EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

O AMANHECER DO EVANGELHO

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

Evangelho do dia e Homilia – O amanhecer do Evangelho – Padre Lucas

V DOMINGO DA QUARESMA -ANO C

“VAI E NÃO PEQUES MAIS”

 A Liturgia, sempre sábia e elegante na sua linguagem, exprime numa das coletas do Tempo Comum esta consoladora verdade: Deus manifesta seu poder principalmente no perdão e na misericórdia (cfr XXVI domingo do T.C.).

É o que aparece de maneira muito clara na bela perícope de São João que estamos lendo neste quinto domingo da Quaresma. É o episódio da mulher adúltera. É uma espécie de encontro da justiça dos homens, frágil e incoerente, com a misericórdia de Jesus, límpida e cheia de majestoso poder.

Seria interessante notar, como o sabem todos os que conhecem a fundo o texto do Evangelho, que esta passagem falta nos mais importantes manuscritos antigos de São João, ou está deslocada para outros pontos do texto, e mesmo para o texto do evangelho de São Lucas. Mas não há nenhuma dúvida sobre a sua autenticidade. É um fragmento genuíno da tradição apostólica, que no momento oportuno encontrou seu lugar definitivo em São João, embora pelo assunto e pelo estilo seja mais provavelmente de São Lucas.

Eram os dias da festa dos Tabernáculos. Jesus estava ensinando a um grupo de ouvintes, num dos átrios do Templo. Estava sentado. Não numa cátedra solene como a dos doutores, mas num banquinho modesto, ou talvez mesmo numa esteira ou num pequeno tapete, como faziam as pessoas do povo para ouvir os mestres.

Foi quando os escribas e os fariseus trouxeram à sua presença uma mulher que ia ser executada por apedrejamento, por ter sido apreendida em adultério. Assim mandava a lei de Moisés. E eles queriam saber o que Jesus pensava disso.

Nem era preciso dizer que, tratando-se de escribas e fariseus, o que eles estavam querendo era armar uma cilada para Jesus.

Se ele respondesse que não concordava com a aplicação de tão bárbara sentença de morte, diriam que Ele era rebelde à lei de Moisés. Se dissesse que concordava, fariam ruir diante do povo sua fama de misericórdia.

Jesus não respondeu. Inclinou-se para um lado e começou a escrever no chão. Houve sempre curiosidade de saber o que é que Jesus escreveu. Espalhou – se uma hipótese – sugerida por São Jerônimo – que Jesus ia escrevendo o nome de cada um daqueles acusadores e seus respectivos pecados. Essa explicação foi até acolhida por algum manuscrito antigo. Mas o mais simples era que Jesus estava apenas rabiscando despreocupado no chão, para mostrar seu desapreço pelo que lhe diziam aqueles homens. Como acontece muitas vezes, no decorrer de uma conferência enfadonha, que alguns ouvintes se põem a garantujar numa folha de papel, em sinal de tédio. Sabem-no muito bem os que freqüentam os parlamentos.

Mas os homens insistiram na pergunta. Foi quando Jesus, aprumando-se, disse pausadamente: “Aquele dentre vós que não tiver nenhum pecado, atire a primeira pedra”. E se inclinou de novo e continuou a rabiscar no chão. Aqueles homens, um a um, se foram retirando, a começar pelos mais velhos. Jesus ficou sozinho. Na sua frente, a mulher. Ao redor, seus humildes ouvintes. Então Jesus perguntou à mulher: “Onde estão eles, aqueles que te acusavam? Ninguém te condenou?” Ela respondeu: “Ninguém, Senhor”. Vem então a palavra final de Jesus, solene e poderosa: “Eu também não te condeno. Vai! E, de agora em diante, não peques mais” (cfr Jo 8, 1-11).

É É de uma beleza cintilante essa palavra final de Jesus. É a misericórdia e o perdão, não indo contra a justiça, mas envolvendo- a e superando-a. É inacreditável a força dessa palavra: “Não peques mais!”

Certamente essa mulher nunca havia sentido tão vivo o peso de seu pecado. Mas também nunca tinha sentido a coragem de levantar-se do abismo de sua culpa.

A palavra de Jesus não era apenas uma ordem ou um conselho. Era uma força do céu que caía sobre ela para dar-Ihe a coragem da conversão. E a certeza de ser salva. Quem sabe ela não terá entrado para o grupo dos discípulos? Quem pode duvidar que ela não se tenha tornado uma santa? Na Igreja grega este evangelho é lido na festa de santas convertidas, como Santa Maria do Egito e Santa Pelágia.

 

LEITURAS do v Domingo da Quaresma -Ano C:

1a) Is 43, 16-21

2a) FI 3, 8-14

3a) Jo 8, 1-11