Um Vendaval Sagrado – (João 20,19-23)-

Domingo de Pentecostes-

A Bíblia explicada em capítulos e versículos-

O Amanhecer do Evangelho-

Reflexões, Ilustrações, Vídeo e trilha Sonora de Pe. Lucas de Paula Almeida-

  1. Oração do dia

Ó Deus, que, pelo mistério da festa de hoje, santificais a vossa Igreja inteira, em todos os povos e nações, derramai por toda a extensão do mundo os dons do Espírito Santo e realizai agora, no coração dos fiéis, as maravilhas que operastes no início da pregação do Evangelho. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.2. Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João.

20 19 Na tarde do mesmo dia, que era o primeiro da semana, os discípulos tinham fechado as portas do lugar onde se achavam, por medo dos judeus. Jesus veio e pôs-se no meio deles. Disse-lhes ele: “A paz esteja convosco!”
20 Dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se ao ver o Senhor.
21 Disse-lhes outra vez: “A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós”.
22 Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: “Recebei o Espírito Santo.
23 Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos”.
Palavra da Salvação.

3. MOMENTO DE REFLEXÃO – A Bíblia explicada em capítulos e versículos- (João 20,19-23)-UM VENDAVAL SAGRADO

São Lucas, no seu estilo lúcido e ordenado, é quem conta o que aconteceu. Manhã de domingo. O dia de Pentecostes. Cinqüenta dias depois da Páscoa, que era agora a Páscoa da Ressurreição do Senhor e que iluminava para sempre o mundo com a luz de uma nova esperança de vida e de vitória. A pequena comunidade da Igreja nascente – eram cerca de cento e vinte pessoas – cumprindo ordens do Divino Mestre, não se dispersara; e estava reunida no Cenáculo, em oração. De repente ouviu-se um forte ruído, como se fosse de um grande vendaval e encheu toda a casa onde estavam reunidos.

E apareceram no ar umas como línguas de fogo, que se dispersaram, pousando sobre a cabeça de cada um deles. E ficaram todos cheios do Espírito Santo, e se puseram a falar em línguas diferentes, conforme o Espírito lhes ia inspirando. A multidão que se reunira lá fora atraída pelo insólito rumor – eram judeus piedosos, que tinham vindo das mais diversas nações – ficaram intrigados e perguntavam como é que, sendo todos aqueles homens galileus, cada um os ouvia falar em sua própria língua. E nessas várias línguas os discípulos iam proclamando as maravilhas de Deus. Estava acontecendo o mistério da vinda do Espírito Santo, que Jesus havia prometido (Cfr At 2, 1 -11 ). Era o Pentecostes do Novo testamento.

A multiplicação das Línguas que acontecera na construção da Torre de Babei, nos confusos séculos da pré-história dos caminhos de Deus com seu povo, acontece de novo agora, mas em sentido contrário. Lá, as Iínguas se multiplicaram para confundir e dispersar; aqui se multiplicam para unir. Lá, se multiplicaram para abater a soberba dos homens í!11pios; aqui se multiplicam para premiar a humildade dos homens piedosos. Lá, a confusão das línguas provocou uma onda infinita de ira; aqui, a multiplicidade das línguas deu começo a um infinito canto de amor .

Na primeira página do Gênesis se narra que, quando o mundo era ainda a desordem do caos inicial, “o Espírito de Deus pairava sobre as águas” (Gn 1, 2). Não se falava propriamente do Espírito Santo. Era um vendaval cósmico que soprava na superfície do oceano primordial -“espírito” e “vento” é a mesma palavra hebraica “ruah” – indicando a ação de Deus que vinha promover a ordem e a vida nas obras da criação. Mas não é fora de propósito ver já aí uma alusão ao Espírito Santo, que é esse bem-aventurado sopro de Deus, que traz vida à Igreja e a cada cristão. Sem o Espírito Santo, a Igreja seria um corpo sem alma. Sem vida e sem amor. Sem a santidade da graça de Deus. Dentre os mil lugares, do Novo Testamento principalmente, em que aparece este tema, bastaria lembrarmos um: E o que aconteceu no próprio dia de Páscoa, na primeira aparição de Jesus aos discípulos reunidos.

Depois de os ter saudado com o desejo de paz e de Ihes ter dito que, assim como o Pai o enviara, Ele também agora os enviava, “soprou sobre eles e Ihes disse: Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-Ihes-ão perdoados; aqueles aos quais não perdoardes, ser-Ihes-ão retidos” (Jo 20, 22-23). É o Espírito Santo que traz a vida àquele que estiver morto pelo pecado. Traz a vida inicial no batismo e a faz recuperar a quem a tiver perdido de novo. E o Espírito Santo traz a vida em plenitude no sacramento da crisma, para que os crismados tenham a força de Deus para levarem por toda parte o testemunho do Evangelho. E está presente no sacerdócio dos Bispos e dos Padres da Igreja, para que sejam pastores do Povo de Deus. Está presente até no grande mistério da Eucaristia, onde vemos o sacerdote estender as mãos sobre o pão e sobre o vinho, invocando o Espírito Santo para que aconteça o milagre da presença real de Jesus Cristo. Como esteve presente em Nazaré para que acontecesse a concepção virginal de Maria, pela qual “o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo1 , 14) .

“Sem o Espírito Santo – escreveu com muita beleza o Patriarca Atenágoras – Deus está distante, o Cristo permanece no passado, o Evangelho é uma letra morta, a Igreja uma simples organização, a autoridade um poder, a missão uma propaganda, o culto um arcaísmo, a ação moral um agir de escravos”.

Numa palavra, a religião seria sem vida. Tudo frio e convencional.

Ao passo que – como prossegue Atenágoras -“no Espírito Santo o cosmos é enobrecido pela geração de Verbo, o Cristo Ressuscitado se faz presente, o Evangelho se faz força do Reino, a Igreja realiza a comunhão trinitária, a autoridade se transforma em serviço, a liturgia é memorial e antecipação, a ação humana se deifica”,

LEITURAS da Solenidade de Pentecostes – Ano B:

1ª – Gn 11,1-9.

2ª – Rm 8,22-27.

3ª – Jo 7, 37-39.

ORAÇÃO FINAL – Deus Todo Poderoso, que enviastes o Espírito Santo sobre os Apóstolos, reunidos em oração com Maria, Mãe de Jesus, concedei, por intercessão da Virgem Santíssima, que nos consagremos fielmente ao Vosso serviço e proclamemos a glória do Vosso Nome em palavras e obras. Por nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

O “LEMBRAI-VOS” DE SÃO BERNARDO: Lembrai-vos, ó piedosíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que a vós têm recorrido, implorado vossa assistência e invocado o vosso socorro, tenha sido por vós abandonado. Animado de uma tal confiança, eu corro e venho a vós e, gemendo debaixo do peso dos meus pecados, me prostro a vossos pés, ó Virgem das virgens; não desprezeis as minhas súplicas, ó Mãe do Verbo encarnado, mas ouvi-as favoravelmente e dignai-vos atender-me. Amém.

João 20, 19 – 23- A missão da comunidade

OLHAR DE PERTO AS COISAS DA NOSSA VIDA

No texto de hoje, vamos meditar sobre a aparição de Jesus aos discípulos e a missão que eles receberam. Eles estavam reunidos com as portas fechadas porque tinham medo dos judeus. De repente, Jesus se coloca no meio deles e diz: “A paz esteja com vocês!” Depois de mostrar as mãos e o lado, ele diz novamente: “A paz esteja com vocês! Como o pai me enviou, eu envio vocês!” Em seguida, lhes dá o Espírito para que possam perdoar e reconciliar. A paz! Reconciliar e construir a paz! Esta é a missão que recebem.

Hoje, o que mais falta é a paz: refazer os pedaços da vida, reconstruir as relações quebradas entre as pessoas. Relações quebradas por causa da injustiça e por tantos outros motivos. Jesus insiste na paz. Repete várias vezes! As pessoas que lutam pela paz são declaradas felizes e são chamadas filhos e filhas de Deus (Mt 5,9)! Vamos conversar mais sobre isso…

SITUANDO

Na conclusão do capítulo 20 (Jo 20,30-31), o autor diz que Jesus fez “muitos outros sinais que não estão neste livro. Estes, porém, foram escritos (a saber os sete sinais relatados nos capítulos 2 a 11) para que possam crer que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e, acreditando, ter a vida no nome dele” (Jo 20,31). Mais tarde, foi acrescentado o Livro da Glorificação que descreve a hora de Jesus, a sua morte e ressurreição. Assim, o que era o final do Livro dos Sinais passou a ser conclusão também do Livro da Glorificação.

COMENTANDO

João 20,19-20: A experiência da ressurreição

Jesus se faz presente na comunidade. As portas fechadas não podem impedir que ele esteja no meio dos que nele acreditam. Até hoje é assim! Quando estamos reunidos, mesmo com todas as portas fechadas, Jesus está no meio de nós. E até hoje, a primeira palavra de Jesus é e sempre será: “A paz esteja com vocês!” Ele mostrou os sinais da paixão nas mãos e no lado. O ressuscitado é o crucificado! O Jesus que está conosco da comunidade não é um Jesus glorioso que não tem mais nada em comum com a vida da gente. Mas é o mesmo Jesus que viveu nesta terra, e traz as marcas da sua paixão. As marcas da paixão estão hoje no sofrimento do povo, na fome, nas marcas de tortura, de injustiça. É nas pessoas que reagem, lutam pela vida e não se deixam abater que Jesus ressuscita e se faz presente no meio de nós.

João 20,21: O envio: “Como o Pai me enviou, eu envio vocês!”

É deste Jesus, ao mesmo tempo crucificado e ressuscitado, que recebemos a missão, a mesma que ele recebeu do Pai. E ele repete: “A paz esteja com vocês!” Esta dupla repetição acentua a importância da paz. Construir a paz faz parte da missão. Paz significa muito mais do que só ausência de guerra. Significa construir uma convivência humana harmoniosa, em que as pessoas possam ser elas mesmas, tendo todas o necessário para viver, convivendo felizes e em paz. Esta foi a missão de Jesus, e é também a nossa missão. Numa palavra, é criar comunidade a exemplo da comunidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

João 20,22: Jesus comunica o dom do Espírito

Jesus soprou e disse: “Recebei o Espírito Santo”. É só com a ajuda do Espírito de Jesus que seremos capazes de realizar a missão que ele nos dá. Para as comunidades do Discípulo Amado, Pásscoa (ressurreição) e Pentecostes (efusão do Espírito) são a mesma coisa. Tudo acontece no mesmo momento.

ALARGANDO

A ação do Espírito no Evangelho de João

A língua hebraica usa a mesma palavra para dizer vento e espírito. Como dissemos, o vento tem, dentro de si, um rumo, uma direção: vento norte, vento sul. Assim, o Espírito de Deus tem um rumo, um projeto, que se manifesta na criação. No Evangelho de João a gente vê como as profecias se realizam em Jesus. João usa muitas imagems e símbolos para significar a ação do Espírito. Como na criação, assim o Espírito desceu sobre Jesus “como uma pomba, vindo céu”. É o começo da nova criação! Jesus fala as palavras de Deus e nos comunica o Espírito sem medida. Suas palavras são Espírito e vida. Quando Jesus se despediu, ele disse que ia enviar um outro consolador, um outro defensor, para ficar conosco. É o Espírito Santo. Através de sua paixão, morte e ressurreição, Jesus conquistou o dom do Espírito para nós.

Através do batismo todos nós recebemos este mesmo Espírito de Jesus. Quando apareceus aos apóstolos, soprou sobre eles dizendo: “Recebei o Espírito Santo!” O Espírito é como água que jorra de dentro das pessoas que crêem em Jesus. O primeiro efeito da ação do Espírito em nós é a reconciliação: “Aqueles a quem vocês  perdoarem os pecados serão perdoados; aqueles aos quais retiverem, serão retidos”. O Espírito nos é dado para que possamos lembrar e entender o significado pleno das palavras de Jesus. Animados pelo Espírito de Jesus, podemos adorar a Deus em qualquer lugar. Aqui se realiza a liberdade do Espírito.

Shalôm: a construção da paz

O primeiro encontro entre Jesus ressuscitado e seus discípulos é marcado pela saudação feita por ele: “A paz esteja com vocês!” Por duas vezes Jesus deseja a paz a seus amigos. Esta saudação é muito comum entre os judeus na Bíblia. Ela aparece quando surge um mensageiro de Deus. Logo em seguida, Jesus os envia em missão, soprando sobre eles o Espírito. Paz, Missão e Espírito! Os três estão juntos. Afinal, construir a paz é a missão dos discípulos e das discípulas de Jesus (Mt 10,13; Lc 10,5). O Reino de Deus, pregado e realizado por Jesus e continuado pelas comunidades animadas pelo Espírito, manifesta-se na paz. O Evangelho de João mostra que esta paz, para ser verdadeira, deve ser a paz trazida por Jesus. Uma paz diferente da paz construída pelo império romano.

Paz na Bíblia (em hebraico é shalom) é uma palavra muito rica, significando uma série de atitudes e desejos do ser humano. Paz significa integridade da pessoa diante de Deus e dos outros. Significa também uma vida plena, feliz, abundante. A paz é sinal da presença de Deus, porque o nosso Deus é um “Deus da paz”. Por isso mesmo, a proposta de paz trazida por Jesus também é sinal de “espada”, ou seja, de perseguições para as comunidades. O próprio Jesus faz este alerta sobre as tribulações promovidas pelo império tentando matar a paz de Deus.

É preciso confiar, lutar, trabalhar, perseverar no Espírito para que um dia a paz de Deus triunfe. Neste dia “amor e verdade se encontram, justiça e paz se abraçam”. Então, como ensina Paulo, “o Reino será justiça, paz e alegria como fruto do Espírito Santo” e “Deus será tudo em todos”.

João 20, 19 – 23 – A missão da comunidade – 

A PAZ ESTEJA COM VOCÊS!

  1. OLHAR DE PERTO AS COISAS DA NOSSA VIDA

Somos convidados a meditar sobre a aparição de Jesus aos discípulos e a missão que eles receberam. Eles estavam reunidos com as portas fechadas porque tinham medo dos judeus. De repente, Jesus se coloca no meio deles e diz: “A paz esteja com vocês!” Depois de mostrar as mãos e o lado, ele diz novamente: “A paz esteja com vocês! Como o pai me enviou, eu envio vocês!” Em seguida, lhes dá o Espírito Santo para que possam perdoar e reconciliar. A Paz! Reconciliar e construir a paz! Esta é a missão quer recebem.

  1. COMENTANDO

João 20,19-21: A experiência da ressurreição

Jesus se faz presente na comunidade. As portas fechadas não podem impedir que ele esteja no meio dos que nele acreditam. Até  hoje é assim! Quando estamos reunidos, mesmo com todas as portas fechadas, Jesus está no meio de nós. E até hoje, a primeira palavra de Jesus é e será sempre: “A paz esteja com vocês!” Ele mostrou os sinais da paixão nas mãos e no lado. O ressuscitado é o crucificado! O Jesus que está conosco na comunidade não é um Jesus glorioso que não tem mais nada em comum com a vida da gente. Mas é o mesmo Jesus que viveu nesta terra, e traz as marcas da sua paixão. As marcas da paixão estão hoje no sofrimento do povo, na fome, nas marcas de tortura, de injustiça. É nas pessoas que reagem, lutam pela vida e não se deixam abater que Jesus ressuscita e se faz presente no meio de nós.

João 20,21: O envio – “Como o Pai me enviou, eu envio vocês!”

É deste Jesus, ao mesmo tempo crucificado e ressuscitado, que recebemos a missão, a mesma que ele recebeu do Pai. E ele repete: “A paz esteja com vocês!” Esta dupla repetição acentua a importância da paz. Construir a paz faz parte da  missão. Paz significa muito mais do que só ausência de guerra. Significa construir uma convivência humana harmoniosa, em que as pessoas possam ser elas mesmas, tendo todas o necessário para viver, conviver felizes e em paz. Esta foi a missão de Jesus, e é também a nossa missão. Numa palavra, é criar comunidade a exemplo da comunidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

João 20,22: Jesus comunica o dom do Espírito

Jesus soprou e disse: “Recebei o Espírito Santo”. É só com a ajuda do Espírito de Jesus que seremos capazes de realizar a missão que ele nos dá. Para as comunidades do Discípulo Amado, Páscoa (ressurreição) e Pentecostes (efusão do Espírito) são a mesma coisa. Tudo acontece no mesmo momento.

João 20,23: Jesus comunica o poder de perdoar os pecados

O ponto central da missão de paz está na reconciliação, na tentativa de superar as barreiras que nos separam: “Aqueles a quem vocês perdoarem os pecados serão perdoados e aqueles a quem retiverdes serão retidos!” Este poder de reconciliar e de perdoar é dado à comunidade (Jo 20,23; Mt 18,18). No Evangelho de Mateus é dado também a Pedro (Mt 16,19).  Aqui se percebe a enorme responsabilidade da comunidade. O texto deixa claro que uma comunidade sem perdão nem reconciliação já não é a comunidade cristã.