EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

O AMANHECER DO EVANGELHO

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

QUINTA-FEIRA, SEGUNDA SEMANA DA QUARESMA -ANO C

PARÁBOLA DO POBRE E DO RICO

É uma parábola pintada com cores muito vivas. O rico que se veste de púrpura e de linho, e que se banqueteava lautamente todos os dias ( o “epulão”). O pobre, postado à sua porta, coberto de feridas, esperando que alguém lhe desse alguma sobra da mesa do rico, e ninguém lhe dava. Até os cães vinham lamber -lhe as feridas. Depois o quadro muda.

Na outra vida, o pobre entra para a intimidade do seio de Abraão, enquanto o rico é entregue aos tormentos do inferno.

Naturalmente, porque tinha feito mau uso de suas riquezas, enquanto o pobre, na sua pobreza não tinha perdido a confiança em Deus. Seu próprio nome “Lázaro”, ou “Ele azar” significa “Deus ajuda”.

Até aqui a parábola é uma lição para que os ricos não façam mau uso de suas riquezas, e para que os pobres olhem sempre para as mãos de Deus, que não os desampara. Mas seria antievangélico imaginar que Jesus esteja ensinando aos pobres uma resignação fatalista. O pobre tem todo o direito de procurar melhorar sua sorte pelo trabalho honesto e confiante. E não permitir que sua pobreza atinja as raias da miséria, que jamais foi abençoada pelo Evangelho.

Mas a parábola tem uma segunda parte profundamente instrutiva. O rico avista o pobre no seio de Abraão, enquanto ele está sofrendo nas chamas. Então pede a Abraão que mande Lázaro molhar na água a ponta de seus dedos e vir refrescar-lhe a língua. Mas Abraão lhe responde que tal coisa é impossível, pois entre os dois mundos há um abismo intransponível.

Que mande então – pede-Ihe o rico – Lázaro avisar seus cinco irmãos, contando-lhes sua desgraça, para que fiquem prevenidos e não venham a cair no mesmo lugar. A resposta de Abraão é que eles têm Moisés e os profetas. Que os ouçam. E, quando o rico replicou que, se alguém dentre os mortos fosse até eles, certamente fariam penitência, Abraão respondeu que, se não ouviam Moisés e os profetas, mesmo que um morto ressuscitasse para avisá- los, não ficariam convencidos (cfr Lc 16, 19-31 ).

A grande lição está aí: ouvir a Palavra de Deus, que nos fala por seus profetas. Não só Moisés e os antigos profetas. Mas o Evangelho e o perene ensinamento da Igreja, que é uma ressonância do Evangelho ao longo dos séculos. “Quem vos ouve, a mim ouve; quem vos despreza, despreza aquele que me enviou”, como disse Jesus ao enviar seus discípulos para a pregação (Lc 10,16; cfr Mc 8,11 ). Não ficar esperando milagres, que não é o caminho de Deus.

Mas vale a pena deter-nos um momento a considerar a declaração de que há um “abismo intransponível” na outra vida entre a sorte do rico e a do pobre da parábola. No mundo de hoje está havendo também um profundo abismo entre o mundo dos pobres e o mundo dos ricos. É uma brecha que se alarga cada vez mais. Entre um pequeno grupo imensamente rico, e uma imensa multidão que vive em total pobreza. Um desequilíbrio doloroso que não está nos planos de Deus e que é a negação do Evangelho, onde se prega o amor e a fraternidade. E o pior é que a brecha continua a se alargar: o pequeno grupo rico se torna cada vez mais rico, e a multidão dos pobres se torna cada vez mais pobre. E o contraste se torna cada dia mais gritante. E não há leis nem sistemas econômicos que sejam capazes de corrigi-lo. Só mesmo o Evangelho, conhecido, amado, vivido integralmente, é que poderá trazer remédio a tão grande mal.

A riqueza em si não é um pecado. O pecado está muitas vezes no modo de adquiri-Ia e, freqüentemente, no modo de usá- Ia, como quando ela se torna instrumento de vaidade, de ostentação, de exploração dos outros. Alguém usou uma comparação muito apropriada.

O dinheiro é como um fertilizante: acumulado não traz nenhum proveito; pelo contrário, torna-se prejudicial e agressivo. Espalhado no solo, é extremamente benéfico. Fertiliza a terra e cobre-a de frutos. Que o homem nunca se torne servo do dinheiro; mas saiba fazer dele sempre um servo obediente e prestimoso, fonte de paz e harmonia.

LEITURAS do XXVI Domingo do Tempo Comum -Ano C:
1a) Am 6, 1a. 4-7
2a) 1Tm 6, 11-16
3a) Lc 16,19-31

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

O AMANHECER DO EVANGELHO

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM -ANO C

PARÁBOLA DO POBRE E DO RICO

É uma parábola pintada com cores muito vivas. O rico que se veste de púrpura e de linho, e que se banqueteava lautamente todos os dias ( o “epulão”). O pobre, postado à sua porta, coberto de feridas, esperando que alguém lhe desse alguma sobra da mesa do rico, e ninguém lhe dava. Até os cães vinham lamber -lhe as feridas. Depois o quadro muda.

Na outra vida, o pobre entra para a intimidade do seio de Abraão, enquanto o rico é entregue aos tormentos do inferno.

Naturalmente, porque tinha feito mau uso de suas riquezas, enquanto o pobre, na sua pobreza não tinha perdido a confiança em Deus. Seu próprio nome “Lázaro”, ou “Ele azar” significa “Deus ajuda”.

Até aqui a parábola é uma lição para que os ricos não façam mau uso de suas riquezas, e para que os pobres olhem sempre para as mãos de Deus, que não os desampara. Mas seria antievangélico imaginar que Jesus esteja ensinando aos pobres uma resignação fatalista. O pobre tem todo o direito de procurar melhorar sua sorte pelo trabalho honesto e confiante. E não permitir que sua pobreza atinja as raias da miséria, que jamais foi abençoada pelo Evangelho.

Mas a parábola tem uma segunda parte profundamente instrutiva. O rico avista o pobre no seio de Abraão, enquanto ele está sofrendo nas chamas. Então pede a Abraão que mande Lázaro molhar na água a ponta de seus dedos e vir refrescar-lhe a língua. Mas Abraão lhe responde que tal coisa é impossível, pois entre os dois mundos há um abismo intransponível.

Que mande então – pede-Ihe o rico – Lázaro avisar seus cinco irmãos, contando-lhes sua desgraça, para que fiquem prevenidos e não venham a cair no mesmo lugar. A resposta de Abraão é que eles têm Moisés e os profetas. Que os ouçam. E, quando o rico replicou que, se alguém dentre os mortos fosse até eles, certamente fariam penitência, Abraão respondeu que, se não ouviam Moisés e os profetas, mesmo que um morto ressuscitasse para avisá- los, não ficariam convencidos (cfr Lc 16, 19-31 ).

A grande lição está aí: ouvir a Palavra de Deus, que nos fala por seus profetas. Não só Moisés e os antigos profetas. Mas o Evangelho e o perene ensinamento da Igreja, que é uma ressonância do Evangelho ao longo dos séculos. “Quem vos ouve, a mim ouve; quem vos despreza, despreza aquele que me enviou”, como disse Jesus ao enviar seus discípulos para a pregação (Lc 10,16; cfr Mc 8,11 ). Não ficar esperando milagres, que não é o caminho de Deus.

Mas vale a pena deter-nos um momento a considerar a declaração de que há um “abismo intransponível” na outra vida entre a sorte do rico e a do pobre da parábola. No mundo de hoje está havendo também um profundo abismo entre o mundo dos pobres e o mundo dos ricos. É uma brecha que se alarga cada vez mais. Entre um pequeno grupo imensamente rico, e uma imensa multidão que vive em total pobreza. Um desequilíbrio doloroso que não está nos planos de Deus e que é a negação do Evangelho, onde se prega o amor e a fraternidade. E o pior é que a brecha continua a se alargar: o pequeno grupo rico se torna cada vez mais rico, e a multidão dos pobres se torna cada vez mais pobre. E o contraste se torna cada dia mais gritante. E não há leis nem sistemas econômicos que sejam capazes de corrigi-lo. Só mesmo o Evangelho, conhecido, amado, vivido integralmente, é que poderá trazer remédio a tão grande mal.

A riqueza em si não é um pecado. O pecado está muitas vezes no modo de adquiri-Ia e, freqüentemente, no modo de usá- Ia, como quando ela se torna instrumento de vaidade, de ostentação, de exploração dos outros. Alguém usou uma comparação muito apropriada.

O dinheiro é como um fertilizante: acumulado não traz nenhum proveito; pelo contrário, torna-se prejudicial e agressivo. Espalhado no solo, é extremamente benéfico. Fertiliza a terra e cobre-a de frutos. Que o homem nunca se torne servo do dinheiro; mas saiba fazer dele sempre um servo obediente e prestimoso, fonte de paz e harmonia.

LEITURAS do XXVI Domingo do Tempo Comum -Ano C:
1a) Am 6, 1a. 4-7
2a) 1Tm 6, 11-16
3a) Lc 16,19-31

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

O AMANHECER DO EVANGELHO

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

Evangelho do dia e Homilia – O amanhecer do Evangelho

O rico e o pobre Lázaro (Lucas 16,19-31)

 1) Oração

Ó Deus, que amais e restaurais a inocência, orientai para vós os corações dos vossos filhos, para que, renovados pelo vosso Espírito, sejamos firmes na fé e eficientes nas obras. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

2) Leitura do Evangelho (Lucas 16, 19-31)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Lucas – Naquele tempo, 19Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho finíssimo, e que todos os dias se banqueteava e se regalava.20Havia também um mendigo, por nome Lázaro, todo coberto de chagas, que estava deitado à porta do rico. 21Ele avidamente desejava matar a fome com as migalhas que caíam da mesa do rico… Até os cães iam lamber-lhe as chagas. 22Ora, aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. 23E estando ele nos tormentos do inferno, levantou os olhos e viu, ao longe, Abraão e Lázaro no seu seio. 24Gritou, então: – Pai Abraão, compadece-te de mim e manda Lázaro que molhe em água a ponta de seu dedo, a fim de me refrescar a língua, pois sou cruelmente atormentado nestas chamas. 25Abraão, porém, replicou: – Filho, lembra-te de que recebeste teus bens em vida, mas Lázaro, males; por isso ele agora aqui é consolado, mas tu estás em tormento. 26Além de tudo, há entre nós e vós um grande abismo, de maneira que, os que querem passar daqui para vós, não o podem, nem os de lá passar para cá. 27O rico disse: – Rogo-te então, pai, que mandes Lázaro à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos, 28para lhes testemunhar, que não aconteça virem também eles parar neste lugar de tormentos. 29Abraão respondeu: – Eles lá têm Moisés e os profetas; ouçam-nos!30O rico replicou: – Não, pai Abraão; mas se for a eles algum dos mortos, arrepender-se-ão.31Abraão respondeu-lhe: – Se não ouvirem a Moisés e aos profetas, tampouco se deixarão convencer, ainda que ressuscite algum dos mortos. – Palavra da salvação.

3) Reflexão

*  Toda vez que Jesus tem uma coisa importante para comunicar, ele cria uma história e conta uma parábola. Assim, através da reflexão sobre a realidade visível, ele leva os ouvintes a descobrirem os apelos invisíveis de Deus, presentes na vida. Uma parábola é feita para fazer pensar e refletir. Por isso, é importante prestar atenção até nos seus mínimos detalhes. Na parábola do evangelho de hoje aparecem três pessoas: o pobre Lázaro, o rico sem nome e o pai Abraão. Dentro da parábola, Abraão representa o pensamento de Deus. O rico sem nome representa a ideologia dominante da época. Lázaro representa o grito calado dos pobres do tempo de Jesus e de todos os tempos.

*  Lucas 16,19-21A situação do rico e do pobre.  Os dois extremos da sociedade. De um lado, a riqueza agressiva. Do outro, o pobre sem recurso, sem direitos, coberto de úlceras, impuro, sem ninguém que o acolhe, a não ser os cachorros que lambem suas feridas. O que separa os dois é a porta fechada da casa do rico. Da parte do rico não há acolhimento nem piedade pelo problema do pobre à sua porta. Mas o pobre tem nome e o rico não tem. Ou seja, o pobre tem o seu nome inscrito no livro da vida, o rico não. O pobre se chama Lázaro. Significa Deus ajuda. É através do pobre que Deus ajuda o rico e que o rico poderá ter o seu nome no livro da vida. Mas o rico não aceita ser ajudado pelo pobre, pois mantém a porta fechada. Este início da parábola que descreve a situação, é um espelho fiel do que estava acontecendo no tempo de Jesus e no tempo de Lucas. É espelho do que acontece até hoje no mundo!

*  Lucas 16,22A mudança que revela a verdade escondida.  O pobre morreu e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. Na parábola, o pobre morre antes do rico. Isto é um aviso aos ricos. Enquanto o pobre está vivo à porta, ainda tem salvação para o rico. Mas depois que o pobre morre, morre também o único instrumento de salvação para o rico. Agora, o pobre está no seio de Abraão. O seio de Abraão é a fonte de vida, de onde nasceu o povo de Deus. Lázaro, o pobre, faz parte do povo de Abraão, do qual era excluído enquanto estava à porta do rico. O rico que pensa ser filho de Abraão não vai para o seio de Abraão! Aqui termina a introdução da parábola. Agora começa a revelação do seu sentido, através de três conversas entre o rico e o pai Abraão.

*  Lucas 16,23-26A primeira conversa.  Na parábola, Jesus abre uma janela sobre o outro lado da vida, o lado de Deus. Não se trata do céu. Trata-se do lado verdadeiro da vida que só a fé enxerga e que o rico sem fé não percebia. É só à luz da morte que a ideologia do império se desintegra na cabeça do rico e que aparece para ele o que é valor real na vida. No lado de Deus, sem a propaganda enganadora a ideologia, os papéis são trocados. O rico vê Lázaro no seio de Abraão e pede para ele vir aliviá-lo no sofrimento. O rico descobre que Lázaro é o seu único benfeitor possível. Mas agora é tarde demais! O rico sem nome é piedoso, pois reconhece Abraão e o chama de Pai.  Abraão responde e o chama de filho. Esta palavra de Abraão, na realidade, está sendo dirigida a todos os ricos vivos. Enquanto vivos, eles ainda têm chance de se tornarem filhos e filhas de Abraão, se souberem abrir a porta para Lázaro, o pobre, o único que em nome de Deus pode ajudá-los. A salvação para o rico não é Lázaro trazer uma gota de água para refrescar-lhe a língua, mas é ele, o próprio rico, abrir a porta fechada para o pobre e, assim, transpor o grande abismo.

*  Lucas 16,27-29A segunda conversa.  O rico insiste: “Pai, eu te suplico: manda Lázaro para a casa do meu pai. Tenho cinco irmãos!” O rico não quer que seus irmãos venham no mesmo lugar de tormento. Lázaro, o pobre, é o único verdadeiro intermediário entre Deus e os ricos. É o único, porque é só aos pobres que os ricos podem e devem devolver o que roubaram e, assim, restabelecer a justiça prejudicada! O rico está preocupado com os irmãos. Nunca esteve preocupado com os pobres! A resposta de Abraão é clara: “Eles têm Moisés e os Profetas: que os ouçam!” Têm a Bíblia! O rico tinha a Bíblia. Conhecia-a até de memória. Mas nunca se deu conta de que a Bíblia tivesse algo a ver com os pobres. A chave para o rico poder entender a Bíblia é o pobre sentado à sua porta!

*  Lucas 16,30-31A terceira conversa.  “Não, pai, se alguém entre os mortos der um aviso, eles vão se arrepender!” O próprio rico reconhece que ele está errado, pois fala em arrependimento, coisa que durante a vida nunca sentiu. Ele quer um milagre, uma ressurreição! Mas este tipo de ressurreição não existe. A única ressurreição é a de Jesus. Jesus ressuscitado vem até nós na pessoa do pobre, dos sem-direito, dos sem-terra, dos sem-comida, do sem-casa, dos sem-saúde. Na sua resposta final, Abraão é curto e grosso: “Se não escutarem Moisés e os profetas, mesmo que alguém ressuscitar dos mortos, eles não se convencerão!” Está encerrada a conversa! Fim da parábola!

*  A chave para entender o sentido da Bíblia é o pobre Lázaro, sentado à porta! Deus vem até nós na pessoa do pobre, sentado à nossa porta, para nos ajudar a transpor o abismo intransponível que os ricos criaram. Lázaro é também Jesus, o Messias pobre e servidor, que não foi aceito, mas cuja morte mudou radicalmente todas as coisas. É à luz da morte do pobre que tudo se modifica. O lugar de tormento é a situação da pessoa sem Deus. Por mais que o rico pense ter religião e fé, não há jeito de ele estar com Deus, enquanto não abrir a porta para o pobre, como fez Zaqueu (Lc 19,1-10).

4) Para um confronto pessoal

  1. Qual o tratamento que nós damos aos pobres? Eles têm nome para nós? Nas atitudes que tomo na vida, sou parecido com Lázaro ou com o rico?
  2. Entrando em contato conosco, os pobres percebem algo diferente? Percebem uma Boa Notícia? E eu, para que lado tende o meu coração: para o milagre ou para a Palavra de Deus?

5) Oração final

Feliz quem não segue o conselho dos maus, não anda pelo caminho dos pecadores nem toma parte nas reuniões dos zombadores, mas na lei do SENHOR encontra sua alegria e nela medita dia e noite. (Sl 1, 1-2)

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

O AMANHECER DO EVANGELHO

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

Evangelho do dia e Homilia – O amanhecer do Evangelho

O rico e o pobre Lázaro (Lucas 16,19-31)

A parábola de Lucas 16,19-31 não é uma espécie de “geografia do céu e do inferno”, nem um ensinamento sobre a questão do “além”, da situação depois da morte. É uma parábola, cujo objetivo é provocar um questionamento, uma reflexão que leve ao entendimento da mensagem e a uma tomada de posição. De um lado, esta parábola parece dirigir-se aos fariseus (Lucas 16,14), aqueles definidos por Jesus como “amigos do dinheiro”. De outro lado, é uma advertência aos discípulos e às discípulas de Jesus de ontem e de hoje.

Uma realidade cheia de contrastes

A situação inicial é descrita apresentando os contrastes entre duas realidades: de um homem rico anônimo contra um mendigo que se chamava Lázaro (que significa “Deus ajuda”); de roupas luxuosas de púrpura e linho contra a pele coberta de úlceras repugnantes; de banquetes diários contra estômago faminto que desejava alimentar-se das migalhas que caíam da mesa; de enterro certamente com toda solenidade e pompa contra o sepultamento de um indigente; de luxo, abundância e supérfluo, de um lado, e a falta do mínino necessário para viver, do outro.

O abismo da indiferença

Uma cena comum que pode ser vista quotidianamente no palco da vida. Mesmo separados pela distância da indiferença, o rico e o pobre viveram bem próximos um do outro. Porém, o rico não vê nada, sequer percebe a presença de Lázaro. Ele vivia extremamente para si, fechado no seu mundo de bens, luxo, festa e comilança. Uma pessoa insensível ante a situação de fome, doença e dor do pobre que estava junto à porta de sua casa. Lázaro era um entre tantos marginalizados da cidade. Só os cães de rua se aproximam dele para lamber-lhe as feridas. Sua única esperança é Deus. O uso egoísta dos bens materiais cavava um abismo entre o rico e o pobre. Jesus desmascara esta realidade da sociedade onde as pessoas estão separadas por uma barreira invisível: essa porta que o rico nunca atravessa para aproximar-se de Lázaro.

Não basta ser “filho de Abraão”

Após a morte, as sortes se inverteram. Lázaro é levado pelos anjos ao “seio de Abraão”, expressão figurada para falar do banquete do Reino (cf. Lucas 13,28; Mateus 8,11). O rico está embaixo, na morada dos mortos, no meio de tormentos. Ele, que antes tinha comidas e bebidas finas à sua disposição, agora implora por uma simples gota d’água. Porém, um abismo intransponível separa os dois.

O rico da parábola crê que faz parte do povo de Deus, chamando Abraão de “pai”. Porém, não basta ser “filho de Abraão”, é preciso escutar as Escrituras e demonstrar solidariedade e justiça para com os irmãos que sofrem necessidade. O profeta Isaías, por exemplo, diz o que os filhos de Abraão devem fazer: “repartir a comida com quem passa fome, hospedar em sua casa os pobres sem abrigo, vestir aquele que se encontra nu e não se fechar à sua própria gente” (Isaías 58,7; cf. Mateus 25,35-36).

A parábola pode estar denunciando a falsa religião dos fariseus, que se dizem filhos e filhas de Abraão, mas acumulam os bens dos pobres, reduzindo à miséria muitos filhos e filhas de Abraão, irmãos e irmãs deles (cf. Mateus 23,14). Nesta posição, eles se tornam surdos ao clamor dos pobres e aos ensinamentos de Moisés e dos profetas.

Uma mensagem ética que rompe barreiras

Esta parábola é uma crítica de Jesus a um sistema opressor que gera indiferença diante do sofrimento de quem está na miséria. Os ricos insensíveis, amantes do dinheiro, não mudam seu comportamento de luxo e de esbanjamento. Sustentam uma sociedade que produz milhões de “lázaros”, aqueles que são jogados “fora dos muros” do convívio e da participação na vida.

A parábola é uma advertência e apelo à conversão dirigida a todos nós, discípulos e discípulas de Jesus. Quem escuta a Palavra de Deus não vive descompromissado com a realidade à sua volta. Quem segue Jesus vai se tornando mais sensível ao sofrimento daqueles que ele encontra em seu caminho. Aproxima-se do necessitado e, se estiver em seu alcance, procura aliviar sua situação.

A indiferença só se dissolve quando se dá passos que nos aproximam dos “lázaros” de diferentes rostos e nomes. Ao invés de levantar barreiras que dividem, somos interpelados a lutar por eliminar o “abismo” que separa os povos através do poder econômico, da suposta superioridade racial, de gênero, de crença ou cultura.

Felizes as pessoas que seguem Jesus, rompendo barreiras e atravessando portas, abrindo caminhos e se aproximando dos últimos. Elas encarnam o “Deus que ajuda” os pobres.