proverbial como “o ábolo da viúva”, se bem que “ábolo” seja antes o nome de uma moedinha grega. O gesto dessa pobre mulher é, na verdade, algo de grande e de nobremente exemplar.Ele nos reporta à preciosa lição da Conferência do Episcopado latino-americano em Puebla, que nos ensinou que muitos pobres, pelos valores evangélicos que se encontram em suas vidas –solidariedade -, serviço, simplicidade, disponibilidade para acolher o dom de Deus – representam um forte potencial evangelizador, que nos interpela e nos chama à conversão (Doc. Puebla, 1147).Saibamos valorizar os pobres e a pobreza. Não, evidentemente, a situação de quase miséria em que muitos se encontram.Essa pobreza temos que lamentar, e combater, e superar pelo decidido empenho de implantar uma verdadeira justiça social em nosso País.Mas a pobreza como valor evangélico, vivido na simplicidade de vida, no repúdio da ganância e da ambição, na confiança em Deus, o Pai a quem pedimos o pão nosso de cada dia” e o perdão de nossos pecados, essa é digna de todo o louvor.Esses pobres, comemorados na primeira das bem-aventuranças do Sermão da Montanha, têm uma imensa capacidade de ajudar os que são pobres como eles. Sua casa é pequena, mas é capaz de acolher um punhado de vizinhos, cuja casa a chuva arrasou. É porque seu coração não é egoísta e se expande numa imensa dimensão de fraternidade. Deles é o Reino dos céus.LEITURAS do XXXII Domingo do Tempo Comum – Ano B:

1ª – 1 Rs 17,10-16.

2ª – Hb 9, 24-28.

3ª – Mc 12.38-44 (ou: 12, 41-44).

 

PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CMSegunda-feira da 34ª Semana do Tempo Comum

A ESMOLA DA VIÚVA

1) Oração

Levantai, ó Deus, o ânimo dos vossos filhos e filhas, para que, aproveitando melhor as vossas graças, obtenham de vossa paternal bondade mais poderosos auxílios. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.2) Leitura do Evangelho   (Lucas 21, 1-4)

Naquele tempo, 1Levantando os olhos, viu Jesus os ricos que deitavam as suas ofertas no cofre do templo.2Viu também uma viúva pobrezinha deitar duas pequeninas moedas, 3e disse: Em verdade vos digo: esta pobre viúva pôs mais do que os outros. 4Pois todos aqueles lançaram nas ofertas de Deus o que lhes sobra; esta, porém, deu, da sua indigência, tudo o que lhe restava para o sustento. – Palavra da salvação.3) Reflexão

*  No Evangelho de hoje, Jesus elogia uma viúva pobre que soube partilhar mais que os ricos. Muitos pobres de hoje fazem o mesmo. O povo diz: “Pobre não deixa pobre morrer de fome”. Mas às vezes, nem isso é possível.Dona Cícera que veio do interior da Paraíba, Brasil, para morar na periferia da cidade dizia: “No interior, a gente era pobre, mas tinha sempre uma coisinha para dividir com o pobre na porta.Agora que estou aqui na cidade, quando vejo um pobre que vem bater na porta, eu me escondo de vergonha, porque não tenho nada em casa para dividir com ele!” De um lado: gente rica que tem tudo, mas não quer partilhar. Do outro lado: gente pobre que não tem quase nada, mas quer partilhar o pouco que tem.* No início da Igreja, as primeiras comunidades cristãs, na sua maioria, eram de gente pobre (1 Cor 1,26). Aos poucos, foram entrando também pessoas mais ricas, o que trouxe consigo vários problemas.As tensões sociais, que marcavam o império romano, começaram a marcar também a vida das comunidades. Isto se manifestava, por exemplo, quando elas se reuniam para celebrar a ceia (1Cor 11,20-22), ou quando faziam reunião (Tg 2,1-4). Por isso, o ensinamento do gesto da viúva era muito atual, tanto para eles, como para nós hoje.*  Lucas 21,1-2 A esmola da viúva.

Jesus estava em frente ao cofre do Templo e observava como todo mundo colocava aí a sua esmola. Os pobres jogavam poucos centavos, os ricos jogavam moedas de grande valor. Os cofres do Templo recebiam muito dinheiro.Todo mundo trazia alguma coisa para a manutenção do culto, para o sustento do clero e para a conservação do prédio.Parte deste dinheiro era usada para ajudar os pobres, pois naquele tempo não havia previdência social.Os pobres viviam entregues à caridade pública. As pessoas mais necessitadas eram os órfãos e as viúvas. Elas dependiam em tudo da caridade dos outros, mas mesmo assim, faziam questão de partilhar com os outros o pouco que possuíam. Assim, uma viúva bem pobre colocou sua esmola no cofre do templo. Dois centavos, apenas!*  Lucas 21,3-4O comentário de Jesus

O que vale mais: os poucos centavos da viúva ou as muitas moedas dos ricos? Para a maioria, as moedas dos ricos eram muito mais úteis para fazer caridade, do que os poucos centavos da viúva. Os discípulos, por exemplo, pensavam que o problema do povo só poderia ser resolvido com muito dinheiro. Por ocasião da multiplicação dos pães, eles tinham dado a sugestão de comprar pão para dar de comer ao povo (Lc 9,13; Mc 6,37). Filipe chegou a dizer: “Duzentos denários não bastam para dar um pouco para cada um!” (Jo 6,7).De fato, para quem pensa assim, os dois centavos da viúva não servem para nada. Mas Jesus diz: “Esta viúva depositou mais do que todos os outros”.Jesus tem critérios diferentes. Chamando a atenção dos discípulos para o gesto da viúva, ele ensina a eles e a nós onde devemos procurar a manifestação da vontade de Deus, a saber, nos pobres e na partilha. E um critério muito importante é este: “Todos os outros depositaram do que estava sobrando para eles. Mas a viúva, na sua pobreza, depositou tudo o que possuía para viver”.*  Esmola, partilha, riqueza

A prática de dar esmolas era muito importante para os judeus. Era considerada uma “boa obra”, pois a lei do Antigo Testamento dizia: “Nunca deixará de haver pobres na terra; por isso, eu te ordeno: abre a mão em favor do teu irmão, do teu humilde e do teu pobre em tua terra”. (Dt 15,11). As esmolas, colocadas no cofre do templo, seja para o culto, seja para os necessitados, órfãos ou viúvas, eram consideradas como uma ação agradável a Deus (Eclo 35,2; cf. Eclo 17,17; 29,12; 40,24). Dar esmola era uma maneira de reconhecer que todos os bens e dons pertencem a Deus e que nós somos apenas administradores desses dons. Mas a tendência à acumulação continua muito forte. Cada vez de novo, ela renasce no coração humano. A conversão é sempre necessária. Por isso Jesus dizia ao jovem rico: “Vai, vende tudo o que tens, dá para os pobres” (Mc 10,21). A mesma exigência é repetida nos outros evangelhos: “Vendei vossos bens e dai esmolas. Fazei bolsas que não fiquem velhas, um tesouro inesgotável nos céus, onde o ladrão não chega nem a traça rói” (Lc 12,33-34; Mt 6,9-20).A prática da partilha e da solidariedade é uma das características que o Espírito de Jesus quer realizar nas comunidades. O resultado da efusão do Espírito no dia de Pentecoste era este: “Não havia entre eles necessitado algum. De fato, os que possuíam terrenos ou casas, vendendo-os, traziam o resultado da venda e o colocavam aos pés dos apóstolos” (At 4,34-35ª; 2,44-45). Estas esmolas colocadas aos pés dos apóstolos não eram acumuladas, mas “distribuía-se, então, a cada um, segundo a sua necessidade” (At 4,35b; 2,45).A entrada de ricos na comunidade cristã possibilitou, por um lado, uma expansão do cristianismo, dando melhores condições para as viagens missionárias. Mas, por outro lado, a tendência à acumulação bloqueava o movimento da solidariedade e da partilha. Tiago ajudava as pessoas a tomarem consciência do caminho equivocado: “Pois bem, agora vós, ricos, chorai por causa das desgraças que estão a sobrevir. A vossa riqueza apodreceu e as vossas vestes estão carcomidas pelas traças.” (Tg 5,1-3). Para aprender o caminho do Reino, todos precisam tornar-se alunos daquela viúva pobre, que partilhou com os outros até o necessário para viver (Lc 21,4).4) Para um confronto pessoal

  1. Quais as dificuldades e alegrias que você já encontrou em sua vida ao praticar a solidariedade e a partilha com os outros?
  2. Como é que os dois centavos da viúva podem valer mais que as muitas moedas dos ricos? Qual a mensagem deste texto para nós hoje?

5) Oração final

Ficai sabendo que o Senhor é Deus; ele nos fez e nós somos seus, seu povo e rebanho do seu pasto. (Sl 99, 3)